quinta-feira, 9 de junho de 2022

A prisão de Baumettes e os Sete Pecados capitais...


"Prefiro ser homem de preconceitos"

Rousseau





Nesta quinta-feira o Mendigo K. dava uma espécie de aula a quatro de seus comparsas, ali na padaria de sempre. Dizia ter vivido em  Cochabamba e em Marselha e conhecido lá a famosa prisão de Baumettes. Falava meio horrorizado, mas se acalmava quando descrevia os sete altos relevos que existem na entrada da prisão francesa, retratando os Sete Pecados Capitais, obra do escultor Antoine Sartório. Ia descrevendo em detalhes: A preguiça - dizia - estava representada por um homem meio sonolento; A cólera, por um homem de cócoras armado de uma faca; a avareza, por um cara segurando avidamente um pacote de dinheiro; a gula, representada por um bêbado; o orgulho, por um pavão; Eva, sendo seduzida por uma cobra, aparecia representando a luxúria e a inveja, espelhada num sujeito com olhar de fúria.

Fazia uma interrupção emocionada e perguntava: o que devem sentir os condenados quando se deparam com aquele mural?

E seguia filosofando: Camus afirmava  que o suicídio era o único problema filosófico sério. Eu afirmo que é a prisão!

Como é possível que existam prisões? Quem é que, por primeira vez, teve essa ideia esdrúxula, rancorosa e doentia? Como é possível que se siga cultivando essa sociologia do suplício? Que ainda se tolere a ideia de enjaular um homem, uma mulher, um adolescente, uma pantera!

Um colega dele pediu a palavra e, maliciosamente relacionou o nome penitenciária com penitência. Penitência+ária. Lugar onde se expia os pecados. Ah, mas então até as penitenciárias têm o DNA das religiões? O DNA vingativo da mesma turma que engendrou os Sete Pecados Capitais?

Fez-se um longo silêncio, até que um terceiro arrematou: A prisão é o signo essencial do amadorismo contido na criação e o símbolo mais explicito da ruína civilizatória. O postulado  absoluto de todo o mal. Com o argumento de deter o crime, se engendrou um ainda mais abjeto e que, além de tudo, envenena, não apenas o condenado, mas inclusive seus ideólogos, os carcereiros e tudo ao seu redor...


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