quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Racismo, xenofobia, aporofobia e outras psicopatologias...





































"Existem duas classes de compaixão. Uma covarde e sentimental que, na verdade, não é mais do que a impaciência do coração para livrar-se o quanto antes da  emoção incômoda causada pela desgraça alheia, aquela compaixão que não é compaixão verdadeira, senão uma forma  instintiva de afugentar a pena estranha da própria alma. A outra, a única que importa, é a compaixão não sentimental mas produtiva, a que sabe o que quer e esta disposta a compartilhar um sofrimento até o limite de suas forças e até mesmo além de suas forças..."
Stefan Zweig
(IN: Impaciencia del corazón, citado por Adela, nas páginas 26 e 27)


Ontem foi comemorado o dia Da Consciência Negra. Assisti a praticamente todos os eventos e a todas as manifestações a respeito. Muitos discursos mentirosos e hipócritas de brancos cretinos aproveitando a data para tirar o cu da reta... e por parte dos negros, a mesma choradeira de sempre. Há décadas, tudo se reduz a mendigar aceitação por parte das elites. Isso é ridículo! Implorar e esperar reconhecimento do opressor é submissão demais! É bizarro!
Não vi ninguém, nem mesmo entre os jovens negros, mencionar a Malcom X e nem aos panteras negras.  Lembram da frase: "você não pode odiar as raízes de uma árvore e não odiar a árvore. Você não pode odiar a África e não se odiar."?
Não vi ninguém levando em baixo do braço o livro Pele negra máscaras brancas ou Os condenados da terra, do psiquiatra da Martinica, Frantz Fanon (1925-1961). Que alienação é essa? Conhecer os processos psicopatológicos da colonização e da escravidão é crucial, para qualquer um...
Além disso, como somos o cruzamento de praticamente todas as "raças" planetárias, quem é que, entre nós, não sendo um idiota, teria moral para discriminar alguém pela cor de sua pele, de seu cabelo, de seus olhos? Começo a questionar-me se não esta havendo confusão entre  racismo e aporofobia. Ah, não sabe o que é aporofobia? Deveria saber.
Em outras palavras, o preconceito de nossas mestiças e fajutas "elites" pode ser muito mais com a pobreza do que com a cor da pele, haja visto que os negros ricos normalmente não têm nada a declarar sobre o assunto e que, quando lembram de ter sofrido alguma discriminação "racial" foi no tempo em que ainda eram pobres. Alias, a própria discriminação dos negros ricos contra outros negros (que não é pouca); ou dos brancos ricos contra outros brancos (que não é pouca); ou dos asiáticos ricos contra outros asiáticos (que não é pouca) não é pela cor da pele e nem pelo formato dos olhos, mas pela pobreza.
No recente trabalho: Aporofobia, el rechaço al pobre, da professora catedrática de Ética na Universidad de Valência, Adela Cortina, analisando o assunto naquele país, ela escreve:

1. O pobre é aquele que incomoda, inclusive na própria família, porque se vive o parente pobre como uma vergonha que não convém mostrar. Por outro lado, é um prazer exibir o parente triunfador, bem situado no mundo acadêmico, político, artístico ou dos negócios. É a fobia ao pobre (aporofobia) que leva a repudiar as pessoas, as raças e aquelas etnias que habitualmente não têm recursos e que, portanto, não podem oferecer nada, ou pelo menos parece não poder fazê-lo.

2. Claro que existem muitos racistas e xenófobos, mas aporófobos são quase todos.

3. Não se incomodam (e não discriminam) os ciganos triunfadores no mundo do flamengo, nem repudiam os investidores estrangeiros que montam fábricas de automóveis em nosso país, capazes de gerar empregos. (...) Mas, pelo contrário, as portas se fecham diante dos refugiados políticos e diante dos imigrantes pobres, que não têm o que perder além de suas correntes; diante dos ciganos que circulam pelos bairros marginais... 
As portas da consciência se fecham diante dos mendigos sem uma casa, condenados mundialmente a invisibilidade...

Adela Cortina Orts
Paidós, Barcelona, 2017

2 comentários:

  1. https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2019/12/05/interna_cidadesdf,811621/unica-docente-negra-do-departamento-de-historia-da-unb-luta-por-iguald.shtml

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  2. Como disse Gabriel o Pensador na já longínqua década de 90: No Brasil Racismo é burrice...

    https://www.youtube.com/watch?v=YtzkDf_bcjI

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