sexta-feira, 22 de novembro de 2019

E a syphilis esta de volta! Ou: uma noite com Vênus e a vida inteira com Mercúrio...

{... Quell'agente patogeno, mille volte più virulento di tutti i microbi, l'idea di essere malati...}
Proust
( Citado por Guido Fintoni, in: Medici e medicina, p. 21)






Segundo a matéria publicada hoje num jornal da cidade, uma especialista do Ministério da Saúde declara que Brasília vive uma epidemia de sífilis. Caralho! De inicio pensei que ela estivesse falando metaforicamente, mas não. 
Claro que isto não é de agora. Há uns cinco anos um taxista me relatava que várias de suas clientes, profissionais da noite, angustiadas, se queixavam que já não havia mais Benzetacil nas farmácias. Claro que a sifilis não é patrimônio apenas das mulheres da noite, mas elas, naturalmente, pela insalubridade de suas profissões, são mais vulneráveis. E os maridos infiéis - me dizia o taxista - pegam uma aqui e outra ali e depois contaminam suas "esposas"que, por sua vez, contaminam seus amantes e assim a putaria contamina o mundo... Sem falar dos copos, das xícaras, dos talheres, das linguas, dos beijos e das mãos mal lavadas...
A história da sifilis se confunde com a história da humanidade e tem até uma enredo poético. Syphilis era o nome de um pastor num poema de um signore e médico italiano de nome Girolamo Fracastoro (1530). Por falar em pastor, uma das lendas a respeito da origem da sífilis diz que ela era proveniente das relações sexuais  entre pastores e cabras, ovelhas, porcas, cachorros e etc. Para uns, trata-se de uma doença francesa. Para outros, de uma doença italiana, (Casanova, Porco Dio!), para outros veio da China. Para outros foram os navegantes portugueses, os nômades, os hippies, os vagabundos, os apátridas. Para outros se originou na Arca de Noé: Noé e suas cabras! Já esta lá no Antigo Testamento, etc, etc.  De onde veio não tem muita importância, o problema é que enquanto você tagarela por aí, nos cafés das cinco, achando que é eterno, as Treponemas pallidum e outras espiroquetas podem estar ali nas bordas da xícara, te paquerando.
O fato curioso e quase poético é que como, na medicina arcaica essa praga era tratada com mercúrio, já naquela época se costumava ironizar: uma noite com vênus e a vida inteira com mercúrio.


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