terça-feira, 12 de novembro de 2019

Os delírios de Evo Morales e os de Tupac Amaru... (El labirinto de la soledad...)


"Nascer significa a aceitação de um pacto monstruoso, no entanto, estar vivo é a única e verdadeira maravilha possível..."
Roberto Arlt

Que os delírios do Evo Morales, fossem eles: Inca/comunistas, Inca/mussolinistas, trotskistas, milenaristas, criptocapitalistas, anarcoandinos, criptopapistas ou simplesmente tribalistas, tenham sido interrompidos, é apenas um detalhe, o que realmente importa é que o México lhe tenha concedido asilo. 
Quem já viveu naquele país, principalmente na década de 80, tem agora a chance de, sem nenhuma nostalgia babaca, recordar aquele período fascinante da história. 
Como a América Latina inteira estava tomada por ditaduras cruéis e irracionais, o México tornou-se o lugar do Continente para onde todas as "personas non gratas"eram enviadas. E o México, malandramente, abrigava a todos, sabendo que estava recebendo, de graça, o que de mais utópico e exótico havia nas Américas. E a UNAM (Universidad Nacional Autónoma de Méjico) com seus maestros multinacionais e com seus alunos de todo o orbe era uma maravilha de saberes. 
As ruas fervilhavam!
Os murais de Siqueiros. 
Um bêbado gritando na porta de uma pulqueria: Por mi raza hablará
 el espíritu!
Tortillas de maíz; sopas aztecas; livraria Ghandi; livraria Allende. O museu de Antropologia, o chilli verde. A derrubada de Somoza . As idas à Isla Mujeres! O Datsun com placa do Texas. O teatro de Bellas Artes com seus hotéis paralelos... As lições de Emiliano Zapata! O deserto de Sinaloa. As aulas, Foucault! La história de la locura! Reich! Cioran. Hijos del Caos. Revista Caos! Octavio Paz e Malinche! El labirinto de la Soledad! Exilados, loucos, hippies, rebeldes, nômades, ciganos, psicanalistas, vagabundas e vagabundos de todo o mundo UNI-OS!
Los sombreros de Pancho Vila! O peyote. Os exilados brasileiros, entre eles um que era conhecido por "bom burguês". As bruxarias da Maria Sabina com seus hongos lá nas montanhas de Huautla de Jimenez! Tequila, os Mariachis, tiros na madrugada, os terremotos e todo mundo nas ruas vendo as paredes desabarem. Pimentões recheados! As múmias de Guanajuato! A Feira de Livros em Guanajuato! O cachimbo, as máscaras. o Estado de Guerrero. As minas de prata. E a Praça de Coyoacan (onde Trotsky fora assassinado) alucinando nos sábados e domingos. As meninas da filosofia e da psicanálise apaixonadas e excitadas visitando a casa  de Frida Kahlo... Ufa!
O trem, o clac, clac, clac do trem em direção às pirâmides maias! Teotihuacán. E a fronteira com a Guatemala. Alguém tocando Llorona num acordeão primitivo. A vida era e é uma festa! Sartre apareceu por lá. Também Buñuel, com suas filmadoras. Elias Canetti. Cooper e Laing. Outros loucos da Escola de Frankfurt. Marie Langer nos dava aulas e nos recebia em análise. O cigarro sempre aceso. Maternidade y sexo! Árabes e judeus! Os dois lados da Faixa de Gaza num encontro internacional. O discurso incendiário dos curdos! As brigas de galo! El Gallo de Oro, do  Juan Rulfo... Chilli verde! A festa para os mortos! Os tiroteios na fronteira com os gringos! Enfim, mesmo que o Camarada Evo Morales tenha perdido a mamata de governar para sempre e de sentir-se tão importante como o imperador Tupac amaru, deve cair na real e concientizar-se de que, como diz Arlt, estar vivo e
 ter exílio garantido no México, até o dia do juízo final, é a maior das maravilhas possíveis !
Viva Méjico! Mierda!



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