domingo, 10 de novembro de 2019

Lula, o Mendigo K e a Canção do Carrasco... (A primeira ilustração esta publicada no jornal cubano de hoje, a segunda, no The Guardian)




"El hombre se alza por encima de los demás animales únicamente porque sabe caminar sin rumbo..."
Louis Huart
(IN: Fisiologia del flâneur, p. 12)

O dia amanheceu estupendo em Brasilia. Claro que lá pelas 3 da tarde tudo por aqui voltará a se parecer com o deserto de Merzouga, mas o que importa é que agora, pelo manhã, esta uma maravilha. Até um carcará pousou na varanda de minha casa. Saudou-me com seu olhar de rapina, deu um impulso na musculatura potente de suas pernas e alçou voo.
Voltei a encontrar o Mendigo K lá na padaria da tapioca. Estava com uma camisa e um boné vermelho do Partido dos Trabalhadores e lendo A Canção do Carrasco, de Norman Mailer. De longe percebi que estava furioso. Ao seu lado uma moça de uns 20 anos, dessas que os michês e gigolôs pegam, usam e deixam na porta das padarias às 6:oo da manhã. Era uma menina delicada, aparentemente amorosa e que estava faminta. Sentei-me numa mesa ao lado. Ouvi que dizia a ela: É inadmissível a exploração política que o partido esta fazendo do Lula. Estão querendo matá-lo? É um homem que tem 74 anos e que passou 500 dias numa cadeia! Para quê todo aquele teatro e aquele circo onde uns queriam parecer mais "revolucionários" que os outros? Será que ignoram que um homem não pode sair da prisão e entrar direto numa vida normal? Será que ninguém leu Norman Mailer? A Canção do Carrasco? (aponta para o livro)
Deveria ter saído da cadeia de Uber. Em silêncio. Tomado um bom banho, pegado sua namorada e uma garrafa de cana e desaparecido por uns quinze dias. Só depois de ter respirado ar puro, de ter dado umas trepadas homéricas e se colocado ao par do que realmente esta acontecendo no país é que reapareceria para fazer um discurso e para providenciar, junto a um editor, a publicação de suas Memórias da Cadeia. E tudo isso, longe daquele rebanho sedento que, por ignorância, lhe impediu de sentir com plenitude a sensação de voltar à liberdade. A saída de uma cadeia, de um presídio ou de um isolamento qualquer é sempre um momento transcendente. O preso não deve compartilhá-lo com ninguém. É uma sacanagem e uma falta de bom senso impedir que o prisioneiro a experimente em sua solidão e em sua totalidade. É mais ou menos como a volta de um mergulhador para a superfície. Prazeirosa e urgente, mas de risco... Foi uma pena aquela multidão desvairada de puxa-sacos tê-lo impedido de ter essa experiência!
Foi um horror vê-lo saindo da cadeia com aquele olhar secreto de misantropo, um pouco senil evidentemente, direto para os abraços e gritos daquela multidão suada, carente, alienada, sedenta e desesperada. Para os abraços daquelas mulheres confusas e intrigantes que passaram a fazer com ele o que gostariam de ter feito com seus maridos, pais ou avós... Imagino o quanto deve ter ficado incomodado. 
Beijos, lágrimas, gritos, pedidos, falsidades, competições, orações, maldições, música caipira...
Uns fotografozinhos de merda disparando seus flashs para todos os lados... Um desrespeito para com um homem que, independente de seus crimes, passou 500 dias enjaulado! 
Eu, em seu lugar, teria desejado voltar para a prisão...
Ao ouvir esta última frase a menina explodiu numa gargalhada. 
Uma gargalhada ainda infantil. A gargalhada falsificada e histriônica de todas essas meninas que vivem por aí em sub-solos, como ratazanas, com suas mucosas à venda, que cobram 100 reais por uma noitada de contrações, que foram abusadas em seus estados e trazidas para cá por seus abusadores...

2 comentários:

  1. http://eziobazzo.blogspot.com/2017/04/e-lista-do-fachin-e-lista-do-janot-2.html

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  2. https://www.youtube.com/watch?v=Na_Jbuc-jGQ

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