"Hecho de polvo y tiempo, el hombre dura menos que la liviana melodia..."
Jorge Luis Borges
Nesta sexta-feira de sol abrasante encontrei o mendigo K em frente ao ministério da Previdência Social. Estava encostado nos paredões de vidro, fumando um cigarro vindo do Paraguai e segurando um cartaz que tinha como titulo:
Jorge Luis Borges
Nesta sexta-feira de sol abrasante encontrei o mendigo K em frente ao ministério da Previdência Social. Estava encostado nos paredões de vidro, fumando um cigarro vindo do Paraguai e segurando um cartaz que tinha como titulo:
NÃO A APOSENTADORIA!
E que.., em letras menores, continuava:
A aposentadoria é um exílio!
Um degredo!
Mesmo que dobrem teu soldo, aposentar-se é uma fria! Um arranjo maléfico!
Mesmo que dobrem teu soldo, aposentar-se é uma fria! Um arranjo maléfico!
Uma invenção e um truque descarado dos jovens para livrar-se dos velhos...
Realmente, a gerontocracia é uma infâmia, mas fazer o quê?
A aposentadoria é vitória da inexperiência e da ignorância sobre a experiência e o saber!
Os funcionários e os sindicalistas que chegavam, até com menos de 50 anos e loucos para se aposentarem o olhavam com suspeita e como um inimigo.
Os funcionários e os sindicalistas que chegavam, até com menos de 50 anos e loucos para se aposentarem o olhavam com suspeita e como um inimigo.
Que os sujeitos resistam e morram trabalhando! - Seguia dizendo o cartaz -
É ridículo exigir que o sujeito passe 35 ou 40 anos acorrentado numa escravidão qualquer e, de repente,
quando o cara já está fodido, mandá-lo 'passear'. Vá para casa! Descanse! Você já deu sua parte! Desfrute da vida!
Desfrutar da vida, um caralho!
É um horror deparar-se cotidianamente com um exército de velhotes troteando por aí com suas sacolas de remédios. Jogando damas com os taxistas ou enchendo o saco das balconistas dos mercados ou dos porteiros dos prédios. Os vejo aqui do alto e não escondem a marcha depressiva de quem esta sufocado pela solidão e pelo ócio e de quem não esta indo para lugar nenhum... Fodidos e soterrados por um saber acumulado que agora os intoxica! Vão falando sozinhos, com os postes, com os cachorros e com os pedregulhos onde tropeçam... Com suas camisas brancas e mal passadas param diante dos prédios, colocam as duas mãos sobre os rins e com dificuldade olham longamente para o último andar como se tivessem visto lá no alto um disco voador ou uma aparição da virgem. Outros vão com seus passinhos curtos e perigosos até a lotérica da esquina pagar a conta da luz ou comprar um remédio para suas velhas que os olham temerosas das janelas... Aposentar-se um caralho! Não seja otário!
Obrigue o Estado a suportá-lo.
E não adianta enganar-se e ir perfumada (o) e sorridente fazer bordados por aí com outras velhinhas ou com outros velhinhos gagás! Vender empadinhas nos semáforos, filiar-se a uma congregação de voluntários, ir lavar as cuecas dos padres e pentear os longos cabelos das freiras nos conventos, ir cuidar crianças dos outros quando não soubeste cuidar nem das tuas, ou sair por aí implorando outra maneira de penitenciar-se. Ridículo!
Não!
Continue indo a teu trabalho, lá onde esta sepultada toda tua saúde, toda tua rebeldia e toda tua indignação... (mesmo que seja só para enxugar gelo) mesmo que seja só com uma perna, de muletas, de cadeira de rodas, em uma maca..., da maneira que for, mas permaneça lá em tua antiga e conhecida servidão, em tua mesa de trabalho, com tuas algemas lubrificadas, com as chaves de tuas gavetas, teus fetiches, tuas neuroses e tuas senhas nos bolsos do uniforme... E que os novos escravos tenham a paciência de suportar-te até o juízo final... Mesmo que seja só por um último e senil capricho, para não dizer: ato de vingança...
Continue indo a teu trabalho, lá onde esta sepultada toda tua saúde, toda tua rebeldia e toda tua indignação... (mesmo que seja só para enxugar gelo) mesmo que seja só com uma perna, de muletas, de cadeira de rodas, em uma maca..., da maneira que for, mas permaneça lá em tua antiga e conhecida servidão, em tua mesa de trabalho, com tuas algemas lubrificadas, com as chaves de tuas gavetas, teus fetiches, tuas neuroses e tuas senhas nos bolsos do uniforme... E que os novos escravos tenham a paciência de suportar-te até o juízo final... Mesmo que seja só por um último e senil capricho, para não dizer: ato de vingança...
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