Das psicopatologias da vida cotidana... Ou: la nave de los locos...

[... O caminho até o inferno é fácil, pois é percorrido em declive, com os olhos fechados...]

Castruccio Castracani

(Citado por Maquiavel)

Ontem,  no meio da manifestação do MST e do PT em direção ao STE onde iam registrar a candidatura do LULA para a presidência da república, reencontrei três conhecidos de longa data, um deles camelô negro do Senegal que vende óculos; um escritor de cordel que virou cônego ou padre de uma igreja ortodoxa aqui da cidade e um revisor de textos, que desde a última vez que o vi transformou-se num especialista em tratamentos através dos astros e dos florais de Bach.

Enquanto íamos no meio da multidão sendo empurrados de um lado para outro, este último foi espontaneamente fazendo o diagnóstico de meus males e prescrevendo os respectivos remédios para eles. 

Curar-se? Curar-se de quê companheiro? Perguntei-lhe.

Não me respondeu. Antes de tudo quis saber qual era meu signo. Ah, sagitário!? Murmurou. O sagitariano - foi discorrendo - sofre porque vive em permanente conflito entre o céu e a terra. Como o animal de seu signo é o centauro, é fácil de entender. Já, desde a ótica dos florais de Bach, recomendou-me o uso de Agrimory, específico para aqueles que apresentam uma tortura mental através de um rosto alegre. Agrimory? anotei. Esse mesmo revisor de textos passou em seguida a fazer a apologia de uma escritora australiana que propõe a alimentação de luz para curar a maioria das desgraças do mundo. Sim, alimentar-se de luz, repetiu no meio da gritaria da turba, aquela turba que diz não suportar mais ver o Lula atrás das grades. Uma senhora gorducha chorava aos prantos como se estivesse prestes a recuperar o paraíso perdido...

Alimentar-se de luz? Gostei da idéia! E pensei logo em Paul Lafargue, o genro de Marx, aquele que escreveu um elogio à preguiça.

Isto tudo, somado ao frenesi dos manifestantes ao ouvirem os discursos (a La Fontaine) da Dilma, do Haddad, da Gleisi, da Manoela, dos que estavam em greve de fome entre outros, (o Suplici estava lá mas se conteve) me fez voltar para casa mais convicto do que nunca de que meu reino não é deste mundo e que amanhã, sem falta, darei um jeito de comprar, pelo menos, um meio litro de Agrimory...
Y la nave de los locos sigue desgovernada...