E já que se falou em cérebro, antes de ontem à noite, na mesa de uma pequena pizzaria aqui na esquina de minha casa, estavam três mulheres e um homem. A média de idade devia ser 60 anos, apesar de que uma delas parecia ter passado dos 70.
Quando o garçom lhes levou a bandeja com uma pizza portuguesa, ela, a mais próxima do juízo final, olhou atentamente para aquela circunferência e perguntou com caretas e trejeitos infantis: o que é isso? O sujeito, sentado a seu lado (tipo cuidador bundão) respondeu de imediato. É a pizza! Pizza? resmungou ela, mais cínica e manipuladora do que demente. E em seguida, apontando para a azeitona: O que é isto? Uma azeitona. Apontando para a gema de ovo: e isto. Ovo!. Ovo? O que é isto... O papo deve ter-se estendido até de madrugada...
Ontem pela manhã, fazendo o circuito ali por debaixo das árvores, caminhei por uns minutos atrás de um senhor de uns 75 que ia acompanhado de outro com uns 60. Ao passar por um prédio, o mais velho perguntou: O que é isto? o suposto filho respondeu: Ora, isto é um prédio. Prédio? Para que serve? Para morar. Morar, o que é isto? E aquilo ali? Aquilo é uma escola. Uma escola para crianças pequenas. Crianças? O que é isto? E aquilo ali? É um Bem-te-vi! Mas ele voa? E aquilo ali? É um cachorro cagando papai. Cagando? E aquilo que caiu lá? É a merda dele papai! Merda? O que é isso? Fiz um atalho e voltei para casa bem antes do que pretendia.
Não faz muito tempo visitei o marido de uma amiga que estava internado num asilo para dementes. Apesar de cobrar preços da Noruega, o ambiente era pra lá de medieval. O interno, meu amigo de muito tempo, desde o principio me tratou como se eu fosse uma visita de outro mundo. Foi mostrar-me uma orquídea pendurada numa cerca dos fundos, orquídea que as "tias" do asilo (para engambela-lo e distraí-lo) haviam deixado sob sua responsabilidade e, o mais curioso e fascinante foi que, depois de explicar-me o processo reprodutivo da família daquela orchidaceae, passou a recitar-me, em grego, uns trechos de Homero e da própria bíblia... e inclusive, a assobiar pequenos trechos da Nona Sinfonia de Beethoven...
Quê apoteose punk & insólita está a nossa espera!!!
A propósito: onde esta minha chave? Qual é minha senha? Onde estacionei meu carro? Isto é vinho ou chá de hibisco? Nasci em 49 ou a dez mil anos atrás? Já tomei os remédios de hoje? estamos em Agosto ou em Janeiro?
Estes sapatos são meus ou de meus tataravós?
É evidente que a demência é o golpe de misericórdia do "criador"contra seu servil e miserável rebanho...
Mas, afinal: a demência é um MAL ou um BEM?
Quê apoteose punk & insólita está a nossa espera!!!
A propósito: onde esta minha chave? Qual é minha senha? Onde estacionei meu carro? Isto é vinho ou chá de hibisco? Nasci em 49 ou a dez mil anos atrás? Já tomei os remédios de hoje? estamos em Agosto ou em Janeiro?
Estes sapatos são meus ou de meus tataravós?
É evidente que a demência é o golpe de misericórdia do "criador"contra seu servil e miserável rebanho...
Mas, afinal: a demência é um MAL ou um BEM?
O mendigo K a quem fiz esta pergunta me respondeu com sarcasmo e lembrando uma frase de Fernando Pessoa: Ora Bazzo, todo mundo sabe que"se o coração pensasse, pararia..."
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2018/08/14/interna_cidadesdf,700258/familia-encontra-idosa-desaparecida-depois-de-20-horas-de-buscas.shtml
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