Aqui em minha casa existe um jardim que, apesar de não
se parecer em nada com os da Babilônia, tem lá seu meio metro quadrado de terra
fértil para se semear qualquer coisa que se queira, desde um manjericão até um
cactos de xique-xique. Não sei por quê, tive um dia a ideia meio esotérica de
enfiar nele uma roseira. Não posso negar que nesses anos ela veio cumprindo
satisfatoriamente seu papel, dando meia dúzia de rosas vermelhas e perfumadas a
cada seis meses. O problema é que cada vez que ia mexer na terra, esmagar algum
formigão ou até mesmo protege-la de alguma praga, ela insistia em cravar-me
seus ferozes espinhos. Eu, que no passado até me filiei à uma seita de naturistas, sempre tolerei essa agressividade barata. Racionalizava e lembrava
a lengalenga dos ecologistas de que os espinhos e até os venenos são suas
defesas etc., etc. Só que hoje foi demais! Um espinho rasgou-me a pele da mão
direita de um extremo a outro. E por nada! Sem motivo algum! E num sábado de sol quase fascinante! Com o sangue escorrendo pelo punho de minha camisa, fui a
cozinha e voltei com um facão de quase meio metro que comprei numa feira de Katmandu.
Com dois únicos golpes reduzi a agressora a um palmo de caule esfacelado e grudado
precariamente às raízes. Claro que nesse momento ela deu um jeito de ferir-me
mais uma vez, agora, o braço inteiro. Ufa! Mas foi um alívio... Quase um
orgasmo... Suspeito que o cactos que também tenho plantado ali e que foi
trazido do sertão do Conselheiro, na próxima vez que resolver ferrar-me com
suas inúteis e quase invisíveis agulhas, terá o mesmo destino...
Nós lá do sul, apesar da vozinha de padre e da
coreografia quase de boióla, trazemos
o diabo e uma legião de demônios nas veias. E isso não é novidade para ninguém,
haja visto a proliferação de escapulários e de crucifixos que há por lá.
Em
minha infância assisti manifestações de ira e de cólera das mais terríveis e inusitadas.
Um sujeito que matou um cachorro a coices – por exemplo - porque este mijou na
varanda de sua casa. Um outro senhor que, por ter comprado uma geladeira que
não gelava, voltou à loja e lá, para espanto de todos, a destruiu completamente
com uma marreta. Um pintor de paredes que ao ver uma borboleta ficar grudada
no teto recém pintado, jogou a lata de tinta inteira sobre ela... Um agricultor
que tocou fogo em seu caminhão porque este se negava a sair de um atoleiro... Um
jagunço que descarregou seus dois revólveres na cabeça de seu cavalo depois de
levar um coice...
E estas são apenas as que me vêm à memória neste momento de êxtase, mas
foram muitas... Se a hipótese da combustão
espontânea tivesse realmente algum fundamento, muitos de nós já teríamos
pegado fogo no meio de um desses surtos...
Quem mandou cuidar da rosa sem a dedicação necessária? (Ela geraria a atenção ...)
ResponderExcluirCuide de si, pois a combustão parece-me inevitável.
li que a combustão espontânea tem uma explicação lógica: acúmulo de peido dentro do corpo.
ResponderExcluirEnquanto esses ataques de fúria for em relação às plantas, objetos inanimados e animais irracionais, apesar de todas as críticas ainda permanecerás vivo e solto, pior é assistir dois homens se digladiarem em uma reunião de condomínio como se fossem moleques de rua...
ResponderExcluirDepois de quatro anos reformando um apartamento velho que adquiri no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, no final da reforma tive vontade de vendê-lo ao conhecer o síndico e sua quadrilha de porteiros... Não sei o que me incomoda mais, se é ver os porteiros extorquindo as pessoas para entrarem no condomínio, ou tê-los visto na varanda do meu apartamento com o próprio síndico segurando a escada para eles subirem por fora... Até hoje não sei o que ele faziam ali... O diálogo com o quadrúpede do síndico é impossível, porque o esquizofrênico deve achar que todos são surdos, só fala aos berros, agressivamente, com a intenção de intimidar a outra parte, e dessa forma ele se mantém no "poder" e bate no peito dizendo que quem manda ali é ele... Os dois capangas que ele colocou para trabalhar no condomínio completam o circo... Eu sou o alvo preferido desses machistas, porque sou solteira, independente e moro sozinha... Desde que iniciou a obra que eles tentam me extorquir aqui e ali, mas já conhecendo a índole dessa corja nunca os peço para fazer nada... O tal do síndico já o deixei inúmeras vezes gritando sozinho no hall do elevador, e subi pelas escadas, afinal quando um não quer, o outro fica que nem babaca... Por diversas vezes pensei em alugar o imóvel e mudar-me daquele antro, vou fazê-lo, mas não agora... Além disso, sei muito bem que eles não estão ali por acaso, e que foram devidamente plantados para me dar prejuízos e atazanar o meu juízo, então eu os evito - saio e entro pela porta dos fundos do prédio, a que eles dizem ser dos empregados, dessa forma eu não os vejo e vice-versa... Há quinze dias o valentão do síndico implicou com um rapaz novo no condomínio, só que dessa vez se deu mal, ele não conseguiu intimidar o rapaz apenas com seu poder de voz, e a porrada rolou, terminando com o babaca com uma gravata no pescoço, apesar de bem mais jovem o rapaz era lutador... O quarteirão inteiro ouviu os berros alucinados do idiota, e eu não posso deixar de admitir que adorei o resultado... Tive vontade de descer e agradecer ao rapaz, porém eu mesma continuo vulnerável à estupidez do desvairado do síndico e da sua corja de bandidos...