Nesta última semana o tomate monopolizou os noticiários e a pança. O
papo nas feiras, a tagarelice das donas de casa e dos maitres e até dos
filósofos de bancas de jornais não iam além desse assunto, como se uma tolice
dessas tivesse tanta ou mais importância que, digamos, o quinto dia da
criação... Os economistas ocuparam suas pautas com esse assunto e falavam dele
com o mesmo virar de olhos que os poetas quando falam de rouxinóis...
Esqueceram as pedras nos rins, toda a química e toda a pesticida que está criminosamente embutida nas entranhas desse alimento. Deixaram pra lá os supostos mísseis da Coréia, os 210
homicídios aqui do DF, só nos primeiros três meses do ano; esqueceram a
paralisia nacional; a vampiragem das companhias telefônicas; o morticínio nas
estradas; o silêncio sepulcral do Congresso Nacional diante de todo o caos
latejante... e diante do esquartejamento do país... A turba esqueceu da falência
quase secular dos hospitais; da indústria vil dos medicamentos; da falta de
higiene generalizada tanto nos botecos como nas UTIS... enfim, os tomates, essa
metáfora de culhões, ofuscaram até o óbito da Thatcher e se sobrepuseram a
todas as nódoas do bando assim como à insalubridade do cotidiano... Dizem
que está caro, caríssimo, inacessível, que contrabandistas até estão indo
busca-lo em sacos e mais sacos na fronteira com a Argentina, para economizar uns
centavos... uma vez que sem o licopeno, o potássio, o fósforo e outros
elementos milagreiros que dizem haver nele, a culinária nacional pode
descambar... Que é ele que evita câncer de próstata, que melhora a pele, que
revigora o cérebro, que dá mais vigor às ereções e que fez pela culinária
italiana mais que Leonardo da Vinci pela arte, etc. Os barões do agronegócio
assistem a tudo rindo e coçando o saco... Não sei se lembram, mas a dona do Ketchup
até concorreu recentemente à Presidência dos EEUU. Pura histeria! Inclusive,
porque houve época em que, pelas suas correlações com a Mandrágora, a Europa o
considerava um "fruto" venenoso. Como a batata, o milho, o cacau, o
fumo etc.,, também foi pirateado dos incas, pelos invasores... Enfim, um teatro
patético sobre o nada! Sorte que já estamos cansados de saber que, para os salafrários, há em toda miséria o mesmo pranto...
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