domingo, 28 de julho de 2024

Da ferrovia Madeira/Mamoré à Rota da Seda...

 


"Quantos indivíduos são como os cães que andam à 

procura de um dono!"

Mme Swetchine







Neste último domingo de julho, a discussão dos mendigos ali na padaria da esquina girava ao redor da antiga e da Nova Rota da Seda e da mítica Ferrovia Madeira Mamoré... Dois assuntos que, pelo menos a mim, invocam de imediato uma gama de sentimentos excitantes e primitivos... O Mendigo K, aproveitando a ignorância dos outros mendigos, garganteava que nos diários de seus ancestrais, havia relatos de caravanas que saiam de Dalian (pra lá de Beijing), desciam até Hanoi, daí para Singapura, Gwadar, no Paquistão, até chegar em Istambul... E que as mocinhas mais jovens, faziam todo o trajeto levando preso aos cabelos um ramalhete de uma flor vermelha e silvestre colhida nas montanhas fronteiriças do Cazaquistão...
O garçom (dentro de sua singeleza e de seu nacionalismo caprino & religioso) se intrometeu (com um certo orgulho) para lembrar que o Brasil está sendo convidado para participar da Nova rota da seda...
Um dos mendigos, o mais esfarrapado de todos pediu a palavra e com uma certa violência, introduziu na discussão a malograda odisseia da Ferrovia Madeira/Mamoré. 
Nova Rota da Seda.., um caralho! 
Tudo bem - amenizava -, pensar na Rota da seda é uma maravilha... Aquela gente descendente de Cain se lançando pelas estradas montanhosas do mundo sem saber realmente onde queriam chegar... Cada um carregando seus sacos de pequenas porcarias, pimentas, espadas, ópio, trapos, flautas, cachimbos, sofrimentos, chá, tarôs, rolos de tecidos... Mercadoria que da boca do bicho-da-seda iria parar no corpo trêmulo e sensual das iranianas, das gregas, turcas, venezianas...
Mas... e Madeira/Mamoré? Aqui sob nossas barbas? 
A famosa Ferrovia do Diaboabandonada desde 1912? Projeto semelhante àquele (só que bem sucedido) que vai até hoje de Bangkok à Birmânia?
Ninguém abre bico sobre o fracasso da Madeira/Mamoré!?
Como é possível que há mais de 100 anos, se mantenha esse silêncio sobre esse projeto, no qual se jogou tanta gente e tanto dinheiro??? Vocês já foram à Rondonia? À Guajará-Mirin? - Indagou, teatralizando indignação -. A prova ainda está lá, tudo apodrecido e apodrecendo...
E concluiu: Culhões, camaradas! Um país que não tem estradas de ferro é um país de gente que não tem culhões... (e que tem um imaginário pobre e suburbano...)


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