sexta-feira, 21 de junho de 2024

Várias... 1.


1. Se você é daqueles que engrossa o coro dessas donas de casa que não param de encher o saco com o preço das batatas e do feijão.., tente ir comprar um jogo de cordas para seu violino: A mais 'barata', 388 reais. O vendedor, o clássico escravo contemporâneo, tenta justificar: é que esta é fabricada na Austria! E esta aqui, então, importada da Alemanha, que custa 1000 reais!? Por fim, me oferece a nacional, por 48 reais, mas previne: é como passar o arco numa cerca de arame farpado... Duvido que alguém consiga tocar Albinoni nelas... O Mendigo K que folheava uma partitura japonesa por lá se intrometeu na conversa para perguntar: mas e a tal indústria nacional, com todos os subsídios que recebe e com a choradeira perpétua de sempre, como é que não consegue produzir umas míseras e decentes cordas de violino? Ao que o vendedor respondeu: Ora!, não consegue nem produzir aspirinas e repelente de mosquitos...

2. No Rio de Janeiro, precisamente numa rua de Duque de Caxias, os buracos do asfalto estão sendo tapados com pedaços de lápides nas quais, até aparecem fragmentos dos nomes dos defuntos e das datas em que eles chegaram e partiram deste hospício... (o simbolismo da ação, além de fantástico é sobrenatural!). De onde estaria saindo aquela matéria prima? Por enquanto todo mundo finge não saber... ninguém sabe e ninguém viu nada. Claro, só a clandestinidade lapidária nos une! Seria, finalmente, o princípio do desejável fim dos cemitérios? Estaria nascendo um novo condomínio por lá? Os cineastas de Ipanema e do Leblon (mesmo os exaustos, os que ainda não conseguiram jubilar-se e que hibernam em grupo sob a solidão dos caramanchões de orquídeas) já estão pensando em, numa sessão espírita, convidar o Zé do Caixão para outro Curta metragem... filme que, em homenagem a Eça de Queiroz, levaria o título: Austeridade da nódoa. Enquanto isso, dos morros e do mar ao redor, só se ouve o matracar dos fuzis e os gritos do sujeito que, no meio de balzaquianas de Ipanema e de gringos deslumbrados, com os pés enfiados nas areias, vende refrescos feitos artesanalmente' nos fundos de casa e sem o consentimento da ANVISA: Olha o chá!!! Olha o mate gelado!!! Look at iced tea! E a miséria não tem fim...



3. E Brasília.., agora, além de tudo o que vocês já sabem dela, passou a ter, aos domingos, também um bando de idiotas que das dez da manhã até o fim da tarde, resolveram tocar tambores. Simplesmente bater aqueles pedaços de madeira ou as próprias mãos no couro dos tambores. E são muitos, e não param... Fui ver aquele horror de perto e tive que conter-me... O Mendigo K, que também assistia, apontou-me uma moça que estava entre aquele bando e murmurou-me: veja como, apesar de tudo,  Elle a la bêtisse mélancolique d'un ange!!! Inacreditável! Essa barulheira depõe até contra a inteligência nacional! O que esses idiotas teriam na cabeça? Ou serão surdos? E a barulheira é tão insuportável que os velhinhos mais neurastênicos (sim, eu sei, dizer velhinhos neurastênicos é um pleonasmo), que precisam fazer la siesta depois da feijoada, precisam fechar as persianas e até janelas... se quiserem tirar uma soneca. (Sim, eles sabem que um belo dia dormirão para sempre e que, como dizia Borges, a morte, além de ser o sono mais profundo de todos, não oferece nenhum risco de pesadelos...)


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