"A hora melhor para vir ao jardim é qualquer hora - contanto que não se olhe para a flores. Não tenho afeição nenhuma às flores, parecem-me mesmo próprias mais para defuntos: trescalam em excesso e dão demais a idéia de nossa efemeridade..."
Tenho recebido diversas mensagens de gente que quer saber o que o Mendigo K pensa do caso lá de Poços de Caldas, Minas Gerais, a respeito do médico e da enfermeira que foram delatados por estarem 'fazendo sexo' durante um plantão.
Por sorte encontrei o Mendigo K. lá na padaria de sempre e lhe coloquei a questão, à qual ele me respondeu categórico: Não, não há solução! A espécie, depois que passou a andar sobre duas patas, não consegue mais livrar-se da repugnância e do pré-conceito contra o desejo e contra à sexualidade. Contra a própria e contra a dos outros!
E prosseguiu:
O fato desse médico e dessa enfermeira terem sido espionados trepando no meio de um plantão, ao invés de causar espanto e repugnância nos manés de plantão e no pobre paciente que os denunciou, (e de agora, estarem sendo satanizados e punidos pela polícia sanitária, essa gente que só admite o gozo se for no interior do lar, autorizado por um cônego e para manter estável as estatísticas do rebanho no planeta), deveria ter deixado o paciente bisbilhoteiro e o vilarejo inteiro mais confiantes na competência, na vitalidade e na dedicação daqueles dois profissionais, inclusive para curá-los. Porque um dos principais critérios para avaliar o grau de sabedoria, de saúde e de capacidade de alguém na ajuda aos outros, deveria passar sempre pelo grau de satisfação sexual deles...A máxima de que [onde se ganha o pão não se deve comer a carne], é uma idiotice tribal. Dificilmente um profissional (da área que for) mas principalmente da saúde, será de confiança e de alguma valia para o paciente se não tiver, ele próprio, uma vida sexual prazeirosa, gozosa e exuberante. Portanto, o crime não é do casal em questão, mas do beócio que os denunciou e da comunidade que os está satanizando. Se Hipócrates e os sábios do SUS, esqueceram de mencionar esse detalhe lá nos arcaicos protocolos dos ambulatórios, porque não pensar agora em incluí-lo?
E que se passe, com certa urgência, a distribuir nas escolas, nas igrejas e nas faculdades o texto de Wilhelm Reich intitulado: Da função do orgasmo e da praga emocional...
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EM TEMPO: Como o fato aconteceu lá num hospital do interior de Minas Gerais, isso me incentivou a revisitar a obra de Campos de Carvalho (um dos escritores mas fascinantes daquele estado e do país), apesar dos cretinos e invejosos das letras insistirem em mantê-lo no anonimato:
1. "O que eles não compreendem é que uma coisa é o estômago e outra é a consciência, ou se tem ou não se tem, não se apaga uma alma como se apaga um fósforo ou mesmo um incêndio, cada um sabe o que lhe vai por dentro, o resto é demagogia..."
2. "Há toda uma tragédia rugindo por entre as nuvens e pedem que brinquemos de criança porque é o dia de Pentecostes...?"
3. "Essas crianças de hoje só pensam em fazer outras, de transviadas mesmo é que não têm nada, todos os caminhos levam a Roma e à fornicação, ou então me mostrem outro mapa..."
4."Tudo são buracos, dizia um velho professor de vernáculo, hoje num deles..."
5. "Meu habitat nada tem a ver com este universo em que respiro, seria o mesmo que confundir a luz e a sua lâmpada, o morto e o que foi e continua sendo a sua consciência: por trás destes óculos existem o troglodita e o seu tataraneto, e o tataraneto do seu tataraneto e ainda o meu bisneto e o seu bisneto, até o homem das cavernas do século XXX..."
6. "Por nossas veias corria o esperma em vez de sangue: ceifavam-se muito mais vidas sob nossos testículos do que nas fileiras inimigas...
7. A filha-noiva da dona da pensão masturbava-se com todos os dedos, de dia tocava umas valsas dolentes no piano, uma tarde me ofereci para tocarmos a quatro mãos, molhei-me as calças: o noivo presente..."
8. "Foi-se o tempo em que a inocência tinha um metro e pouco de altura, eu é que não vou nessa conversa: a filha do delegado tem pouco mais do que isso e eu que o diga! A inocência, minhas senhoras meus senhores, ou morre-se com ela ou então é que ela nunca existiu; isso de corrupção de menores é tão crime quanto a corrupção de maiores, e não se faz outra coisa desde que o mundo é mundo. Acredito mais na inocência de uma avó do que na de mil netos - só que a avó não me interessa..."
9. "Dize-me com quem andas ou te darei um tiro!"
10. "O tamanho de um homem é o do seu caixão (...) Aqui somos todos aspirantes a defunto...
11. "Às vezes copulava-se na própria terra, um buraco cavado com os dedos, o indicador ou o médio, os dois, conforme o diâmetro: o diabo era a sensação de incesto que não se podia evitar: a tal da mãe pátria..."
12. "Cada bala deveria trazer o nome de seu herói..."
13. "Subo-me aos ombros para atravessar essa vau de silêncio, já me aconteceu antes e não acordei depois, é uma espécie de levitação sem o corpo, estou mais alto do que o velho e a sua torre: desabarei sobre mim como um castelo de cinzas..."
14. "Onde fica o mictório nesta...: é sempre lá no fundo? Não mudam nunca, até parece que existe uma convenção a esse respeito, é sempre de costas para a rua, a gente tem que urinar para cima para não acabar urinando no bolso..."
15. "Na hora da morte é preciso que haja ao menos um espelho em frente, para que a gente não se sinta terrivelmente só..."
16. "Sinto asco das coisas mas ao mesmo tempo certa piedade, é como se tudo e eu fizemos parte de um só mundo, perdido e sem esperança, porém inocente, Isto não me impede de urinar sobre o que deva ser urinado, muito pelo contrário..."
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