sexta-feira, 28 de junho de 2024

Eça de Queiróz e a superioridade de Buda sobre Jesus...

 


JESUS - Foi um proletário, um mendigo sem vinha ou leira, sem amor nenhum terrestre, que errava pelos campos da Galileia, aconselhando aos homens a que abandonassem como ele os seus lares e bens, descessem à solidão e à mendicidade, para penetrarem um dia num reino venturoso, abstrato, que está nos Céus. Nada sacrificava em si e instigava os outros ao sacrifício - chamando todas as grandezas ao nível da sua humildade.

BUDA - Pelo contrário, era um príncipe, e como eles costumavam ser na Ásia, de ilimitado poder, de ilimitada riqueza: casara por um imenso amor, e daí lhe viera um filho, em quem esse amor mais se sublimara: - e este príncipe, este esposo, este pai, um dia, por dedicação aos homens, deixa o seu palácio, o seu reino, a esposada do seu coração, o filhinho adormecido no berço de nácar, e, sob a rude esta estamenha de um mendicante, vai através;es do mundo esmolando e pregando a renúncia aos deleites, o aniquilamento de todo o desejo, o ilimitado amor pelos seres, o incessante aperfeiçoamento na caridade, o desdém forte do ascetismo que se tortura, a cultura perene da misericórdia que resgata, e a confiança na morte.

Jesus diz: "Eu sou filho de Deus, e insto com cada um de vós, homens mortais, em que pratiquei o bem durante os poucos anos que passais na Terra, para que eu depois, em prêmio, vos dê a cada um, individualmente, uma existência superior, infinita em anos e infinita em delícias, num palácio que está para além das nuvens e que é de meu Pai".

Buda, este diz simplesmente: "Eu sou um pobre frade mendicante, e peça-vos que sejais mais bons durante a vida, porque de vós, em recompensa, nascerão outros melhores, e desses outros ainda mais perfeitos, e assim, pela prática crescente da virtude em cada geração, se estabelecerá pouco a pouco na Terra a virtude universal!"

A justiça do justo, portanto, segundo Jesus, só aproveita egoisticamente ao justo. A a justiça do justo, segundo Buda, aproveita ao ser que o substituir na existência, e depois ao outro que desse nascer, sempre durante a passagem na Terra, para lucro eterno da Terra.

Jesus cria uma aristocracia de santos, que arrebata para o Céu onde ele é Rei, e que constituem a corte do Céu para deleite da sua divindade - e não vem dela proveito direto para o mundo que continua a sofrer da sua porção de mal, sempre indiminuída.

O Buda, este cria, pela soma das virtudes individuais, santamente acumuladas, uma humanidade que em cada ciclo nasce progressivamente melhor, que por fim se torna perfeita, e que se estende a toda a Terra donde o mal desaparece, e onde o Buda é sempre, à beira do caminho rude, o frade mendicante...






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