domingo, 30 de junho de 2024

E... Paris se rende à família LE PEN... La vi en rose...











Neste domingo de eleições, meu correspondente em Paris, às 6:00 da manhã, já estava se infiltrando pela ruelas de Saint Michel registrando o movimento das urnas e,  - segundo ele - a vitória inevitável da família Le Pen.  La droit! A verdadeira essência da França. Muitos velhinhos da velha e romântica esquerda, magrinhos e histriônicos, uns até com broches da era staliniana pregados nos blusões, se deslocam emocionados de Belleville a Montmartre com o Titulo eleitoral no bolso, fumando e interpelando até as domésticas sul americanas ou portuguesas que levam os cachorros das madames a passear: Vive La France! Vive la Republique! Vive la Liberté! Cada vez mais apressados, como se estivessem indo para algum lugar, sobem para às margens do Sena onde os bouquinistas, mastigando seus charutos, já abrem seus baús e arranjam as prateleiras. Expõem suas obras raras e esperam por grandes vendas. Não tanto por amor à arte, à literatura e à cultura, mas por l'argent... Livros da famosa Revolução de 1789, Marx, Lênin e Robespierre. Imagens da Bastille, um jornal da época com uma guilhotina instalada na Praça da Concórdia, na primeira capa, exibe a cabeça (de 37 anos) de Maria Antonieta jogada num cesto! Os sinos de Notre Dame badalam... Todo mundo se lembra do corcunda que vivia lá, no meio daquelas gárgulas demoníacas... Ah Victor Hugo! O deputado Victor Hugo! Logo ao lado, o Rio Sena (higienizado para as olimpíadas), já com um bateau mouche repleto de patetas do terceiro mundo! Vive la France! Do outro lado da rua o cheiro do café das arábias e da Colombia, com os punks e os clochards de sempre cheirando a beauojolais e se movimentando em busca de sobras. Faz frio! O fumacinha do falafel saindo de uma birosca judia. Judía ou marroquina? O proletariado sobe apressado as escadarias do metrô e vai dando vida à cidade. Trabalhar! Ganhar a vida! Mil vezes em Paris como escravos do que lá na colônias como classe média! Dos janelões de um apartamento de 400 metros quadrados da margem direita, se ouve sair desde as choradeiras melancólicas de Edit Piaf até as do horror delirante da Marselhesa. Ah!  O tabernáculo das urnas! Os jacobinos! Ah! A art nouveau! O Museu de cera! Madame Thousand! As balzaquianas do Bois de Boulogne! Proust, e o tempo perdido! A cidade vai tomando ares de festa. Quatro adolescentes vestidas de preto, duas alemãs e duas nativas, vão fumando ao Pere lachaise levar flores à tumba de Jim Morrinson... E lá no Museu d'Orsay, a estupenda pintura A ORIGEM DO MUNDO, de Courbet... Os franceses adoram uma mise-en-scène cult/revolucionária (principalmente agora, que estão sendo pisoteados pelo norte-americanos) e detestam quem os faz lembrar de que só tomaram a Bastille quando nela havia apenas 14 presos... Meu correspondente, afastado dali, pede mais um café com 4 madeleines (naquele formato de concha) no Les Deux Magotos, local onde Sartre, Simone e outros mitos costumavam exibir-se para a plebe operária. É Paris! Ganhe a direita ou ganhe a esquerda (que direita e que esquerda?) Paris será a mesma! Ah! a trilogia demagógica da fraternité, egalité liberté...  La vi en rose... E os mandarins também... E a festa continuará... O resto é folclore para tornar a vida e o circo, um pouco mais suportáveis... (ou um pouco menos insuportável!)







2 comentários:

  1. https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2024/06/6888433-extrema-direita-vence-1-turno-das-eleicoes-legislativas-na-franca-segundo-estimativas.html

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  2. https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2024/07/6888575-franca-ultradireita-dispara-nas-eleicoes-e-macron-pede-alianca-democratica.html

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