Das urnas eleitorais às urnas funerárias...

"Falam-lhes de patriotismo, 

de patrimônio sagrado, 

a vocês que nada possuem..."

Zo d'Axa

É impressionante que se esteja há mais de dois anos discutindo sobre as eleições e sobre as tais Urnas Eleitorais. Sobre a "segurança" das Urnas Eleitorais. E a discussão não é feita apenas por paus d'água, Desocupados e vadios por Convicção, aí pelos botecos. Não, é feita pela Presidência da República, por Generais cheios de estrelas e pela Suprema Corte. Gente que, pelo menos economicamente, habita um Meridiano bem diferente da imensa maioria do formigueiro.

Para nós, - dizia o Mendigo K - desde sempre, o problema não são as urnas eleitorais, mas as urnas funerárias. Pouco nos importa a maneira como se conta os votos, ficamos indignados é com o fato de até adolescentes (semi alfabetizados, alguns, entre os mais prodigiosos, ainda leitores do Capitão Marvel e do Pato Donald) estarem dando uma procuração em branco a velhos visivelmente trapaceiros. Ah, a gerontocracia! Mas, já que só se fala em Eleições, em Representantes do Povo e em Democracia, pelo tipo de gente que está no páreo, por suas propostas e por suas fichas corridas, seria muito mais econômico, rápido e fácil, elegê-los pela Loteria, como se faz semanalmente com a Sena Esportiva ou com o Jogo do Bicho...

No tédio do confinamento, mesmo que não se queira, se acaba ouvindo e vendo esses senhores fazendo propaganda de suas candidaturas, de seus planos e de seus projetos. Ah, e é a mesmice medíocre de sempre! Às vezes até pior que as anteriores, por ser agora temperada com bravatas modernistas. Como diria Borges: la diversa entonación de algunas metáforas...

Como ter 72 anos e suportar, pachorrento e impassível, esse espetáculo de marionetes? 

E é curioso ver que todos procuram respaldar suas mentiras e promessas em Deus e na Família. Ora, quem trabalhou 30 anos com pacientes acometidos de transtornos mentais sabe, e muito bem, que são exatamente essas duas entidades as principais geradoras e desencadeadoras dos transtornos. Portanto, não sejam cabotinos!

Mas a propaganda que mais me incomoda e que mais me tira do sério é aquela de um sujeito que diz: O que o povo precisa é trabalho, comida e dinheiro no bolso! Ora, isso se poderia dizer até mesmo das necessidades de um cavalo! De um porco! De uma anta!

Quê mentalidade de subúrbio! E que filosofia da miséria!

E as estradas de ferro?

E as horas sagradas de la siesta?

E o país de Jauja, com suas fontes e rios de vinho? Com aquelas florestas imensas, o arvoredo iluminado e repleto do alfajor, que sempre nos prometeram???