sábado, 13 de fevereiro de 2021

Sábado inglês! Dia de faxina...


Hoje, sábado, 13 de fevereiro. Na minha infância, ficava intrigado ao ouvir os comerciantes e as donas de casa falando em Sábado inglês. Eles, remarcando os preços das sardinhas e dos sacos de café, e elas, na fúria doméstica, agarradas aos rodos e ao baldes e torcendo para que, no final da tarde, a embriaguês de seus maridos fosse tanta que, quando voltassem, cheirando a salame, cachaça e charutos, não precisassem abrir as pernas para eles. Afinal, era Sábado! Sábado inglês? Que porra era aquilo?

Nunca descobri. Como hoje é sábado e a pandemia continua no auge, resolvi fazer uma faxina em casa. Quê furada! Pela quantidade de cabelos que encontrei enroscados em baixo dos sofás e das camas, é quase um milagre que não esteja careca como uma abóbora. De onde apareceram essas merdas todas? De amantes imaginárias? E a poeira? Há um mês chovendo e, mesmo assim, a poeira continua circulando pelo planeta como se estivéssemos vivendo às margens do deserto de Gobi.

No auge do esgotamento, volto a pensar nas mulheres, nas donas de casa. Como é que se submeteram a uma merda e a uma escravidão dessas durante séculos, sem dar um pio? E em troca de um miserável matrimonio? De meia dúzia de filhos? De um babacão que achou mais cômodo pagar a uma só, por toda a vida, o que pagava a muitas, por instantes?

No auge da consciência politico/existencial, um sujeito que comprou meu último livro e que - segundo ele - está na página 704, ligou-me para dizer que encontrou algumas palavras faltando um s ou um acento agudo e algumas vírgulas fora do lugar.

Encostei o rodo na cristaleira que minha bisavó trouxe no porão de uma caravela vinda de Fonzaso, empurrei o balde com os pés e lhe lancei a ironia de um dos escritores mais brilhantes dos últimos dois séculos: "meu amigo, ao contrário de meus colegas, não creio que uma das minhas vírgulas constitua o centro do sistema solar".  Ele tossiu e desligou.

Uma dor na musculatura das costas. O cabo do rodo enroscou num jarro de terracota que me foi trazido da cochinchina, com a Grande Muralha em vermelho e em circunvoluções e uma frase do Kamarada Mao, ainda nos tempos em que ele mandava seus subalternos chicotear músicos e jogar seus violinos pela janela...

Recolhendo os cacos, usei e esgotei todas as blasfêmias dos dicionários italianos. Porque, para a blasfêmia ter efeito terapêutico, tem que ser bradada em italiano. Uma hora. Uma hora e meia. Duas horas.

Caralho! Imaginem como seria se hoje não fosse um sábado inglês!

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