quarta-feira, 7 de novembro de 2018

LA BUENA-DICHA - São Judas Tadeu y (el gordo de navidad...)

[...Nessun maggior dolore che ricordarsi del tempo felice nella miseria...]
Citado por Unamuno, página 172 (Del sentimiento trágico de la vida)


Madrid, como Turin (na Itália), tem fama de ser esotérica, mística, oculista, cheia de crendices que vão além, muito além das lendas macabras do cristianismo e do sentimento trágico sobre o qual Unamuno, um dos reitores da universidade de Salamanca, escreveu quase 400 páginas. 
E rabisco este texto aqui na calle Antocha, em frente a uma igreja imensa, creio que dedicada a São judas Tadeu, onde certos dias da semana se forma uma fila sem fim para entrar. Escolho alguém mais zen da fila para perguntar: Fila para quê?
Para pedir algo a São Judas Tadeu, me responde. E não muito longe dali, outra fila, tão longa como esta, só que agora, em frente a uma casa lotérica. Escolho o menos agressivo e pergunto: fila para quê? Para el gordo de navidad!, em busca de la fortuna y de la buena dicha!, me responde.
Haveria algum nexo entre as duas filas? 
Na verdade, pensando bem, as duas apelam para esferas metafísicas. À fé, ao milagre e à roleta... É bem provável que, no meio dessa obsessão se camufle uma luta hipócrita e bipolar entre o espiritual e o material, na qual os da fila do santo das causas impossíveis vão pedir-lhe o mesmo que os da fila da loteria... E há quiosques lotéricos para todos os lados onde, mesmo os mendigos, quando percebem que em seu chapéu caiu uma moeda de dois euros, correm fazer uma aposta. Segundo um indiano que também vende bilhetes ali em frente ao  Café Rodilla, não existe espanhol que não aposte diariamente em alguma das inúmeras categorias de jogos e que não vai, uma vez por mês pedir ajuda ao Judas... E o que deve pensar o santo?, ele que, por ironia, tem um nome que remete ao outro, aquele das trinta moedas? Ora, parece evidente que, apesar da cretinize generalizada, a voz que clama no deserto é a voz do dinheiro...(E alguém tem dúvida de que foram eles, junto aos lusitanos, que implantaram o jogo do bicho no Rio?) 
Como estes vícios parecem ter raízes caracterológicas (isto é, antigas), fico tentando imaginar os estragos que essa gente, junto aos portugueses, italianos, belgas e a outros "exploradores" causaram lá entre as comunidades indígenas da América quando por lá aportaram com seus cavalos, suas crenças, com seus amuletos, com sua voracidade e com suas espingardas...
Chovia sobre a cidade. Beatas e putas se acotovelavam na porta das boutiques enquanto canalhas e burocratas se enfiavam as pontas dos guarda-chuvas na cara ao descer pelas escadas do metro. Com meus sapatos ensopados, meio cínico e meio enfurecido, pensando nos loucos de Judas Tadeu e nos da loteria, me veio em mente uma frase do R. Arlt, em Los siete Locos: "ahora, eso que Jesús te haya revelado el secreto de la ruleta me parece meio absurdo..."










Um comentário:

  1. Enquanto isso aqui . Manchetes do dia...Que tal?

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