sábado, 24 de novembro de 2018

A tal black friday... E o mundo cada vez mais infantil...




















1. Ontem, as 19:30 em ponto, a cidade entrou num surto hebefrênico quando acenderam as luzes natalinas na Puerta del Sol, nas ruas ao seu redor e, claro, nos paredões das lojas do Corte Inglês. Havia centenas de milhares de pessoas nas ruas. Carros da   polícia, helicópteros, vários anónimos vestidos de papai-noel, um sanfonista tocando noite feliz na entrada da FENAC, músicos cubanos, mexicanos e até um que tocava Bob Marley mas que não parecia ser da Jamaica... gritos, pisca-piscas, projeções de teatro mambembe nas paredes, e a América Latina inteira se agitando infantil e "feliz" no meio da espanholada que, depois de Franco, se viu livre daqueles alcaguetes vestidos sempre com "las gabardinas del internacionalismo policíado"..
Como essa abertura de natal 'coincidiu' com a tal black friday, o show chegou ao máximo. Impressionante o desequilíbrio mental que a tal Sexta Feira Negra causa nas mulheres. Entram em todas as lojas, apalpam todas as peças, fotografam as etiquetas, saltam do setor de camisolas para o de botas, do de botas para o de casacões, do de casacões para o de calcinhas, peles, chapéus, luvas... A ideia de que tudo esta mais barato é só um pretexto para deixar-se enlouquecer. Vão arrastando bolsas, pacotes, sacos de compras, sem conseguir entender que um comerciante é sempre uma hiena e que os 40% de desconto é sobre o dobro do valor real do produto... E não eram só latino-americanas e nem só espanholas, havia naquela muchedumbre desvairada, chinesas, japonesas, filipinas, africanas, gregas, mouras, gitanas, romenas, russas, gringas, italianas, árabes e etc... Todas visivelmente desequilibradas e infantis... Bah! Não é necessário ser um sociólogo e nem um arqueólogo para entender que ainda será necessário muito, mas muito tempo para se emanciparem e mais ainda para se empoderarem...



2. Um lugar excelente para se comer um cuscuz aqui em Madrid é o restaurante da mesquita Abu-Bakr que fica lá pelos lados de Cuatro Caminos...  A beleza iconografia da cultura árabe é imbatível... (e a comida também... A Espanha deve tudo a eles...).

3. Durante a agitação noturna que antecedeu a iluminação natalina, a mendigada que tem lugar cativo ali na rua do Carmen, parecia estar meia envergonhada e até incomodada, principalmente quando um bobalhão alucinado ou um um casal se bolinando pisava acidentalmente sobre seu chapéu ou sobre sua latinha de moedas. Uma dessas mendigas, uma senhora que parecia ter saído recentemente de um internamento, chamava atenção de todos com seus gritos ameaçadores...Uma outra senhora, mais jovem que ela explicava a uma beata (que se aproximou para oferecer ajuda) que desde adolescente aquela mulher sempre enlouquecia às vésperas do natal... E em seguida resmungava, me olhando bem dentro dos olhos: No basta com ser buen médico, hay que ser un hombre culto; es decir, tener la idea histórica y biológica del mundo que nos rodea... 
O toc  toc das botas das mulheres, a esfregação de corpos anônimos junto as paredes, o frio quase insuportável que desce a Sierra quando o sol se vai, o cheiro do café atravessando uma vidraça, um mendigo enrolando a manta em seu cachorro e depois dando uma longa tragada numa garrafa de Rioja tinto... ao mesmo tempo em que uma balzaquiana ciumenta e de nariz fino passa agarrada à adolescente que conseguiu pegar e a quem paga as despesas em troca de umas lentas, calorosas e boas lambidas...
E la nave va...



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