sexta-feira, 30 de novembro de 2018

E o mundo é um circo...

Na periferia de Madrid existe um templo indiano que não me lembro o nome. Ao contrário de outras religiões que têm um só Deus, eles têm muitos. Este é o deus X, este é o deus Y, este é o deus K, este é a santidade J e etc, ia dizendo el señor, pisando descalço sobre um tapetão imenso, vermelho e bordado lá nos cafundós do Azerbaijão...  Seu espanhol com sotaque de Puskhar se misturava a uma música que não tinha nada a ver com a de Ravi Chankar. Enquanto ele ia falando, como se quisesse me converter ao hinduísmo  eu ia pensando nas teorias explosivas do Rajneesh :
"A música é bela, - dizia - mas você tem de cessá-la. Maomé não gostava de música porque, segundo ele, a própria beleza da música pode manter alguém enraizado (…) Não tente me enganar. Eu próprio sou um enganador tão grande... você não pode me enganar. Não sou democrata. Sou ditador; é por isso que tantos alemães vêm a mim. Na verdade, eles vêm porque não conseguem encontrar ninguém na Alemanha. É por isso que eles vem a mim. Sou um ditador com uma diferença: um ditador com o coração de democrata. Não seja covarde esse é o único obstáculo para conhecer a verdade. É necessário ousar para conhecer é preciso entrar no perigo. A vida é simplesmente uma canção que não tem sentido. Estar perto da beleza é estar perto da morte. E eu não sou um pregador. Pregar é sujo. Eu sou um amante. O idiota é duro, muito duro. É impossível que qualquer coisa penetre na cabeça de um idiota. A cabeça de um idiota está coberta com aço, nada pode penetrar nela. Sou um fim... Fim no sentido de que depois de mim não pode haver nenhum cristianismo, judaísmo, hinduismo, maometismo. Depois de mim não há possibilidade de nenhuma ideologia. Sou um trapaceiro. Você não pode me trapacear. Eu trapaceei tantos trapaceiros..!" 


quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Eu não estou aposentado.., eu estou em greve!!!



Saindo de de um templo budista que há no bairro de Usera, ouvi um mendigo respondendo categoricamente a uma beata que depois de perguntar-lhe se estava aposentado o aconselhava a tomar um banho e a sair daquela vida: - Minha senhora, eu não estou aposentado (jubilado), eu estou em greve e há mais de vinte e cinco anos... 
Disse isto e continuou serenamente a leitura de dois livros que estava fazendo, um deles, uma ironia com a escravidão disfarçada do trabalho e o outro de Sheng-yen Lu: Cómo cruzar el Oceano de la vida y la Muerte, um livro que lhe havia sido presenteado por uma carinhosa monja chinesa daquele templo.








segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Si quieres la cena me comes el coño...


"Los fascistas tienem miedo de mí porque no sabem que soy una infeliz..."
Pasionaria 
(In: Un mito llamado Pasionaria, página 14)




Ontem, dia 25, houve manifestações de mulheres por toda Espanha, principalmente ali em Barcelona e aqui em Madrid.  Jovens, velhas, elegantes ou não muito, sensuais e assexuadas, umas gordas, como se estivessem fazendo propaganda de jamón outras quase anoréxicas... Pintadas, maquiadas, queridas e detestáveis, com cílios que quase lhes chegavam ao nariz, ou simplesmente como acordaram... Muitos pederastas infiltrados.... Iam gritando contra o pai, contra o marido, contra os filhos, contra o macho agressivo, contra o cafetão,contra o assassino em potencial com quem dividem uma casa, uma cama , uma mesa e uma igreja... Faltaram as ucranianas, aquelas beldades que sempre estão presentes com toda sua nudez e que os guardas agarram higienicamente pelos cabelos para não serem acusados de abusadores...
Os slogans e os dizeres dos cartazes já são mais do que globalizados, mas havia um que me intrigou e que não consegui, nem no google, uma tradução satisfatória. Uma menina encantadora levantava com soberba, bem alto, sobre a cabeça e voltado para os fotógrafos um que dizia: SI QUIERES LA CENA ME COMES EL COÑO...
Outra sugeria ao sujeito que antes de agredir uma mulher se suicidasse... etc...
São muitos, também por aqui, os assassinatos de mulheres. 
E o assunto, como em todo mundo, parece que também vem sendo tratado apenas como caso de policia, o que é ridículo! É evidente que os antropólogos e os biólogos deverão entrar em cena. E já não menciono mais os psicólogos e nem os veterinários porque estes já estão visivelmente cansados... 
É evidente que precisamos ouvir os assassinos! É necessário dar-lhes a palavra nas universidades, no púlpito das igrejas e nos parlamentos. Para que expliquem ao populacho o que lhes passa. Qual o motivo, a razão ou a irracionalidade de seus crimes?...  Quais as raízes de seus desvarios?.. E, de preferência, com suas mamaezinhas presentes...
Do contrário, essas manifestações, esses protestos e as denuncias das mulheres acabam se confundindo com procissões religiosas, com pedidos de misericórdia e hosanas a Deus, ao Rei e ao Estado... entidades comprovadamente surdas e indiferentes a qualquer tipo de queixa...
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Depois de ler o rascunho deste texto o mendigo K me lembrou de algo que também havia lido lá na biografia da Pasionária e atribuído a um jornalista chamado Ángel Ramirez:
- "La muchachas liberan, a la vista de las armas, los instintos sexuales reprimidos durante anos... A exaltação, o sentimento subconsciente do perigo, desencadeia nelas uma corrente erótica. (...) O cheiro de sangue e o perigo as erotiza tremendamente... Recuerden ustedes del circo de Roma y fijense en nuestras plazas de toros. A las mujeres les enardece la barbarie y la crueldad del macho..."
Como percebeu o ceticismo machista em minha cara, deu uma gargalhada e acrescentou: Relaxe, Bazzo! Isto não é ciência, é pura literatura...






sábado, 24 de novembro de 2018

A tal black friday... E o mundo cada vez mais infantil...




















1. Ontem, as 19:30 em ponto, a cidade entrou num surto hebefrênico quando acenderam as luzes natalinas na Puerta del Sol, nas ruas ao seu redor e, claro, nos paredões das lojas do Corte Inglês. Havia centenas de milhares de pessoas nas ruas. Carros da   polícia, helicópteros, vários anónimos vestidos de papai-noel, um sanfonista tocando noite feliz na entrada da FENAC, músicos cubanos, mexicanos e até um que tocava Bob Marley mas que não parecia ser da Jamaica... gritos, pisca-piscas, projeções de teatro mambembe nas paredes, e a América Latina inteira se agitando infantil e "feliz" no meio da espanholada que, depois de Franco, se viu livre daqueles alcaguetes vestidos sempre com "las gabardinas del internacionalismo policíado"..
Como essa abertura de natal 'coincidiu' com a tal black friday, o show chegou ao máximo. Impressionante o desequilíbrio mental que a tal Sexta Feira Negra causa nas mulheres. Entram em todas as lojas, apalpam todas as peças, fotografam as etiquetas, saltam do setor de camisolas para o de botas, do de botas para o de casacões, do de casacões para o de calcinhas, peles, chapéus, luvas... A ideia de que tudo esta mais barato é só um pretexto para deixar-se enlouquecer. Vão arrastando bolsas, pacotes, sacos de compras, sem conseguir entender que um comerciante é sempre uma hiena e que os 40% de desconto é sobre o dobro do valor real do produto... E não eram só latino-americanas e nem só espanholas, havia naquela muchedumbre desvairada, chinesas, japonesas, filipinas, africanas, gregas, mouras, gitanas, romenas, russas, gringas, italianas, árabes e etc... Todas visivelmente desequilibradas e infantis... Bah! Não é necessário ser um sociólogo e nem um arqueólogo para entender que ainda será necessário muito, mas muito tempo para se emanciparem e mais ainda para se empoderarem...



2. Um lugar excelente para se comer um cuscuz aqui em Madrid é o restaurante da mesquita Abu-Bakr que fica lá pelos lados de Cuatro Caminos...  A beleza iconografia da cultura árabe é imbatível... (e a comida também... A Espanha deve tudo a eles...).

3. Durante a agitação noturna que antecedeu a iluminação natalina, a mendigada que tem lugar cativo ali na rua do Carmen, parecia estar meia envergonhada e até incomodada, principalmente quando um bobalhão alucinado ou um um casal se bolinando pisava acidentalmente sobre seu chapéu ou sobre sua latinha de moedas. Uma dessas mendigas, uma senhora que parecia ter saído recentemente de um internamento, chamava atenção de todos com seus gritos ameaçadores...Uma outra senhora, mais jovem que ela explicava a uma beata (que se aproximou para oferecer ajuda) que desde adolescente aquela mulher sempre enlouquecia às vésperas do natal... E em seguida resmungava, me olhando bem dentro dos olhos: No basta com ser buen médico, hay que ser un hombre culto; es decir, tener la idea histórica y biológica del mundo que nos rodea... 
O toc  toc das botas das mulheres, a esfregação de corpos anônimos junto as paredes, o frio quase insuportável que desce a Sierra quando o sol se vai, o cheiro do café atravessando uma vidraça, um mendigo enrolando a manta em seu cachorro e depois dando uma longa tragada numa garrafa de Rioja tinto... ao mesmo tempo em que uma balzaquiana ciumenta e de nariz fino passa agarrada à adolescente que conseguiu pegar e a quem paga as despesas em troca de umas lentas, calorosas e boas lambidas...
E la nave va...



terça-feira, 20 de novembro de 2018

20 de novembro, aniversário da morte de Franco...

"El tema de la envidia es muy español. Los espanholes siempre están pensando en la envidia. Para decir que algo es bueno, dicen: <es invidiable>.
Jorge Luis Borges





Hoje, dia 20, amanheceu garoando. Não muito, mas o suficiente para derrubar as folhagens amareladas de outono que enfeitam a cidade. Nas bancas, nenhum jornal traz em manchete a noticia de que hoje é o 43 aniversário da morte do Generalíssimo Franco. O assunto é explosivo por aqui e parece que ninguém quer se comprometer com uma bobagem dessas e muito menos com um cadáver... As chuvas por aqui não são torrenciais, pelo menos na Comunidade de Madrid e neste mês de novembro. Ao redor da Puerta del Sol, mesmo em baixo de chuva estão as filas de sempre para comprar a loteria de natal. Um bilhete de vinte euros pode dar ao ganhador um prêmio de 50 milhões. O mendigo K que estava numa delas e que comprou o seu com final 8, me garantiu que se ganhasse, alugaria um helicóptero e, em voos rasantes, jogaria o prêmio inteiro, em notas de cem euros, ali na Plaza Mayor, sobre a população gananciosa e invejosa... Por falar em mendigos, os da calle del Carmen não estão lá hoje, devem ter ficado em suas tocas  acendendo velas ao morto ilustre... Caminhei em baixo de chuva até a Plaza de Oriente acreditando que haveria alguma manifestação por lá contra ou a favor, (dá no mesmo!) mas não houve nada. Apenas dois ou três carros da policia e uns japoneses fazendo fotos.
A questão da pederastia na igreja esta diariamente em pauta nas televisões e nos jornais daqui, padres, cardeais, bispos, e outros entendidos reconhecem que enrabaram muitos neófitos e, debaixo daquelas papadas andróginas e com a mão sobre o crucifixo, pedem perdão. É risível! Gema Verona, presidente da Sociedade Vasca de Victimologia publica um artigo no Le Pais de hoje com um titulo genial, psicanalítico  e metafísico sobre o assunto: LAS VITIMAS VIVEM LOS ABUSOS COMO UM INCESTO ESPIRITUAL. Mas todo mundo sabe que a putaria desceu às raízes e que não tem chances de ser erradicada e mais: que tudo é teatro midiatico e que ninguém esta interessado em perdão e nem em regeneração porra nenhuma...
Quem quiser conhecer Madrid em suas entranhas deve ler o livro: Madrid, do melhor escritor argentino: Robert Arlt.

Outro assunto transcendente que esta em pauta e que gostaria imensamente de estar testemunhando in loco é o da caravana de latino-americanos em direção aos EEUU. A lenda do Êxodo judeu fugindo do Egito (proto-estória), perto desta é quase uma piada. Nada se compara à loucura de milhares de pessoas viajando milhares de quilômetros para ir entrar voluntariamente na gaiola... 
A pergunta do mendigo K, em frente ao MacDonald: Já que a América Latina inteira continua sendo um quintal da Espanha, os espanhóis teriam alguma coisa a ver com essa infâmia?
E la nave va...

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

E ali no outro lado do Mediterrâneo...

MADRID: A meca da canalhice...


[ La primera cualidad del canalla es que nadie pueda conocer que lo es. El canalla conocido deja de serlo, porque ya no es peligroso...] Página 11.



1. Madrid es la Meca de la canalleria. Es tan facil y hacedera la profesión de canalla en la corte de España, que es raro y hasta difícil el que muchos puedan sustraerse de practicarla...(...) Em Madrid no hay más que pulmonías y credenciales... (página 21)

2. No se habla por primera vez con una persona, que no se sospeche que se esta tratando con un canalla...

3. En Madrid todo el mundo pratica, por miedo de habérselas con un canalla, la filosofia de Santo Tomás. Todos somos atomistas, con la debida exclusión de los timadores y timados, que en este caso son dos canallas de diferente grado...

4. Quien no ha ido  a comer a un restorán?
Lo primero que ha irá hecho será preguntar al camarero por el plato del dia, para, una vez conocido, pedir un par de huevos fritos.
Esto que a primera vista parece un hecho sencillo y sin ninguna importancia, no deja de tenerla, pues lo ha motivado la desconfianza de comer aquello que no se conoce. En la duda van envueltos en la caballería el camarero que dio la noticia, el dueño de restorán, el cocinero y hasta el mismo condimento...

5.  Si el aspirante a canalla tiene, por don de la naturaleza, facilidad para expresar ideas, sean suyas o ajenas, si habla, si posee dotes oratorias, en una palabra, entonces el mundo es suyo: se le abrirán  de par en par todas las puertas, la sociedad le brindará las mejores ocasiones para su medro y habrá ganado sin darse cuenta todos los difíciles años de preparatório de la profesión de la canalleria...

Enfim: 6.  O canalha habrá de parecer humilde, muy humilde, que la falsa humildad es el mejor disfraz de la soberbia y la ambición...


sexta-feira, 16 de novembro de 2018

A excitação do Silvio Santos

Defenderei até a morte o teu direito de aparecer quase nua diante de mim e diante do mundo, mas aí de ti se te atreveres a querer criminalizar minha excitação, meu desejo, minhas fantasias e até mesmo minha ereção...



Até aqui na Espanha se comentou o ocorrido na semana passada lá no Brasil, quando o apresentador de televisão Silvio Santos, um homem com mais de oitenta anos se negou a dar um abraço a uma sua convidada, com a justificativa simpática de que se a abraçasse ficaria excitado.
Claro que a SAF, (Sociedade Anónima das Frigidas) fez um escândalo. O acusou de ser um velho tarado, impróprio, inoportuno, MACHISTA, filho de uma puta e etc.
O mendigo K, que também esteve ao par desse affair, resmungava  indignado nesta manhã ali na entrada do metro de Callao: 
- De onde vem todo esse incômodo e todo esse desprezo pelo desejo? Pelo tesão e pela sexualidade? É  evidente que o mundo masculino e o feminino falam uma linguagem diferente neste particular... Mas, é importante lembrar que o processo civilizatório pretendeu "normalizar" e não sufocar o desejo. E mais: que não foi outra coisa além do desejo que lançou os homens pelos 5 mares e que esteve na base do Renascimento. Ao invés de apedrejarem o velho Silvio por essa babaquice, deveriam consulta-lo para saber quais são os truques para chegar quase aos noventa anos com as fantasias e o desejo ainda intactos...
No final de sua fala lamentou profundamente não estar no Brasil para poder ir ao Festival Internacional de Sanfona que esta prestes a acontecer em Juazeiro...

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Pruitt-Igor & Brasília / Ou: As ruínas da modernidade...


"Olhe por cima de seu ombro, você está fazendo muitos inimigos. E, nesta cidade, vadias são enterradas".
Sara Shepard



Pruitt-Igor
Brasília
No segundo capitulo do livro La trampa de la diversidad (Las ruínas de la modernidad) o autor (Daniel Barnabé) dedica umas cinco páginas a grandes projetos arquitectónicos dos anos 60,70, sem contudo mencionar Brasília e nem mesmo Niemayer. Faz uma apresentação especial do Complexo residencial urbano conhecido por Pruitt-Igor, projectado e construído em 1955, na cidade de Saint Louis (Missouri) pelo arquiteto japonês Minoru Yamasaki e que foi demolido a dinamites nos anos 72/76.
O que chama atenção neste assunto é:

1) a semelhança arquitetônica desta, com a construção de Brasília; (Ou será que qualquer semelhança é mera coincidência? 

2) o sucateamento descarado dos prédios, dos apartamentos, das paredes, das ruas e viadutos, (das duas) como se tivessem sido feitos deliberadamente para albergar burocratas de segunda classe, semi-pobres junto a uma legião de subalternos e do lupemproletariado; 

3) que Pruitt-Igor foi arquitectada e inaugurada em 1955 e Brasília em 61. 

4) que provavelmente Bsb, com o pretexto de modernidade e dos baixos custos, foi baseada nos núcleos suburbanos fodidos de outros países (como esse do Missouri, como a banlieue de Paris e como os cortiços verticais do leste europeu)... 

Mas.., o mais importante disso tudo, é Pruitt-Igor (essa merda suburbana ) ter sido demolida com bananas de dinamite menos de três décadas depois de ser inaugurada, e por razões diversas, principalmente por não cumprir adequadamente com as funções de urbanidade e de civilidade... Outra curiosidade no texto, é que Le Corbusier é citado enquanto o velho Niemayer... não. 



terça-feira, 13 de novembro de 2018

A armadilha da diversidade... Ou: o rebanho indo para o brejo...

O mendigo K que todas os dias vai a um café da Gran via bebericar um capuccino com um bolo de cenoura, estava lá, com outros dois mendigos, um da Romênia e outro da Holanda, nesta manhã do dia13, aproveitando o sol que "milagrosamente' reapareceu... e discutiam um livro já sem capa que estava sobre a mesa. Um livro de Daniel Barnabé com o titulo: La trampa de la diversidade ou: (como el neoliberalismo fragmentó la identidad de la classe trabalhadora). O assunto - foi logo me prevenindo - é fundamental, principalmente para os latino-americanos que ficam irresponsavelmente e como papagaios repetindo e colocando em prática o que os teóricos daqui, na porralouquice, colocam em pauta sem ter consciência da armadilha em que estão caindo... Puxou uma cadeira para que eu me sentasse e foi lendo alguns trechos:  

1. "El gran invento (e a malandragem) de la diversidad es convertir nuestra individualidad en aparente lucha política, activismo social y movilización. La bandera deja de ser colectivista para ser expresión de diversidad, diversidad hasta el limite, es decir, individualidad. (...) Los hombres y mujeres que luchaban por una sociedad más justa combatiam la desigualdad...  Agora se reafirma e se reivindica la diferencia sin percibir que, tras ella, podemos estar defendiendo lo que siempre combatimos." Entende?

2. O uso e abuso que o comércio esta fazendo da diversidade é espetacular. Por  exemplo: uma simples loja de brinquedos eróticos consegue publicar uma reportagem com este título: "Uma eroteca vegana feminista, transgêneros e respeitosa com a diversidade relacional e corporal" Caralho! Bazzo. Percebe a malandragem e o charlatanismo que há nisso? Aliás, você sabia que nos EEUU se vende até perucas para vaginas? O neoliberalismo enrabou todo mundo. Distraiu uma juventude alienada e babaca com essas estórias de viadagem, de pureza, de género, de diversidade enquanto aperfeiçoava seus negócios e turbinava seus bancos e lucros. Veja o caso da Frida Kahlo. Romantizaram cinicamente suas desgraças e transformaram sua pós-existência num negócio! De uma simples pintora (quase freira) que flertava com o comunismo, que "era casada com um porco" e que nem era feminista (segundo escreveu E. Shackelford em 1990, no New York Times) foi transformada em algo que nunca foi e hoje seu nome vende bolsas, sapatos, pulseiras, perfumes, roupas, crenças e o diabo a quatro. Tudo é convertido hipocritamente em supermercado. Recentemente foi motivo de piada a descoberta de que a Theresa May, a líder das direitas britânicas, levava no braço uma pulseira da camarada Frida Kahlo. Como é possível, se perguntavam os rebanhos na rua que uma conservadora como ela leve no braço uma pulseira com a marca de uma comunista? 
Resposta: porque tudo é teatro, festim de milionários por um lado e festim de mendigos por outro. Acreditem: há um transtorno de personalidade generalizado. O mundo é um circo e cada vez mais suburbano... Quê miséria!!! 
Disse isso, deu o último trago em seu capuccino, bateu-me nas costas e saiu por uma porta dos fundos sem pagar a conta...


segunda-feira, 12 de novembro de 2018

A dignidade da Europa se afoga no Mediterrâneo...


"...Y aprenderían convertirse en hombres del mundo, primer paso para llegar a convertirse en hombres del universo..."
G.K. Chesterton

Ontem a manifestação ali na Puerta del sol foi das mulheres. Imigradas e marginais asiáticas, mouras, ciganas, negras e latino-americanas...
 Já era noite e seus gritos de guerra se dirigiam basicamente ao racismo institucionalizado espanhol e, claro, contra os "brancos heterossexuais, exploradores, violadores, hijos de puta" e etc. Logo de inicio já se podia perceber que não se tratava apenas de mais  uma das neuróticas manifestações de "diversidade", mas de classe. Os cartazes abaixo podem dar uma ideia geral das inquietudes e das angústias dessas mulheres que, por não poderem viver livremente em seus países de origem, foram obrigadas a vir para cá, a dispersar-se pela Europa e viver diversas situações de exploração e de violência. Havia literalmente de tudo na manifestação e as acusações contra a Espanha "colonizadora e racista" foi feita até por uma cigana sobrevivente de Auschuwitz e que vive atualmente nos EEUU... As representantes de cada grupo (ciganas, negras, árabes, asiáticas...) leram emocionadas a seus manifestos, todos impregnados de romantismo, de idealismo e até mesmo de um certo sensualismo e a multidão gritava com os punhos para o alto... Teve até uma pessoa de identidade confusa que, no meio de seu discurso pronunciou esta frase + ou - enigmática: Somos todas Malinche!
Malinche? Mas como? Malinche não foi a índia mexicana que aliou-se ao velho Cortês e que traiu descaradamente a seu povo?
Gritos e punhos para o alto!
A dignidade da Europa se afoga no Mediterrâneo! gritava outra, referindo-se aos africanos que morrem afogados ao tentar chegar no território espanhol. Denunciaram o acosso sexual pelo que passam as domésticas asiáticas; a violência policial; a burocracia para conseguir documentos; a necessidade de viver em guetos; alguns assassinatos brutais de imigrantes inocentes, as deportações e as prisões; o colonialismo ainda vigente, sem esquecer de mencionar a imoralidade cotidiana da repressão policial contra os negros "manteros"(esses que, sobre mantas, vendem por aí produtos nas calçadas e que de meia em meia hora são obrigados a recolher suas coisas e fugir da polícia...). 
Aos gritos falaram sobre o preconceito secular contra os ciganos, contra o lesbianismo, contra os negros e sobre a ironia que é sutilmente dirigida aos chineses, japoneses e outros asiáticos, tanto por suas características como por sua dificuldade de falar o espanhol... Acusaram a Espanha de ter roubado tudo da América latina: as terras, os alimentos, a cultura, a flora, a dignidade, os metais, a música e etc. Foi um show! Um show revolucionário contra o Estado, contra a monarquia e contra o capitalismo. Mas que perdia completamente o sentido para aqueles que, horas antes, haviam presenciado uma mulher negra enrolada na bandeira da Nicaragua, nos arredores da Almudena, denunciando os crimes absurdos e estúpidos cometidos no dia-a-dia naquele país, pelo "camarada"Noriega"... Enfim, para o show ter sido completo, só faltou a música (abaixo) do Manu Chao: