Vírus da ‘doença do beijo’ pode causar outros 6 problemas de saúde
Por Da Redação
access_time 17 abr 2018, 22h25 - Publicado em 17 abr 2018, 20h23
Ao contrário dos outros vírus, o EBV consegue 'hackear' as células responsáveis por combatê-lo. (iStock/Getty Images)
A doença do beijo, também conhecida como mononucleose, pode aumentar o risco de desenvolvimento de outras doenças, como a esclerose múltipla, lúpus e diabetes tipo 1. De acordo com um estudo publicado recentemente na revista Nature Genetics, o vírus responsável por causar a mononucleose é capaz de se ligar a partes do genoma humano, tornando a pessoa infectada mais vulnerável a essas doenças.
Mononucleose
A mononucleose é uma infecção causada pelo vírus Epstein-Barr (EBV), transmitida pela saliva – por isso também é chamada de doença do beijo. Seus sintomas incluem dor e inflamação da garganta, febre alta, placas esbranquiçadas na garganta e ínguas no pescoço. O EBV pode provocar infecção em qualquer idade, mas é mais comum apresentar sintomas em adolescentes e adultos.
A mononucleose não tem um tratamento específico, mas é possível curá-la apenas com repouso, ingestão de líquidos e uso de remédios para aliviar os sintomas. Com essas medidas, a doença desaparece após uma ou duas semanas. No entanto, depois de infectada, a pessoa permanece com o vírus por toda a vida.
EBV e o aumento do risco de doenças
Ao longo dos anos, cientistas ligaram o EBV a algumas outras doenças raras, incluindo certos tipos de câncer do sistema linfático. Além disso, alguns dos pesquisadores já vinham estudando o vírus e fizeram conexões entre ele e o lúpus, por exemplo. Outras doenças relacionadas ao EBV descobertas durante a pesquisa são: esclerose múltipla, artrite reumatoide e artrite idiopática juvenil, doença inflamatória intestinal, doença celíaca e diabetes tipo 1.
Segundo os resultados da pesquisa, os cientistas perceberam que os componentes produzidos pelo vírus interagem com o DNA humano nos lugares onde o risco genético da mononucleose (e de outras doenças) aumenta. “Esta descoberta é importante o suficiente para estimular muitos outros cientistas em todo o mundo a reconsiderarem este vírus nesses distúrbios. Como consequência, e supondo que outros possam replicar nossas descobertas, isso poderia levar a terapias, formas de prevenir e antecipar doenças”, disse John Harley, um dos autores do estudo, ao Science Daily. Apesar de não existir vacina contra o EBV, outras iniciativas procuram desenvolvê-la.
Atuação do vírus no corpo
Em infecções virais e bacterianas nosso sistema imunológico recebe o comando das células B para produzir anticorpos no intuito de combater os invasores. No entanto, quando ocorrem infecções por EBV, algo incomum acontece: esse vírus é capaz de ‘hackear’ as células B, assumindo o controle de suas funções e reprogramando-as. A equipe do Cincinnati Children, responsável pela pesquisa, encontrou pistas de como o vírus faz isso.
O corpo humano tem cerca de 1.600 fatores de transcrição conhecidos no nosso genoma. Estes fatores são proteínas que ajudam a transformar genes específicos em “ligados” ou “desligados” através da conexão com o DNA para garantir que as células funcionem como esperado. No entanto, quando os fatores de transcrição são alterados, as funções normais da célula também podem mudar e isso pode levar à doença. Os cientistas suspeitam que o fator de transcrição EBNA2 do EBV esteja ajudando a mudar a maneira como as células B infectadas operam e como o corpo responde a elas.
Com base nessas informações, os cientistas descobriram que, dependendo de onde esses grupos de fatores de transcrição relacionados ao EBNA2 se ligam no código genético, aumenta o risco de algumas dessas doenças. “Normalmente, pensamos nos fatores de transcrição que regulam a expressão do gene humano como sendo humanos. Mas, neste caso, quando este vírus infecta células, ele produz seus próprios fatores de transcrição, e estes se situam no genoma humano nas variantes de risco lúpico (e nas variantes de outras doenças) e é isso que suspeitamos estar aumentando o risco da mononucleose”, explicou Leah Kottyan, outra cientista envolvida no estudo.
Estas descobertas abrem novas linhas de estudo que podem acelerar os esforços para encontrar tratamentos que impeçam o vírus de atuar nas células, o que poderia levar a cura dessas doenças. Entretanto, os pesquisadores informam que será preciso muito tempo para alcançar esses objetivos. (Revista VEJA)
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