sábado, 21 de abril de 2018

Uma antropologia das nádegas... (2)

5.  "Em certos casos extremos, o inchaço das ancas chega mesmo a confundir-se com os testículos, e o alongamento do pescoço evoca o pénis erecto, o que encontramos em alguns desenhos de Picasso (1927). Manifestamente, a mulher não tinha apenas influência mágica sobre a abundância da caça ou a descendência dos homens: era também um ex-voto da ereção.

6. Como todos os primatas, os homens dessa época copulavam por detrás e os sinais sexuais da mulher eram emitidos pelo rabo, como nos macacos. Quanto mais generoso era o rabo, mais a mulher era sedutora. Mas era também bastante incômodo. De tal forma que os homens passaram à cópula facial. Consequência: os seios encheram-se para reproduzirem os grandes hemisférios nadegueiros. O que era uma versão muito mais equilibrada e ágil da mulher. Mantivemo-la. Aliás, ainda existem, no mato do Sudoeste Africano, mulheres com nádegas em forma de cratera; são as bosquímanas, e encontramos esses perfis avantajados nas pinturas rupestres do Zimbabué e da Africa do Sul. A interpretação é sedutora.

7. Na Mauritânia, existiram durante muito tempo casas de engorda, com uma corporação de empanturradoras destinadas a tornar obesas as jovens destinadas ao casamento.

8. Para ser mulher de qualidade, era preciso ser mulher de quantidade, diziam.

9. Na Nigéria, escreveu Mungo Park, até mesmo uma mulher sem pretensões a uma beleza extrema não deve estar em estado de caminhar de outra forma a não ser sustentada por uma escrava de cada lado, e a beldade perfeita é uma carga suficiente para um camelo. O que já dizia Darwin, em A Descendência do Homem e a Seleção Sexual. Sir Andrew Smith viu uma mulher que era considerada uma beleza e que tinha aquela parte do corpo tão desenvolvida que, uma vez sentada no chão, não se conseguia levantar, a menos que se arrastasse até um local inclinado...

10. Os somalis, para escolherem as suas mulheres, põem as candidatas em linha e elegem aquelas cujo a tergo (superficie dorsal) ultrapassa mais o alinhamento...

11. Na Terceira República, vimos, deste modo, aparecerem umas nádegas incríveis e muito sumptuosas que recordavam as nádegas pré-históricas, apesar de serem totalmente artificiais, e a que chamávamos tournure (anquinhas), ballon (balão) sem dúvida para significar que elas se pareciam sobretudo com um aérostato ou, mais simplesmente faux cul (cu falso). Filho dos enchumaços e da crinolina, o faux cul (cu falso) era apenas uma extrapolação das nádegas, uma fuselagem constituída por armaduras metálicas e por acolchoamentos diversos que não enganavam ninguém, mas que pelo menos dava à mulher o equivalente indiscutivelmente lisonjeiro de um grande rabo. Foi o triunfo das nádegas subidas, do espavento...

12. Foi precisamente na época em que a roupa interior tentou, pela primeira vez, opor-se aos enlaces amorosos que Freud elaborou a sua Teoria do Recalcamento e que toda a Paris correu a assistir ao Coucher d'Yvette, o primeiro espetáculo de strip-tease onde, ao som de um piano, uma senhora em traje de dia começava a despir-se lentamente. Era preciso, dizia, que o burguês de 1905 ficasse com os nervos em franja. Ficava. Pelo menos podia persuadir-se que à medida que a mulher se desfolhava, aparecia um corpo que era diferente em certos pontos do corpo dos homens, mas também não lhe era tão radicalmente desconhecido como parecia. Por sorte o cubismo retirou completamente de moda as silhuetas em forma de gôndola. Renovando o sacrifício das Amazonas, para quem o seio direito era um incomodo para o tiro ao arco, algumas desportistas sacrificaram os dois. E, no seu ardor, cortaram também as nádegas. Nos anos 25-30, apareceu então uma mulher completamente nova, isto porque era inteiramente achatada. Chamavam-lhe garçonne... E guardaram-se as crinas para as azêmolas..." (continua)

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