sábado, 21 de abril de 2018

Uma antropologia das nádegas... (1)

"Se não podes entender o que outro ser humano está fazendo, diagnostique-o".
Dogma fundamental da psiquiatria
(David Cooper in: El lenguaje de la locura,  p. 112)

A melhor aquisição de minha última viagem  foi um livro de Jean-Luc Hennig, publicado por primeira vez pela Calmann-Lévy de Paris, em 1975, e depois pela TERRAMAR Editores de Lisboa, em 1997, com o titulo original:  Brève histoire des fesses e em português: Breve história das nádegas.
Como se pode ver na imagem ao lado, nádegas está escrito com o n maiúsculo o que não aconteceu com os editores franceses. Seria, por um lado, um sinal da concupiscência dos lusitanos? E por outro, do tédio francês?
Outra curiosidade é que estava exposto na vitrine de uma grande livraria de usados em Lisboa, ao lado do livro de Jacques Lacan: A família... 
Sem nenhum cinismo,  e sem nenhuma sacanagem, esse livro deveria ser obrigatório já nas escolas de nosso Primeiro Grau. Sublinhei alguns parágrafos e os reproduzo aqui, sem nenhuma fantasia de querer 'salvar a pátria'.., mas por puro deleite.

1. "As nádegas datam da mais remota antiguidade. Apareceram quando os homens tiveram a idéia de se levantar sobre as duas patas traseiras e assim permanecerem. Um momento capital da nossa evolução, isto porque os músculos das nádegas desenvolveram-se então consideravelmente. 

Entre as 193 espécies de primatas vivos, só a espécie humana possui nádegas hemisféricas que sobressaem continuamente. Apesar de ter havido quem julgasse poder encontrá-las também entre as lhamas dos Andes... Em todo caso, comparados com os homens, os chimpanzés foram descritos como sendo "macacos de nádegas achatadas". O que diz bem do absurdo das nádegas. Portanto, o nascimento das nádegas coincide com a posição vertical. (...) A região secou, a savana substituiu a floresta, e os homens correram sobre a terra. Simultaneamente as suas mãos se libertaram, a posição do crânio sobre a coluna vertebral modificou-se, o que permitiu ao cérebro desenvolver-se. Retenhamos esta idéia interessante: as nádegas do homem estariam, por assim dizer, na origem do cérebro.

2. Os macacos que ficaram na floresta foram privados de nádegas. O que não os perturbou, pois quando uma macaca queria enviar um "sim sexual" a um macho, apresentava-lhe ostensivamente o traseiro. As fêmeas de inúmeras espécies de macacos têm um traseiro que se acende, tornando-se vermelho como uma malagueta e particularmente inchado com a aproximação da ovulação. De tal modo que o macho babuíno ou o chimpanzé passavam o tempo todo correndo de um rabo vermelho para outro, o que lhes permitia esquecer, talvez, o seu infortúnio.  Com a fêmea do homem é diferente. O seu traseiro não incha com seus ciclos menstruais, fica permanentemente protuberante. Está, por conseguinte sempre pronta para o macho e até pode acasalar quando se encontra impossibilitada de conceber. Fato que irritou  por muito tempo a igreja católica.

3. Desmond Morris observa que a fêmea dos babuínos da espécie gelada tem, no peito, uma cópia semelhante ao seu traseiro. E como a sua zona genital é de cor rosa-avermelhado, orlada de papilas brancas, tendo ao centro uma vulva de um vermelho-sangue, reencontramos no período de ovulação esta feliz configuração sobre o peito. (...) Um processo semelhante parece alias ter ocorrido no caso da fêmea humana. Com efeito, se ela tivesse de mostrar o rabo a um macho, este veria um par de lábios vermelhos, rodeado por dois hemisférios inchados e carnudos. Mas apresentar desta forma as suas nádegas aos machos não é frequente. Devido ao fato de nosso modo de locomoção ser vertical, a parte de baixo do corpo passou a ser da frente, ou seja, a mais visível e acessível das zonas de sinalização. Nada de surpreendente, portanto, se descobrimos mimetismos genitais na parte da frente do corpo feminino. É desse modo que os lábios genitais vêem a sua réplica nos lábios pintados, e as nádegas redondas nos seios. 

4.  O seio da mulher assemelha-se o suficiente às suas nádegas para que o sinal seja transmitido. O mimetismo,  não necessita ser exato para ser eficaz. Alias, os seios não são os únicos a ser semelhantes às nádegas: os ombros e os joelhos carnudos são-no igualmente. Especialmente na posição em que os joelhos estão juntos ou ainda quando o ombro está levantado a ponto de tocar a face. Deste modo, podemos dizer que a espécie humana é a única espécie de primatas em que a fêmea possui nádegas um pouco por todo lado..." (continua...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário