quinta-feira, 30 de abril de 2015

Não me estupre com seus olhos... Ou a repressão que cresce...

Sempre que venho a São Paulo, nos intervalos entre um eletro e um ecocardiograma gosto de ficar sentado aqui nas escadarias do Teatro Municipal assistindo o movimento da turba e das manadas, entre eles, claro, a mendigada sob o efeito do crack.
Neste momento um sujeito dá um show de guitarra bem em frente à porta das Casas Bahia. Toca Pink Floyd e os indigentes, em frenesi e aos pedaços, dançam ao redor dele numa coreografia digna da Idade Média ou dos porões do inferno...
Acabo de fotografar ali numa parede da
rua 7 de abril a inscrição acima: "Não me estupre com seus olhos". Quem teria sido a autora dessa infâmia, dessa tirania e dessa impostura? Do jeito que as coisas andam, não demorará muito para se ver escrito por aí: "Não me estupre com seus pensamentos!" E, por incrível que pareça, essas pequenas repressões agem de tal forma sobre nossos neurônios (e sobre nossos bagos) que começamos a baixar os olhos até mesmo quando cruzamos com as mais sedutoras, histéricas e desvairadas beldades. Não muito distante daqui, numa outra ruazinha movimentada ficam aqueles sujeitos que levam uma placa amarrada às costas anunciando que compram ouro. Por curiosidade perguntei a um deles que tipo de objetos podem ser negociados. - De tudo, respondeu ele. Anéis, correntes, abotoaduras, relógios e até dentes de ouro. Quando falou em dentes tive impressão que seus olhos mergulhavam sutil e indiscretamente em minha boca. 
Quanto pagam por um dente? Voltei a perguntar. Depende respondeu ele, o valor de um molar é diferente do de um canino. Em média trezentos reais. Depois quis saber se o produto era meu. Não!, respondi meio intimidado. São três ou quatro peças de minha falecida avó. Ah bomm!

Um comentário:

  1. ezio, talvez este video se torne um post pro seu blog, alguem precisava ultrajar esse filho da puta do Batman, numa dublagem a la Brasil :
    https://www.youtube.com/watch?v=tYHoNGmzHuw

    ResponderExcluir