Ontem de madrugada, quando ainda chafurdava em Crime e Castigo recebi esta foto e a notícia de que essa velhinha de 105 anos suicidou-se há dois dias lá na Rússia. Cento e cinco anos?! Ela mesma parece já ter declarado aos vizinhos que estava de saco cheio. Aliás, tem que ter muito saco para suportar esse circo repetitivo e essa mediocridade universal por tanto tempo!!! Deve ter conhecido os Czares, visto Lênin, Stalin, Trotsky, passado férias na Sibéria, curtido as vísceras no vodca, ouvido a lenda do Anão dos Montes Urais, recitado algum poema de Puchkin, o mais famoso dos poetas russos, por ironia, descendente de escravos africanos. Confesso que essa notícia veio dar um tempero especial ao texto de Dostoievski que, como disse, estava lendo. Um pouco antes havia sublinhado uma expressão, não sei se comum na Rússia daquele tempo, mas que me pareceu curiosa, rica e digna de uma nota. Diante de uma situação onde seria conveniente fazer-se de "coitadinho" e "inspirar piedade", um dos mais loucos personagens dessa novela usou a expressão: "vou precisar recitar os versos de Lázaro". A lenda de Lázaro, todo mundo conhece, está lá em Lucas, Cap.16, Versículos de 19-31.
Na semana passada os burocratas da UNESCO estiveram por aqui fazendo uma "vistoria" na cidade para ver se renovam seu status de Patrimônio Universal da Humanidade ou se a mandam tombar literalmente. Por mim, seria uma ótima ideia. Mandaria construir em seu lugar uma outra com arquitetura vitoriana, cheia de ruelas, becos, canais, prédios feitos em pedras, telhados coloridos, janelões abertos para as nuvens, escadarias em círculo, mosaicos "sarracenos" nas paredes, porões, sótãos, caramanchões, lagoas, geleiras artificiais... e, o mais interessante, com muitos, muitos galos. Cada casa que tivesse um galo teria uma redução de impostos. Por que galos? Porque uma cidade sem galos é sempre um cemitério. Nada energiza mais uma vila, uma cidade e mesmo uma metrópole do que aqueles cantares soberbos das cinco da manhã. Prestem atenção como foi depois que se retiraram os galos dos meios urbanos que aumentou vertiginosamente a incidência de neuroses e de depressões. Uma ou duas vezes por mês viajo aqui pela região montanhosa de Goiás Velho, ou lá pelos lados de Alto Paraíso, só para ouvir os galos abrindo o peito madrugada-a-dentro no meio daquela solidão interplanetária...
quinta-feira, 22 de março de 2012
Bye Bye dona Anastásia...
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Muto bom!! Gosto muito dos seus textos!! São hilários e trágicos ao mesmo tempo! São grande fonte de inspiração!
ResponderExcluirVolta e meia visito seu blog, Ezio. Que se fodam seus detratores! Seus textos tem tudo a ver com diversão, lucidez, subversão, iconoclastia, escárnio, sarcasmo, humor, perspicácia, sabedoria, prazer...
ResponderExcluircrazyheartbsb@yahoo.com.br
eu prefiro galos também, mas aqui a cachorrada do vizinho (guaipécas) fica latindo a noite inteira. Os cães são uns filhos da puta, prefiro os gatos do que esses puxa-sacos dos homens, os cães.
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