A cidade está em alvoroço e a imprensa aproveitou para encher três ou quatro páginas com a prisão em Curitiba dos dois jovens que pregavam ódio contra mulheres, negros, gays, anarquistas, judeus, estrangeiros, nordestinos, esquerdistas etc. e que, segundo as próprias e confessas bravatas na internet, planejavam cometer um atentado contra alunos da Universidade de Brasília. Haja ódio para tanto! Não seria mais fácil declarar logo ódio ao mundo inteiro e jogar-se depois ao mar?! Para odiar, mesmo que fosse apenas os negros, apenas os nordestinos, apenas os estrangeiros etc., já exigiria uma energia imensa, imaginem para odiar tantos grupos e tanta gente ao mesmo tempo... Energia, aliás, que parece ausente e improvável no perfil dos acusados. Skinheads? Mas nem sequer são carecas! Não é fácil odiar! Não é fácil ter 26 ou 32 anos nesses tempos! O risco de vir a ser um babaca, um alienado, um torpe, um racista, um fanático, um presidiário, um frouxo, um beato, um degenerado, um banana ou um terroristazinho suicida é imenso. Eram discípulos de Hitler? Sim, mas de que Hitler? Do Hitler socialista ou do Hitler nazista? Todo mundo sabe que o Fuhrer alemão, assim como Mussolini, antes de descambarem para o fascismo eram socialistas convictos. Ou não?! Odeiam os negros. Por que? Odeiam as mulheres. Por que? Odeiam os anarquistas. Por que?
E por que então não os deixamos falar de seu ódio? De suas cóleras? De suas intolerâncias? O fundo de uma cadeia nunca foi o melhor lugar dos mundos para ninguém, nem para eles e não servirá para esclarecer nada, pelo contrário, sufocará uma temática que interessa verdadeiramente a todos. O Congresso Nacional ou a própria Universidade deveriam convocá-los para que falem aberta e livremente de seus ódios, mais ou menos como fazem com os outros tantos que estão por aí sempre com espaços garantidos para tagarelar horas e horas-a-fio sobre seus amores. Deveriam dispor de uma tribuna para que esclareçam suas desavenças, suas necessidades de vingança, suas crenças e medos. Está mais do que claro que na gênese da grande maioria dos transgressores sociais - e a polícia sabe ou deveria saber - existe uma necessidade imensa (e inconsciente) de ser punido, castigado, preso e esculhambado pelos moralistas de plantão. Qual é o caminho mais fácil para que essa necessidade se concretize? Praticar um crime. O de Toulouse, na semana passada, conseguiu a bala nos miolos pela qual tanto ansiava. O soldado gringo no Afganistão terá sua electric chair. O da Noruega, recentemente, também conseguiu ser enjaulado para sempre. Deixou uma brochura de umas mil e quinhentas páginas sobre seus ódios, nas quais, inclusive, cita o Brasil umas dez vezes. Será que os nossos não levam pelo menos algum bilhete nos bolsos? Não sei se sabem, mas as ações recentes de criminalidade contra o patrimônio, contra os costumes e contra a pessoa, só aqui DF, foram de tirar o chapéu: Cento e onze mil só em 2008 e cento e dez mil só em 2009. Que tal? Estamos ou não estamos em plena e desvairada guerra civil? E quem é que não sabe ou que não intui onde está instalada a usina de todo esse ódio?
Voltando ao assunto, como sabemos que os dois moços presos não foram gerados em proveta nem deixados aqui no Planalto Central por uma aeronave marciana, e como não temos ainda nenhuma prova de que o crime é transmitido geneticamente (apesar das velhas e caducas teorias de Lombroso) é evidente que devem ter sugado essas crenças de algum lugar. Não nasceram odiando as mulheres! É obvio que não nasceram odiando os nordestinos e que não começaram a odiar os judeus ainda quando engatinhavam! Devem ter mamado esses preconceitos, esses preceitos e esses ódios em algum lugar, não é verdade? Em alguma teta, seja na da mãe, na da pátria ou na da cortesã da esquina, não é verdade? Você aí que está palitando os dentes e apenas assistindo de longe os acontecimentos está realmente seguro de que não tem nada a ver com isso? Você aí que se esconde atrás dessa grossa e cara gravata, não vê nesses dois jovens nada que lhe diga respeito? Você aí que têm uma coleção de máscaras em seu armário, onde estava quando esses pseudo-terroristas ainda andavam por aí de fraldas? Você aí que ziguezagueando de falcatruas em falcatruas mudou completamente de status, teria condições de tornar pública sua história e seus mais secretos desejos?
domingo, 25 de março de 2012
Sou um terrorista fracassado, ainda não coloquei uma bomba em minha alma!!! (E.M.Cioran)
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