Os jornais europeus colocam em cena um novo e exótico personagem no caso do navio Costa Concórdia, aquele que na semana passada naufragou num piscinão do Mediterrâneo. Depois do Berlusconi, que afundou a Itália e do Schettino que deixou o navio ir à pique, surgiu agora a história de um novo conterrâneo, o padre M.D. de uma comuna do norte da Itália que estava clandestinamente a bordo. O fato do religioso estar a bordo não representaria problema algum se ele não tivesse mentido aos seus paroquianos que iria para um "retiro espiritual". Só não será excomungado por sorte, pois para aquelas beatas, quase medievais, quando se fala em retiro espiritual se pensa logo em eremitismo tipo o do séc. IV, ou numa montanha inóspita (tipo a do Zaratustra), ou nos horrores do deserto, como no caso de Santo Antão (ilustração ao lado) ou até mesmo numa masmorra improvisada em casa onde o penitente fica de joelhos ruminando pregos e se sapecando a ponta dos dedos na fogueira de seus pecados enquanto vai exercitando a dialética de Cristo com o Demônio. Nada disso. O reverendo, ao invés dos horrores de um retiro estava desfrutando da luxúria de um cruzeiro. Ao invés de grãos de areia com espinhos de cactos ou fezes de camelo, suculentas lagostas com vinho rose. E isto, sem falar das noitadas de gala, das festanças dionisíacas com todo mundo desinibido ao lado das piscinas mais azuis que o próprio mar e tudo o mais que o capitalismo libidinoso sabe colocar a disposição nas vitrines desse imenso bordel que é o mundo. Como conseguirá explicar-se ao voltar para a cidadela de Besana Brianza aos que o consideravam até ontem o intermediário entre os céus e os infernos é o que todo mundo está querendo saber. Apesar das opiniões em contrário, é evidente que é às pessoas semelhantes a esse padreco que estará garantido o reino de deus.
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