Não precisa
nem ser um visionário para perceber que o caos (não o mítico dos maias, mas o
sinistro da psiquiatria) já está vigente há décadas, apenas agora ganha mais visibilidade
tanto no interior da “sagrada família” como na política e que agora se faz bem mais contundente em todas
transações sociais. Quando Sartre insistia que “o inferno é o outro”
(frase que atormentou os comunistas por muito tempo) provavelmente estava profetizando essa desgraceira toda atrás de dinheiro, fama, filantropia
e eternidade. Que fraude! Enfim, quem é que tomado por uma curiosidade mórbida
ou cínica não senta de vez em quando na varanda com uma xícara de chá entre os dedos, acende um charuto e fica imaginando como será
quando a terra, vazia de gente (essa bola enigmática que gira monotonamente por entre as
galáxias) tenha se transformado num imenso depósito de ossos, de
geladeiras, máquinas de lavar, bicicletas, livros, ônibus carcomidos pelo
ferrugem, computadores, aviões com as asas quebradas, igrejas feitas estrebarias, semáforos bloqueados no
vermelho, postes tombados, trincos de portas enguiçados, paredes de concreto
devoradas pelos cupins, aparelhos de ar condicionado feito ninhos de
percevejos, navios a deriva e aos pedaços, pilhas de dinheiro apodrecido nos
porões dos bancos, cachimbos de crack abandonados sobre os bancos da rodoviária, cristaleiras carcomidas pelos ratos, pelos piolhos e pela
solidão??? Nas prateleiras das farmácias todo tipo de “genéricos” para tentar
curar a presunção da extinta humanidade e sobre a mesa de uma biblioteca,
maltratado pelo vento, o Vol. 2 dos Ensaios de Montaigne e um livreto de
João do Rio com esta frase sublinhada por um antigo terráqueo: "E o mal
das civilizações, com o cansaço e o esgotamento, dá como resultado as crianças
pervertidas. Pervertidas em todas as classes: nos pobres por miséria e fome;
nos burgueses por ambição e luxo, nos ricos por vício e degeneração...". Mas
já será tarde. Apenas literatura estéril e vã, como aliás, toda literatura.
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