A preocupação malandra e quase religiosa dos administradores das cidades sempre foi a de proporcionar algum tipo de lazer à comunidade: uma feira, uma missa, um folclore, uma olimpíada, um “Chicletes com banana” ou outro truque qualquer tipo “pão e circo” para, pelo menos aos sábados e aos domingos, “baixar a pressão” da turba. Em absolutamente todos esses eventos o batuque e a música estão incluídos. Por mais broncos que sejam os tais administradores, sabem que há algo de poderoso na música, alguma coisa da natureza do Valium, seja na simples rouquidão de uma rebeca ou na parafernália eletrônica com seus malditos potenciômetros. Neste final de semana aqui no DF – por exemplo – se pôde ir tanto à Granja do Torto para ver o folclore da Folia dos Reis, como ao Museu da República, ao projeto Férias com Arte, ouvir Frejat. Se lá com os violeiros caipiras dava para ver e sentir a poeira levantando do sapateado do cateretê e depois comer marmelada fabricada numa comunidade quilombola, ali ao lado da catedral em reforma, sob o clarão de uma lua maliciosa, estava a oportunidade para colocar os tímpanos a prova, respirar fumaça de hashiche vagabundo e ver as meninas se beijando languidamente na boca. Por mais que a polícia estivesse lá, atenta a algum tipo de “crime”, o maior deles provinha impunemente das caixas de som, uma espécie de OM dos imbecis, arrebentando os miolos do frenético populacho. Algumas pessoas que conheço acreditam, com razão, que o inferno não será de chamas, mas sim de barulhos e de acústica.
Ezio Flavio Bazzo
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