Sempre que podem os jornais e a Interpol voltam a repetir as mesmas e macabras manchetes a respeito das meninas “goianas” que vão prostituir-se na Europa e na América. Falam em milhares...
- Quê luxo! Pena que não possam exercer sua profissão com dignidade aqui entre nós! – ironizam descaradamente os cabotinos. E depois completam: se os jogadores de futebol podem, por que elas não?
E é natural que o mundo leigo se identifique e se compadeça delas, mas talvez nem seja necessário. Quem conhece a sexualidade masculina sabe que não deve ser lá muito complicada essa atividade. Três ou quatro minutos de “sacrifício” e pronto. Um lenço absorvente, uma nova gota de perfume atrás das orelhas, os cinqüenta Euros na bolsa y todo está hecho!.
- Ah, mas vivem pisoteadas por cafetões! Ah, mas estão com os passaportes retidos nas mãos de uma máfia de psicopatas espanhóis ou italianos! Ah, mas devem “fazer o serviço” a dezenas de clientes por noite! Ah, mas corre o risco de serem assassinadas!
Tudo bem, mas o fato de estarem no exterior é o de menos. Visitem nossas beiras de estrada, nossas zonas ou nossos bordéis por aí, para verem a estrutura violenta e criminosa que ainda existe em sua retaguarda. E se for o caso, nem precisam ir aos bordéis, visitem as chamadas famílias no interior e nas periferias de nossas cidades para verem o que acontece verdadeiramente no cotidiano dessas meninas ou mulheres. E se não quiserem visitar as famílias, observem, de longe, as escolas. Visitem as fazendas, os garimpos, as fábricas, o mundo do subemprego em geral. E se nada disso lhes convencer, vão às prisões, às clínicas infanto-juvenis e aos hospitais psiquiátricos e ouçam, por primeira vez, o que elas têm a dizer-lhes. Não é por acaso e nem por ingenuidade que alguém opta por vender o rabo com a ilusão de preservar a alma.
E depois, apesar de todo o blábláblá pastoral e intelectual vigente a respeito do universo feminino, no real, as sociedades ainda continuam dando à grande maioria das mulheres apenas duas únicas alternativas: serem putas de apenas um, para sempre, ou putas de vários, por instantes.
Ezio Flavio Bazzo
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