sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O TÉDIO ENTRE AS MONTANHAS DE DAVOS...

Desta vez o fracasso de Davos, desse cantão Suíço cheio de encostas, de nevascas, de salsichas e de avisos germânicos, ficou evidente. Escolher a Suíça para esse teatro anual só pode ter sido uma ironia, pois é exatamente ali que estão os bancos onde os gatunos do planeta inteiro camuflam o vil metal. A melhor imagem que consigo construir desse vilarejo, nesta data, é a de um ninho gelado para onde regressam de quando em quando as mesmas e conhecidas aves de rapina para ali afiarem-se mutuamente as unhas e os bicos. Para ali afagarem-se as penas, ruminar carniças e mapear os estômagos pelo planeta a fora. Cada um mais farsante que o outro. O discurso de Nicolas Sarcozy antes de ontem – por exemplo - foi mais radical que todos os de Lênin e de Trotsky juntos. A hipertensão poupou Lula de ir fazer o dele que, certamente, seria mais radical e mais libertário que os de Bakunin. Palavras! O Haiti está lá, com toda sua podridão, para fazer um contraponto a essas demagogias. Apesar da megalomania de poder, que solidão terrível deve abrigar os cérebros e as tripas dessa gente! Ir lá fazer proselitismo da paz, dos direitos humanos e da distribuição de rendas sabendo como vive 80% da humanidade é a mesma coisa que ir a um bordel defender o hímen ou a castidade das cortesãs. O que é quase inacreditável, é que apenas trinta ou quarenta desses búfalos engravatados e vaidosos tenham a capacidade de subjugar o planeta inteiro e de enganar por tanto tempo a seis ou sete bilhões de energúmenos. Mas, por sorte, a Suíça não lembra apenas a picos nevados ou a bandidos. Recorda também a Jung, o velho alquimista da “alma”, aquele que descrevia assim a doentia e miserável relação entre os sujeitos: [... É preciso que tu aceites, que tu legitimes e que tu reforces a imagem que eu tenho de mim! Caso contrário, eu te privarei de meu amor, te punirei, te abandonarei ou até mesmo te matarei...]

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