No café da esquina dei de cara com um sujeito que há muito está em conflito com sua fé. Hoje estava particularmente desolado com o terremoto do Haiti. Trazia um jornal amassado sob o braço e exibiu-me com horror aqueles montes de cadáveres pelas ruas de Porto Príncipe.
Como já sabe meu conceito sobre “teístas” e “religiosos” sentou-se a meu lado, pediu-me paciência e foi logo desembuchando: Não pense que caí no ateísmo, mas confesso que estou duplamente confuso com meu deus. Primeiro, por ter matado de forma tão cruel e bárbara além de milhares de miseráveis, a Zilda, uma de suas mais devotas beatas e dedicadas militantes. E segundo, como teve a falta de ética e o descaramento de, depois de destruir completamente a cidade deixar incólume e ilesa, no meio dos escombros, a cruz onde seu filho estava crucificado?
Fiquei em silêncio, e ele, me olhando nos olhos, exigindo uma frase, uma ironia ou mesmo uma blasfêmia. Pensei em listar-lhe as últimas vinte ou trinta desgraças planetárias, cada uma com milhares de crentes despedaçados, mas quando percebi que sua ansiedade estava no limite perguntei-lhe se lembrava da frase de Sam Harris que em outra oportunidade eu já lhe havia recitado. Moveu negativamente a cabeça. Tomei o último trago de café e a repeti no ritmo de uma oração: [Se Deus existe, se é ao mesmo tempo onisciente e onipotente, ou Ele não pode fazer nada para impedir as mais terríveis calamidades ou então Ele não tem interesse nisso. Portanto, ou Deus é impotente, ou então é mau].
Ficou imóvel. Seus olhos se encheram de brilho. Até a música caipira que vinha do subsolo parecia um cântico gregoriano. Esperei uns segundos e concluí: Por mais doentia que seja a fé não é mais possível ignorar que: ou Ele é menos que uma falha tectônica ou Ele têm um caráter sanguinário.
Ficou imóvel. Seus olhos se encheram de brilho. Até a música caipira que vinha do subsolo parecia um cântico gregoriano. Esperei uns segundos e concluí: Por mais doentia que seja a fé não é mais possível ignorar que: ou Ele é menos que uma falha tectônica ou Ele têm um caráter sanguinário.
Ezio Flavio Bazzo
Mas de acordo com a maioria das religiões, porém usando o catolicismo como base, todos os mortos agora não estariam no paraíso, sendo que foi o próprio deus que matou eles, então o próprio deus que selecionou eles para o paraíso. Usando a lógica da religião, Deus foi nada mais nada menos que o salvador. Fora o fato da escolha entre vida ou morte, ser somente de Deus, e isso o próprio religioso é que acredita.
ResponderExcluirCorreção, "todos os mortos agora estariam no paraíso."
ResponderExcluir"Dava graças de nao ter de acreditar em deus, pois, perante semelhante estado de coisas, ser-lhe-ia intolerável.
ResponderExcluirSo era possível reconcilhar-se com a existência na certeza de que ela nao tinha nenhum sentido"
W.S. Maughan
DIZEM ADEPTOS DA TEORIA DA CONSPIRAÇÃO Q A MANIPULAÇÃO DOS TSUNAMIS, DESSE CALOR INSUPORTÁVEL E VÁRIOS CATACLISMAS CLIMÁTICOS É OBRA DOS DEUSES DO DINHEIRO, OS JESUÍTAS E OS MAÇONS COM A INTENÇÃO DE ACELERAR O APOCALIPSE NO TERCEIRO MUNDO...
ResponderExcluirpra mim não muda nada se Deus existe ou não existe, tanto faz. O que importa é que felizmente a vida dura pouco, ando louco para morrer duma vez. Este mundo é um lixo.
ResponderExcluir