sábado, 17 de maio de 2025

De Callao...a Chancay... e das neuroses de repetição nos tempos modernos...





Nos últimos tempos o Peru (o país) e os peruanos vêm ocupando diariamente as manchetes dos jornais e das revistas. Depois da morte do Fujimore e do Abimael Guzmán (aquele do Sendero Luminoso que passou grande parte da vida numa jaula), morreu também o Vargas Lhosa (autor de A festa do Bode e prêmio Nobel de literatura); em seguida elevaram a papa um padre que militava em Chiclayo, e agora, de uns dias para cá, só se fala no Porto de Chancay (ali no Pacífico peruano), porto que promete transformar a América Latina num Shangri-La, ainda mais folclórico, com luzinhas e brinquedinhos de plástico advindos da Ásia... 

Prestem atenção: trata-se do Porto de Chancay, (construído, em parte, pelo governo & operariado chinês, este, o mesmo que, lá por 1910 (meio clandestinamente) construíu o Canal do Panamá e que morria como moscas por lá). 

Não confundir Chancay com Callao, 

A propósito, o porto de Callao (este, no Pacífico sul-oriental), também já teve uma imensa importância, principalmente na época da chegada de escravos africanos ao Peru e à região. Leio na página 334/335 de Homens de ferro, mulheres de pedra, do historiador Bruno Pinheiro Rodrigues: "Por lo que toca a los escravos destinados al Perú, éstos llegaban o eran entregados en Nombre de Dios, puerto situado a orillas del golfo de México. De allí debían atravesar el istmo para llegar a Panamá, sobre el oceáno Pacífico. De Panamá una nueva travesía hacia el Puerto de Callao, que (junto ao Porto de Arico) era el gran punto de distribución de cativos do vice-reinado do Perú... (...) Frequentemente, quando um cativo era confiscado por autoridades, davam-lhe por morto e o vendiam..."

Voltando a falar sobre os trabalhadores chineses que, em regime de escravidão, ajudaram a edificar o canal do Panamá, esse mesmo operariado, os conhecidos coolies (trabalhadores asiáticos que eram vendidos ou alugados para governos aqui do Perú, Cuba e Estados Unidos e etc), também atuou (e no mesmo regime), na construção da fracassada estrada de ferro Madeira-Mamoré, ali em Rondônia... A tal Ferrovia do Diabo que, teatral e demagogicamente, chegou até a ser inaugurada: 1912! Alguém se lembra? Ainda existem por lá, entre os idílicos rios Madeira e Mamoré, alguns vagões, trilhos e pedaços de tratores e fotos dos trapaceiros da tal Railway Company, sem falar da melancolia nacional, da malária, das ossadas dos trabalhadores forasteiros... e, naturalmente, das cinzas de uma imensa fortuna enterrada e apodrecida no meio da selva... O que sobrou? Um pequeno  museu na cidade de Porto Velho. Um pequeno acervo dos sonhos, das mentiras e das tralhas, daqueles tempos... Y asi se van los días... y los siglos...


 








Nenhum comentário:

Postar um comentário