domingo, 11 de maio de 2025

A velhinha armênia, a falácia da caridade e Sísifo...







Como hoje é domingo e, ainda por cima, o dia em que os comerciantes, malandramente, decidiram que se comemora o dia das mães, a velhinha armênia apareceu bem cedo no mercado, de vestido novo, vestimenta tradicional das mulheres de Yerevan, e também com um novo véu, preto, enrolado ao pescoço, este, trazido do Azerbaijão...

Dialogava com outra velhinha, bem mais safo do que ela, ex funcionária pública e diretora de uma dessas empresas que costumam inventar falências para 'lavar dinheiro' e desviar impostos... 

O assunto? Naturalmente, o novo papa. O papa yanke/peruano que o Trump, nos bastidores, e para o bem de Walt Street, emplacou em Roma. No geral, as duas o achavam simpático e, apesar de prometer o óbvio, "construir pontes" e seguir investindo na "caridade" e nas mesmas bobagens fictícias que vêm sendo prometidas desde o Cântico dos Cânticos: ordinavit in me charitatem e desde Pedro, concluíam que, como escreveu Camus, é preciso imaginar Sísifo feliz... 

Mas, caridade? Resmungou a velhinha mais safo. Investir outra vez na caridade é investir na filosofia da miséria! O mundo já vem batendo nessa mesma tecla há séculos, e veja os resultados... Viaje pela periferia do Brasil, da América Latina, da Ásia e da própria Itália... Há por todos os lados uma Ilíada de famintos e de condenados da terra, de dar dó... E depois, quem é que não sabe que até a Revolução Francesa já propunha a substituição da tal "caridade" por "assistência"! Ora! Chega de babaquice! Insistir na caridade é querer ensinar o populacho a respirar pelas feridas... E qualquer bobalhão já sabe, e os degredados, ainda mais, que só existe queijo grátis nas ratoeiras...

A velhinha armênia ouviu em silêncio e, tomada por seus mais reacionários e primitivos instintos, concluiu: É... colega,.. mas como dizia Camus, independente do blá-blá-blá vigente, alienado e metafísico, é preciso fazer de tudo para imaginar um Sísifo feliz...

Na janela de uma birosca em ruínas (bem em frente ao mercado), dois marmanjos mal desmamados e em plena embriaguês, cheios de culpabilidades, cantarolavam a antiga e deprimente música de um tal Agnaldo Timoteo...










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