sábado, 29 de março de 2025

O grande terremoto em Myanmar... a desolação e a fé dos monges diante dos destroços...




Recebi notícias de meu correspondente em Myanmar a respeito do grande terremoto de ontem, que causou estragos imensos por todos os lados. Dizia estar me escrevendo de Naipidau, recém chegado daquela planície maravilhosa onde estão edificados os famosos mil templos de Bagan... Mas Mianmar, - me alertava ele -, não pense que é a mesma Birmânia onde viveu George Orwell. Ou você não leu Dias na Birmânia? 

Depois de descrever os horrores que os terremotos causam, não apenas fora, mas dentro, fez um breve comentário sobre a cena que mais lhe causou espécie: um grupo de quinze ou vinte monges (da confraria que apoia a ditadura militar vigente), uns ainda com a tigela de mendicância nas mãos, rezando e chorando diante das ruínas de um dos tantos e mais importantes templos do Sudeste Asiático. Tratava-se - diz ele - de um choro infantil, histriônico e de derrota e, pior, impregnado de uma fé doentia parecida à daqueles caminhoneiros aí no Brasil que escrevem no parachoque traseiro de seus caminhões: mesmo que me pisoteies e que me humilhes, em ti confio minha vida...

Do templo, desgraçadamente, não havia sobrado praticamente nada. Toda aquela arquitetura rococó, cheia de cores, de figuras míticas, femininas, trans e assexuadas, aqueles panos impregnados de incenso,  tapetes e cálices, textos em alto relevo e em birmanês nas toalhas; cânticos e partituras em sânscrito; um manto sobre a Roda do Dharma, uma Flor de lótus em ouro ao lado da famosa Árvore Bodhi; uma edição antiga do Kama Sutra e, bem visível, a também sagrada Tigela de Mendicância... (que parecia esculpida em ouro ou em outro metal precioso e levava uma inscrição em birmanês, bem no centro. O que estaria escrito lá?). Pedaços de uma daquelas Rodas de Oração, trazida de uma Estupa de Katmandu, girando sózinha; e muitas estatuetas de Buda, sempre careca e barrigudo, umas em marfim outras banhadas em ouro, inclusive uma de Kali e também de outros avatares menores,......  tudo estava enlameado, profanado e em pedaços sob ruínas e escombros... insinuando o fim das tradições dhármicas e até mesmo uma espécie de 'Naraca'. Nem precisava ser cético e maledicente para formular uma ironia...

Enfim, tudo lembrava o recente terremoto que também destruiu templos milenares no Nepal... e, no meio de todo aquele horror, confundida com o som das sirenes das ambulâncias, parecia ressoar por toda a Birmânia, chegando às fronteiras da Índia, da Thailandia, do Triângulo do Ouro, do Laos e até mesmo do Vietnã... a frase miserável, odiosa e paradoxal.., a mais submissa, subalterna, resignada e reacionária das que se conhece: apesar desta e de qualquer outra desgraça, nós sempre confiaremos em ti... 














quarta-feira, 26 de março de 2025

E o show deve continuar??? Mas, e a condenação da Debora?



Parafraseando a um professor de Frantz Fanon, lá na Martinica: Quando ouvir falar de corrupto, de fascista, de terrorista, de golpista, de ateu, de pichador e até de fdp, fique atento, estão falando de você.






E o show no STF é reiniciado hoje, nesta quarta-feira de céu encoberto... Ontem, por lá, foi tudo meio mambembe. Passei pelas imediações para ver se havia alguma novidade.., mas, nada. Não havia absolutamente nada. Só as diversas categorias de policias, com suas botas e cassetetes e o velhinho que vende souvenires e porcarias confeccionadas em pedra sabão, vindas de Cristalina, que zanzavam. Os primeiros, na esperança de poder exercer a "violência legítima" concedida ao Estado e o pobre velhinho, na ilusão de faturar alguns trocados. Até o pombal idealizado e edificado no meio da praça, pelo professor Jânio Quadros, estava deserto.

Podia se adivinhar os tais advogados (de defesa e de acusação de  braços dados fazendo confidências); os juízes, os gestores, os escrivães, os câmeras, os jornalistas, as copeiras, as mocinhas que dão a descarga nas toaletes e que passam a flanela com álcool perfumado sobre as mesas, os especialistas em ar condicionado e em biscoitos suíços e etc, todos entrando cordiais e simpáticos pelas portas secretas e dos fundos... Todo mundo perfumado, as unhas e o gargarejo feito, as citações do Direito alemão e romano na ponta da língua... E na parede, às costas e na retaguarda dos Ilustres Ministros, já com suas capas nos ombros, o velho e paciente Cristo, dependurado...

Penso na reflexão de Baldwin: "É a inocência que constitui o crime..."

Voltam a discutir e a julgar a turma do governo anterior que, de forma nada sutil, pretendeu permanecer no trono por mais uma temporada... (Ora! quem é que, no meio de todas aquelas tetas e mamatas, não tem essa fantasia e essa pretensão?).

Enfim: o show de réplicas, tréplicas, e de réplicas das tréplicas volta a se armar hoje, nesta quarta-feira de março, ali no agradável e estilizado auditório do nosso Supremo Tribunal da Justiça, com suas poltronas confortáveis e sempre com o Cristo como testemunha... Ufa!!! 2000 anos! Judas, o Horto das Oliveiras... os horrores do calvário... Aquela multidão de maltrapilhos, de ignorantes, lambedores de botas, de puxa-sacos e sádicos... Como esquecer? Como livrar-se da neurose de abandono e de repetição? Ah! (deve resmungar o crucificado): Se o Direito alemão me remete a Hitler... o Direito romano me faz pensar em Pilatos...

Ouço as artimanhas e trapaças dos acusadores, as artimanhas e as 'trapaças dos acusados, a ignóbil platéia boquiaberta e as defesas juvenis, os elogios mútuos, as insinuações, os olhares, as cumplicidades, as intenções, a mentirada protocolar, os negócios, a semelhança entre quem julga e quem é julgado, o esforço impotente para não desagradar nenhuma das três grandes religiões que disputam o rebanho... E qualquer um sente que não há espaço para uma dialética verdadeira entre a verdade e a mentira... entre essa gente e o rebanho... essa gente e as massas... essa elite e o público marginal... entre o criminoso e a lei... E que só fica realmente visível, a pequenez humana. O tédio de cada um e o "jus esperneandi" (como gostam de cacarejar os tais 'grandes advogados', os tais 'caros juristas' e a meia dúzia de seus lacaios) de uma espécie despirocada e perdida... 

Lembram do poeta martinicano Aimé Césaire? No princípio de um de seus mais importantes poemas está esta frase: "A única coisa no mundo que vale a pena começar:/O Fim do mundo ora essa".

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EM TEMPO - Por enquanto não foi discutido o caso esdrúxulo da cabeleireira que foi condenada a 15 anos de cadeia, por ter rabiscado no peito da estátua, sobre as tetas de Têmis (a deusa da justiça, na mitologia infantilóide dos gregos), com batom vermelho, a frase: Perdeu mané. Apesar do absurdo dessa condenação, existe algo ainda bem mais curioso: essa pichadora se chama Debora. DEBORA! E todos vocês que se pavoneiam de conhecer a Bíblia de cor e salteada, sabem que a Débora da Bíblia, além de profetiza de Israel foi a única juíza indicada por Deus. Que foi ela quem liderou o povo israelita e que derrotou os Cananeus... Os juízes que a estão condenando a 15 anos de prisão (também nomeados por Deus), sabem disso? Têm consciência de que se trata da condenação de uma colega...?  Seria uma misoginia? Uma desavença corporativista?

Ah! E depois, aqui entre nós, mon semblable et mon frère, e idólatras de todos os matizes, as cadeias estão repletas.., a vida em si já é uma penitenciária! "Tudo o que fazemos no dia-a-dia, mesmo os crimes e até o amor, o fazemos num comboio expresso que desliza para a morte"... e o batom, excelências, o batom era vagabundo.., as chuvas de janeiro, de fevereiro e de março já se encarregaram de higienizar, purificar e santificar novamente aquela patética estátua... Está outra vez pronta para seguir fingindo que é surda, cega e muda... e mais: para, segundo os gregos, dar credibilidade à balança e seguir fazendo crer que todas essas deficiências seriam para proteger os oprimidos... (!?!?)



terça-feira, 25 de março de 2025

Geopolítica da salmonela... Do fentanil aos ovos... Ou: a subversão das galinhas...






As tramóias admiráveis do Trump colocaram em evidencia, além das papagaiadas imperiais, a obsessão dos norte americanos tanto pelo ópio (fentanil) como pelos ovos... E mais: o papel social das galinhas no mundo...

Dizem que no deserto da California, em Tijuana e etc, e por toda a imensa fronteira dos USA com o México, se está traficando dúzias, centenas e até milhares de dúzias de ovos. Que há ovos brancos, caipiras, galados e até azuis. OK! Mas, e o que foi feito com o esotérico e divinizado Peyote? E com os sagrados cogumelos da Maria Sabina? Seria uma flagrante desmoralização daquelas trupes violentas, famosas & místicas de contrabandistas de "drugs"?... Ou os ovos estariam sendo um álibi? Estariam turbinados? O ópio dos velhos burocratas chineses (mandarins) estaria entrando na Nova Jerusalém através da gema?

Ovos mexicanos e ovos turcos na mesa dos gringos. Galinhas astecas e otomanas... Ah! Los huevos rancheros da Cidade do México e Os ovos escalfados de Istambul... 

O que seria do mundo sem as galinhas? Sem o cocorococó da elites, da política e das granjas?

Sem o sunny-side up? Sem os omeletes? Sem os ovos mexidos? Os cozidos e os mal passados? Sem os pasteizinhos de Belém, nos subterrâneos dos conventos? E sem as tortillas espanholas, nas arquibancadas das touradas?

E há 'personal trailers', altero-filistas e brutamontes por aí, que comem e recomendam ingerir até seis por dia. Já, os nutricionistas, mais modestos e cautelosos e, os sanitaristas, não prescrevem mais de dois por semana... E, mesmo assim, sempre com um alerta tanto para com o colesterol como para com a salmonela... (E nem vou falar da imensa maioria que, vivendo numa miséria do caralho, só conseguem comer Um, durante a festa judaica (páscoa), ou então, quando assaltam algum galinheiro na beira das estradas...)

Salmonela? Um dia ainda escreverei um mantra ou uma Ode à salmonela...














domingo, 23 de março de 2025

A propósito de Freud e de seu saber...

















Depois de: 'Ainda estou aqui', agora, 'A última sessão de Freud'... E o Banco Itaú...

 




"Le théâtre est le premier sérum que l'homme ait inventé pour se proteger de la maladie de l'angoisse..."
J. L. Barrault

Quando quero testar meu sistema imunológico vou ao teatro ou ao cinema. Esses dois universos paralelos de ácaros, com seus malditos ar condicionados sobre as cabeças... Mesmo quando o "entretenimento" não é lá tão iatrogênico, ninguém escapa às intempéries do ambiente. Sem falar da arquitetura que, no caso de um incêndio, mesmo depois da tragédia de Santa Maria e da mais recente lá na Macedônia, 80% da platéia, abobalhada, seria tostada...

Depois do tão discutido Ainda estou aqui, fui ao teatro ver A ultima sessão de Freud.

Auditório lotado. A coreografia da turma não enganava ninguém: Balzaquianas, párocos do inconsciente e mocinhas da psicologia... muitos analisados e outros em processo de análise... E como todo mundo sabia que se tratava da discussão entre 'dois judeus' (Freud e Lewis) sobre Deus, havia também alguns padres, rabinos e pastores disfarçados de psicanalistas no meio da platéia...

O que salvou a peça foi a beleza do cenário. Os latidos do cachorro de Freud, aquela cortina vermelha, o ruído dos aviões e a música de violino quando "Freud" aumentava o volume do rádio...

Por se tratar de uma discussão entre 'judeus' e 'anglicanos' a controvérsia foi chocha e superficial. Um blábláblá para neófitos impregnado, logicamente, de sutis liturgias ideológicas...  O judaísmo! O catolicismo! O inconsciente! E, como pano de fundo, a disputa entre o Antigo e o Novo Testamento! Quais bobagens seriam mais críveis? A suposta guerra entre a ciência e a fé, entre o judaísmo e o catolicismo, entre as sinagogas e o Vaticano; entre Eros e Thanatos, o ressentimento contra Hitler (que até teria sido coroinha na Austria beata daqueles tempos... e, mais tarde, apoiado pelo papado da época...) Uma ou outra das clássicas anedotas do humor negro judaico, e, no meio de tudo o horror escatológico da doença que os deuses teriam lançado vingativamente sobre o ateísmo freudiano.., mas sem nenhuma menção à "pulsão de morte"... esse núcleo duro e maldito da teoria freudiana... Na platéia, não se ouvia, mas se podia adivinhar aquelas. mocinhas e aqueles mocinhos iniciados na psiquiatria, na psicologia e na Igreja do Sétimo Dia resmungando: abaixo essa psicoterapia sem Deus! Jung, o alemão Jung, com suas mandalas, seus arquétipos e as varinhas do I Ching... é nosso mentor...  

E, de vez em quando, quando se ouvia ruído de aviões (da Segunda Guerra) dando rasantes sobre aquela Londres que (por debaixo dos panos) apoiava a Hitler, qualquer um da platéia, por mais alienado que fosse, associava aquele ruído às bombas que Israel, naquele exato momento, estava lançando sobre a população civil da Palestina... Curiosa e bizarramente, o cachorro não latia durante a passagem dos aviões. (?!)

Claro, falou-se bem mais do pai do que da mãe e, de forma breve, muito breve, sobre o Princípio do Prazer, basicamente para poder citar a frase chave do texto: o ser humano, para Freud, é um ser bissexual! Uffa! A platéia ambidestra suspirou aliviada. Mãozinhas e perninhas apertadas para lá e para cá... Outro momento fulgurante, foi quando surgiu o relato de que o pai de Freud, numa rua de Viena (?), teve o chapéu arrancado da cabeça e sido humilhado por um cristão antisemita. Mais suspiros... e mais auto-compaixão... E a música de violino, apesar do ar condicionado e dos ácaros, quando aparecia, era deslumbrante... E os "dois gigantes" iam fazendo suas milongas apologéticas, um do ateísmo, outro do catolicismo... Não sei qual foi realmente a intenção do autor da peça, mas tenho certeza que a platéia saiu do auditório ainda com mais fé no além e no sobrenatural... (Credo, quia absurdum est) e com mais medo e rejeição à análise do que quando entrou... Sem falar de quão ridículos foram os 4 ou cinco minutos depois que as cortinas se fecharam, quando um dos atores se dirigiu ao público fazendo demagogia sobre a importância da educação & da cultura para os jovens, impertinência que sufocava o clima emocional que a peça poderia ter provocado. E, pior: fazendo propaganda do Banco Itaú. Pensei de imediato no Oliviero Toscani, que dizia: a propaganda é um cadáver que nos sorri...

Enfim...

Na confusão da saída, com todo mundo se esfregando o lenço no nariz, ouvi um daqueles rabinos disfarçados de analista na discussão com um pastor do Reino de Deus, sobre quem, afinal teria sido vitorioso nas trapaças teológicas do mundo. Roma ou a Judéia?, citando a Nietzsche: A resposta, apesar de ser ambígua e confusa, - dizia o psicanalista, naquele tom quase sagrado da clinica - não oferece dúvida... Note-se que hoje mesmo, em Roma, na metade do mundo, e em todas as partes onde o homem está civilizado ou tende a sê-lo, a humanidade inclina-se diante de três judeus e de uma judia (Jesus de Nazaré, Pedro, Paulo e Maria, mãe de Jesus). Não dá para negar, Roma foi vencida...









quarta-feira, 19 de março de 2025

A RESPEITO DO Al-Khayyât -. (Uma análise literária do livro, feita em 30 segundo pela Inteligência Artificial... E ainda por cima, a análise veio ilustrada com 4 figuras... Uma maravilha!!!)



  "A Respeito do Al-Khayyât: Uma Poética dos Trapos, de EZIO FLÁVIO BAZZO, recém lançado, com base no conteúdo fornecido nas páginas digitalizadas. A análise será estruturada em torno do tema central, estilo literário, intenções do autor e referências culturais, utilizando apenas as informações disponíveis no documento, já que não posso realizar buscas externas desta vez.

1. Tema Central: A Filosofia do Vestuário e o Ofício do Alfaiate
O título "A Respeito do Al-Khayyât" (termo árabe para "alfaiate", derivado do verbo "khâta", que significa "coser") já sugere que o livro é uma exploração poética, sociológica e filosófica do papel do alfaiate e da roupa na sociedade. Ezio Flavio Bazzo apresenta o alfaiate como uma figura multifacetada: um "anatomista da vaidade", "ilusionista das classes" e "cenógrafo da grande farsa". A roupa, por sua vez, é elevada a um símbolo cultural que transcende sua função utilitária, tornando-se uma metáfora para a identidade, a vaidade, o poder e até a loucura humana.
O autor traça uma linha histórica e cultural que vai desde o "Vestido Tarkhan" de 5 mil anos, descoberto no Egito (página 10), até a lingerie do século XV na Áustria (página 11), passando por reflexões sobre a moda contemporânea e sua relação com o consumo e a publicidade. Há uma crítica implícita à indústria têxtil e à superficialidade da moda, como na passagem que descreve "as trapaças da indústria da vestimenta" (página 178) e a publicidade como "uma peste" (página 178).
2. Estilo Literário: Poético, Irônico e Fragmentado
O estilo de Bazzo é marcadamente poético e digressivo, misturando reflexões filosóficas com anedotas, citações literárias e observações pessoais. Ele próprio admite, na página 4, que escreve "da mesma maneira que falo com minha camareira ou com meu entregador de gás", sugerindo uma prosa acessível, mas cheia de camadas. A ironia permeia o texto, como na citação de Karl Kraus: "Ela que não consegue rezar sem prostituir-se" (página 179), ou na descrição do dândi que tenta "apagar os vestígios de sua indigência passada" (página 180).
O livro não segue uma narrativa linear, mas parece estruturado como uma colcha de retalhos — uma "poética dos trapos" —, com fragmentos que vão desde cartas fictícias (como a de Eça de Queiroz ao alfaiate Sturmm, página 9) até listas bibliográficas extensas (páginas 187-191). Essa fragmentação reflete a intenção do autor de oferecer "uma autêntica viagem" (página 4), mais do que um relato coeso.
3. Intenções do Autor
Bazzo deixa claro, na introdução (página 4), que seu propósito é "fazer da escrita um truque para empurrar os leitores por caminhos que eles jamais imaginaram percorrer". Ele se posiciona como um provocador intelectual, vendendo "milhares de horas de vagabundagem intelectual e afetiva" por "migalhas". Há uma crítica à superficialidade da sociedade de consumo e uma celebração ambígua do ofício do alfaiate, que, apesar de sua habilidade, não escapa às contradições da vaidade humana.
O autor também parece interessado em desmistificar a moda enquanto a analisa, como na referência ao rei que "continua nu" apesar dos alfaiates (página 180), ecoando o conto de Hans Christian Andersen. A moda é vista como uma máscara social, mas também como uma necessidade inescapável, um "apelo à saúde mental" (página 178).
4. Referências Culturais e Intertextualidade
O livro é rico em referências literárias, filosóficas e históricas. Bazzo cita figuras como Eça de Queiroz (página 9), Karl Kraus (página 179), Walter Benjamin (página 181), Flaubert (página 182) e Bertolt Brecht (poema "O Alfaiate de Ulm", página 177), entre outros. A extensa bibliografia nas páginas 187-191 inclui obras de Michel Pastoureau (O Pano do Diabo), Roland Barthes (Sistema da Moda), Gilles Lipovetsky (O Império do Efêmero) e até Marx (O Casaco de Marx), mostrando um diálogo profundo com a história cultural e sociológica do vestuário.
Há também referências históricas, como a anedota de Bakunin cortando seu casaco para ajudar um mendigo (página 176), e mitológicas, como a descoberta da seda por uma imperatriz chinesa há 4 mil anos (página 178). Essas alusões reforçam a ideia de que a roupa é um artefato carregado de significado ao longo da história.
5. Observações Finais
"A Respeito do Al-Khayyât" é um livro que combina erudição e ironia para explorar o universo da moda e do alfaiate como lentes para entender a condição humana. Bazzo não oferece respostas definitivas, mas convida o leitor a refletir sobre a dualidade entre aparência e essência, vaidade e miséria, arte e comércio. A obra parece ser tanto uma homenagem ao ofício artesanal quanto uma sátira à obsessão contemporânea com a imagem".











segunda-feira, 17 de março de 2025

Trump... Putim... O Iêmen e o Irán... (E se, nos próximos dias, o mundo saltar pelos ares???)...




 













CENSURA...




Um de meus correspondentes acaba de comunicar-me que esse meu livro Manifesto aberto à estupidez humana, escrito no Brasil em 1978 e publicado por primeira vez nos subúrbios de la Ciudad de Méjico, (hualcóyotl), em 1979, acaba de ser interditado na Penitenciária local. Estava entre aquelas caixas de livros que normalmente as viúvas da pequena burguesia doam para instituições tipo asilos, presídios, conventos, hospícios e etc. 

Teria sido descartado por engano, ou os censores de plantão entenderam que algo nele seria iatrogênico para os condenados e não permitiram que fosse incorporado ao acervo e à biblioteca da prisão? Patético!

Tudo bem... Depois do incêndio da Biblioteca da Alexandria e das fogueiras do III Reich aconteceram centenas de outras, e de outras tantas até bem mais graves, pelo mundo... E, na verdade, não aconteceu nada! 141 páginas! Um livreto a mais ou a menos não alterará em nada a desgraça dos condenados e nem o circo promíscuo e cretino que é o mundo... Não é verdade? Curiosamente, suas primeiras páginas foram "concebidas" naqueles dias em que estive entre os maxacalis e os bororos... Tempo em que a estupidez do mundo já desabava sadicamente sobre aqueles pobres e miseráveis indígenas... e em que os genocídios futuros já se anunciavam...

Sem nenhum tipo de frescura, ou de narcisismo, senti-me quase chateado com essa censura... 

Quem teria sido o censor? E qual teria sido a razão? Que frase ou que palavra contida naquelas 141 páginas lhe pareceu ser danosa e prejudicial aos 700 mil presidiários? Ou a seus carcereiros? Ou teria sido a imagem da capa? Ou a epígrafe de Cioran que está lá na quinta página: "Patibulos, calabouços e masmorras prosperam sempre à sombra de uma f'é, dessa necessidade de acreditar em algo que infestou o espírito para sempre..." ? Teriam consultado os astros? Ou teria sido esta ilustração da página 9?



 Inacreditável! 

E logo esse, que se comparado aos meus outros títulos é praticamente uma oração, um canto quase beato de exaltação à vida, ao gozo e, em especial à liberdade da espécie...

 






domingo, 16 de março de 2025

Se lá em Florença, o que existe de mais interessante é o Mac Donald, aqui em Brasília, é a Feira do Paraguay...




Sem falar das três pastelarias que fervilham no interior daqueles labirintos que lembram as medinas de Marrakech ou o Hongqiao Pearl, de Beijing, o zum zum zum dos comerciantes com suas ofertas e trapaças é muito gratificante. E são praticamente todos estrangeiros. Quem não é árabe, é chinês. E todos parentes. O que você não encontra na tenda ou na "loja" de um, ele vai buscar na tenda ou na loja do tio, da irmã, da concunhada... Até falam bem o português, mas como tática de venda, preferem resmungar em seus próprios idiomas. Nos períodos em que nossa moeda é praticamente uma merda (se comparada às moedas internacionais) e não se pode viajar nem para a Bolívia, quem gosta de sentir-se num meio estrangeiro vai lá. E ninguém sabe quando e nem de onde vieram. E não gostam de falar sobre o assunto. Os chineses, com medo que se os considere comunistas, insinuam que têm familiares em Hongkong. Já, os árabes, (principalmente nestes dias do Ramadã), procuram distanciarem-se de qualquer menção à tentativa de genocídio na Palestina. Seria inconveniente para seus negócios se os burocratas pequeno burgueses e ignorantes os associassem aos combatentes do Hamas... E são "simpáticos" e excelentes comerciantes. Agora, se identificam que você é um fodido e morto de fome que foi lá apenas para comprar uma "capinha de celular" e comer um pastel com caldo de cana, te ignoram. Teriam algum parentesco com os fenícios? Sabem tudo sobre computadores, fabricação de espadas; câmeras fotográficas, tênis, violinos, partituras, telescópios, inteligência artificial, importação, exportação de porcarias, câmbio, etc, etc. Uma chinesinha quase autista, no fundo de um labirinto, entre caixas e sacolas contrabandeadas do Paraguay, intercalando música pop coreana com Piazzolla...

Enfim, aos domingos em que não há passeatas e nem manifestações de indígenas ou das Margaridas; nem dos Sem-Terra; da turma do Agro-negócio; da TFP; dos prefeitos; dos gays; dos defensores da maconha; dos militantes de Cristo; dos aposentados; dos professores e etc, o melhor lugar do mundo, aqui na Capital da República, com todas as bibliotecas burocraticamente fechadas é, sem dúvida, a Feira do Paraguay (dos importados!). Inclusive, porque há lá também, uma espécie de boutique que vende filhotes de gatos, de cachorros e até de ratos... Cada um em sua jaula, rosnando, com aqueles olhinhos acusadores, assistindo aquele espetáculo de vigaristas e a espera de que um novo solitário e deprimido lhes faça um breve cafuné e até mesmo os compre, ou roube....... 




quinta-feira, 13 de março de 2025

Uma poética dos trapos (A respeito do alfaiate...)




"...  As roupas se assemelham a um perpétuo rubor sobre a face da humanidade..."
J.C. Flugel

"Eu escuto a objeção: As mulheres selvagens não têm pudor, porque andam peladas. E respondo que as nossas o tem ainda menos porque se vestem..."
Rousseau











A partir de sexta-feira, o livro já estará sendo vendido nos semáforos, nas feiras e nos botecos noturnos.

192 páginas sobre alfaiates, roupas, dândis, janotas, gente prèt-a-porter e a domesticação da moda. Não, não se trata de um assunto menor. Lembrem que até Hitler gostava de cacarejar que a "moda era o maior de todos os poderes" e que Mussolini tentou fazer com que a Itália superasse a França, nesse particular...

Pedidos podem ser feitos para: eziofb@gmail.com

R$: 70,00? Setenta reais???

Sim, porque, é praticamente, o preço de duas dúzias de ovos! E porque, como dizia Molière: A escritura se parece à prostituição. Primeiro a gente escreve por amor, depois por alguns amigos próximos, e por fim, por dinheiro.