terça-feira, 14 de maio de 2024

A dívida do Rio Grande do Sul e Jacques Derrida...





E a tragédia do Rio Grande do Sul não sai da mídia. Cada dia mais detalhes daquela devastação e os repórteres, todos adestrados na singeleza das mesmas escolas, seguem selecionando as imagens e as declarações mais emocionalmente terríveis para chegar ao coração das donas de casa, dessas coitadas que, desde que nasceram, esperam pelo apocalipse ou, pelo menos, por um novo dilúvio... (Ah, é o destino!)

Agora, o que está em pauta, até na agenda dos mendigos, e causando espanto, é a revelação da dívida de 100 bilhões que aquele estado diz ter com a república. CEM BILHÕES! E isso, de empréstimos feitos bem antes do desastre das águas! O que teriam feito com toda essa dinheirama, que não domaram os rios, que não construíram os diques necessários e que não edificaram chalezinhos de dois andares para todos aqueles ribeirinhos fodidos condenados aos pântanos e às margens dos rios???

Com 100 bilhões, (R$:100000000), argumenta o Mendigo K, poderiam ter, não apenas feito o carreamento dos rios como os franceses fizeram com o Sena, mas inclusive feito de Porto Alegre uma espécie de cidade suspensa tipo os Jardins da Babilônia, onde a fúria de Netuno, mesmo que quisesse, jamais poderia chegar.

E agora, querem o perdão da dívida! Tudo bem, estão cercados de entulhos, de destruição, de assaltos e de mortos por todos os lados... Houve até um tremor de terra, que não lembra em nada o de Lisboa de 1750, mas que foi um terremoto...  Enfim, agora, que o placebo das rezas e da fé se mostrou pernóstico e mais do que inútil, seria interessante aproveitar esse horror (climático administrativo), que se repete de maneira semelhante ou até pior nos outros 26 estados do país, para desvendar o oculto, ao invés de tentar ocultar o que já se encontra desvendado. Pois, como diria Althusser, (plagiando sutilmente a Marx), é preciso que o trabalho do alfaiate não desapareça na roupa! Além disso, quem é que, no auge do cinismo parlamentar ou do delírio pseudo monárquico, se sente capacitado e autorizado a perdoar? Sim, eu sei, o argelino Jacques Derrida diria: é conveniente que se perdoe, pelo menos o imperdoável...

Mas, convenhamos, não é o fim do mundo... trata-se apenas de mais um entre-ato da comédia humana. (Fernando Pessoa, por debaixo daquele chapeuzinho ridículo, ao invés de entre-ato diria um interregno)

Enquanto isso, num daqueles insalubres abrigos, uma adolescente cheia de mágoas, ainda com a cabeleira ensopada pela tormenta e perdida em pensamentos, cantarolava amorosamente (mas com uma pitada de ironia) Aguas de março, da gaúcha Elis Regina...


 

Um comentário:

  1. https://www.correiobraziliense.com.br/colunistas/mariana-morais/2024/05/6849359-cache-de-madonna-e-revelado-e-valor-exorbitante-gera-revolta.html

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