sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Obras paralisadas! Dilema nacional: Obrar ou não obrar?



"...O erro dos que captam a decadência é querer combatê-la, quando deveriam fomentá-la: ao desenvolver-se, esgota-se e permite o acesso de outras formas..."

(E.M.Cioran)




Quem é que ainda se abala com esse tipo de revelações do TCU? Segundo os mais niilistas, neste auge de decadência em que estamos, quando declaram quase nove, é porque deve haver umas quinze mil...

Aqui entre nós: o problema não são as 9 mil obras paralisadas e os 113 bilhões jogados no lixo, nem os esgotos que correm na porta dos barracos (nem a febre tifóide ou a leptospirose); nem os meios de transporte; nem as escolas e os ambulatórios em pedaços, com professores, motoristas e médicos clandestinos "formados" à distância...

O problema maior, é que agora que passou o Natal e o Fim de Ano, todos os jornais, todas as televisões, e as hienas do turismo e do comercio, já estão investindo pesado para arrastar os exaustos rebanhos para o Carnaval... Ah! o carnaval! Ah! Depois do futebol, é a festa mais popular e mais cobiçada do mundo. (E este conceito não é apenas do populacho, é até de alguns althusseristas, leninistas e trotskistas..) Ah! o misticismo sacrossanto da Bahia! Pena Gregorio de Matos não estar mais lá! "les orgies organisées à ces occasions devaient donner aux dieux l'exemple de la fertilisation de la terre..." Ah! A Babilônia maravilhosa que é o Rio de Janeiro, com aquele filho de Deus distraído e de braços abertos no alto de um rochedo! Sim, há milícias e matança em todos os becos, (até os cegos enxergam) mas isto é apenas uma preocupação e um detalhe sentimental do pequeno burguês paranóico! A propósito, o que haveria de mais burguês do que um sentimento? Há propagandas da magia e da luxúria destas festas baianas e cariocas nas ruas de Paris, de Londres e até na Time Square... O dito primeiro mundo, só é Primeiro Mundo nas grandes e visíveis avenidas... um pouco mais para a periferia é ainda uma cloaca de superstições colonialistas, de feitiçarias e de seitas... de alucinações e de histerias coletivas... lembram do bode emissário? "le magicien transfère une maladie d'un être humain à un animal, chassé ensuite au loin avec la maladie qu'il emporte, tandis que le malade, lui, est guéri..."

Em ritos pré zodiacais, muitas senhoritas já estão se bronzeando as ancas, as tetas e as virilhas nos mangues ou nas areias do Leblon... E os governos desviam dinheiro do Saneamento Básico para os Trio Elétricos... E os hotéis (de proprietários e de máfias estrangeiras) já não têm mais vagas... e transatlânticos vindos do mundo inteiro já estão cruzando os mares e se preparando para aportar, enquanto muitos proxenetas nativos já se organizam para alugar as filhas e os filhos à temporada. É o horror pós-moderno! E, o mais bizarro de tudo: circulam notícias de que somos o povo mais feliz e mais tolerante do mundo; que por aqui, os esfíncteres são complacentes e a depressão se cura com meia cibalena, com dois viagras, meia dúzia de aspirinas... ou com qualquer outro antipirético vendido por camelôs nas areias idílicas e escaldantes de Copacabana...

Caralho! Quem conseguirá devolver a fúria e a sanidade a essa gente?

O Mendigo K, lendo as notícias e esta minha pseudo-crônica, resmunga: Bazzo, seja mais dialético. Do jeito que as coisas estão montadas, o fato das tais obras estarem paralisadas é bem mais revolucionário do que se elas estivessem funcionando...

Fez-me esta crítica, colocou sua mão em meu ombro e citou Cioran: Bazzo, o erro das pessoas como você, dos que captam a decadência, é querer combatê-la, quando deveriam fomentá-la: pois, ao desenvolver-se, esgota-se e permite o acesso de outras formas...











 

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