segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

NELSON RODRIGUES: DE PROFANADOR A PROFANADO...

 



Quem me deu a noticia de que roubaram o busto de Nelson Rodrigues, lá no Cemitério São João Batista (Botafogo, RJ), foi a mulher do Mendigo K. E o fez com uma descarada ironia, já que considera o tal escritor, um dos maiores misóginos nacionais. Fiquei em silêncio enquanto ela ia citando frases anti feministas do defunto:

1. "Se uma moça entra no curso de jornalismo da PUC é que algo está acontecendo ou vai acontecer. Um dia, andei sondando a vida de três estagiárias, minhas companheiras. Uma era desquitada, outra ia se desquitar, a terceira estava com o desquite quase homologado. O dado estatístico impressiona - cem por cento desiludidas. (...) a estagiária entra na redação, pode passar lá duzentos anos e jamais será jornalista".

2. "Ninguém pode resistir a uma figura feminina que é ao mesmo tempo, desquitada, analisada, progressista e desiludida..."

3. E por uma coincidência realmente fatal, tinha como chefe uma mulher, uma santa senhora amarga, desiludida. Aos sessenta anos, é capaz de ver numa bruxa de disco infantil uma rival insuportável."

4. Você entendeu? Na véspera, queria ser enterrada com o marido. No dia seguinte, foge com um ourives. O que ele queria dizer, por outras palavras, é que a mulher só trata bem por sentimento de culpa."

 Como percebeu que eu não estava lhe dando grande atenção, agregou: E, você sabe, além de misógino, era reacionário e fanático por futebol!... E foi lendo o final da página 71 do livro que levava: 

"O grande acontecimento do século XIX foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota. Até então, o idiota era apenas o idiota e como tal se comportava. Não vejam em minhas palavras nenhum exagero caricatural. E o primeiro a saber-se idiota era o próprio idiota. Não tinha ilusões. Julgando-se um inepto nato e hereditário, jamais se atreveu a mover uma palha ou tirar uma cadeira do lugar. Em 50 mil ou cem, ou duzentos anos, nunca um idiota ousou questionar os valores da vida. Simplesmente, não pensava. Os "melhores"pensavam por ele, sentiam por ele, decidiam por ele. Foi o século XIX que fez do idiota um ser histórico. E então, aquele sujeito que, há 500 anos, limitava-se a babar na gravata, aquele sujeito, dizia eu, passou a existir socialmente, economicamente, politicamente, , culturalmente, etc. Houve, em toda parte, a explosão triunfal dos idiotas. Muitos estranham a violência da nossa época. Eis um mistério nada misterioso. É o ódio do idiota, sempre humilhado, sempre ofendido, sempre frustrado e que agora reage com toda a potência do seu ressentimento.  Deve-se a Marx o formidável despertar dos idiotas..."

Colocou um ponto final e retirou-se sem dizer mais nada.

Um comentário:

  1. Eu amava o mendigo Ka mas agora que se casou com esta mulher, virou um chato dw galochas!!

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