quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Ciência, religião, fake news... e muita trapaça... Credo, quia absurdum est...











'É muito frustrante e brochante, depois de dois mil anos (ou pelo menos depois do affair Giordano Bruno, 1595) ainda ter que seguir assistindo essa intriga de beócios entre a fé e a ciência. Ora, que cada um acredite naquilo que lhe aprouver, mas com a condição sine qua non de não encher o saco dos que acreditam em outras coisas ou em absolutamente nada... De acordo?

E depois, curiosamente, esse 'aumento da intolerância religiosa', como anuncia o jornal, parece ter coincidido com a instalação do Processo das FAKE NEWS no STF. Não lhes parece um dos poucos sucessos do judiciário na luta contra o noticiário falso e delirante? Credo, quia absurdum est...

Mas, diante do fomento, da legitimação e da defesa demagógica estatal de todo tipo de seitas, folclore e de superstições demenciais, como é que ficam os frequentadores da Pré Escola, do Nível Médio e das Universidades? Como é que as crianças, os jovens e até os velhos vão conseguir elaborar essa ambiguidade e essa confusão? Identificar a fronteira imaginária e fictícia entre o profano e o sagrado? Acreditar em Giordano Bruno ou em seus detratores? Afinal, é o sol ou a terra que se move? As mulheres engravidam pelo sêmen de um homem, pelo contacto com uma flor de lótus ou pela ação do vento? Pelo polenzinho que um beija flor, vindo do além, deposita lá entre os grandes lábios das matronas? E a lua, é a morada dos poetas, das bruxas, de Shiva e de nossas tiranas tataravós ou um rochedo frio e inabitável que ainda despencará sobre nossos jardins e quintais? Nossos cavalos de estimação, (das cores daqueles quatro do Apocalipse) quando morrem, vão viver num haras do shangri-la que está lá no meio de uma pradaria celestial ou desaparecem para sempre?

A química ou a alquimia?

O bem ou o mal?

A doença como uma punição divina ou como efeito das orelhas, dos pés e do rabo do porco na feijoada? 

O Dicionário filosófico de Voltaire ou a Kabala?

A medicina ou a feitiçaria?

Ficar com as hipóteses de Darwin, ou com as teses dos pescadores do Rio Jordão ou da seita do Moon? Com o pãozinho vagabundo e cheio de bromato da padaria da esquina ou com a inépcia do maná que cairá dos céus? Com a penicilina ou com os óleos de Israel e com os poderes da Pirâmide de Khéops? Acreditar em Freud ou em Cagliostro e nos Testemunhas de Jeová? Confiar mais numa 765  ou num patuá? Num tomógrafo computadorizado, ou na Pedra filosofal? Num ortopedista ou numa cartomante? Em Si Mesmo ou em alguma divindade ou em algum ser maligno surgido dos delírios grupais e que podem estar escondidos tanto no cós das cuecas como nos percursos intrincados das calcinhas (sejam elas feitas com sacos de farinha ou com algum tecido da Duloren????)

O natural ou o sobrenatural?

A física ou a metafísica?

A astronomia ou a astrologia?

A antropologia ou a teologia?

E depois, os malandrins que administram toda essa pantomima, fingem não saber as razões das filas estarem cada vez maiores ao redor dos presídios, dos  manicômios e do SUS... (A propósito, uma curiosidade: a queixa do Trump ontem, a respeito da 'diáspora' latino-americana para as fronteiras dos EEUU, fazia menção ao grande número de ex presidiários e de doentes mentais entre os imigrantes...)

Ora! Todos sabemos que o desbunde civilizacional é geral e imenso. Que a espécie está rodopiando numa bipolaridade espantosa e sem sair do lugar, há muito tempo. Fazendo um esforço imenso para acreditar em alguma bobagem que transcenda a cesta básica e essa mediocridade triunfante, e também, acreditem, para extinguir-se. (Vejam as idiotices lá em Gaza e lá na Ucrânia). Sim, sabemos que, uns mais, uns menos, todo mundo se sente traído por estar aqui, nesta penitenciária patética, sem bússola e sem astrolábio. Sim, todo mundo sabe disso...

Mas, assim mesmo, é importante tentar crescer e amadurecer! Essa "lógica" infanto-juvenil e caricatural e essa invenção de fantasmas (e + a crença de poder dialogar com eles) não fica bem nem num mundo cada vez mais trapaceiro, charlatanesco, gerontocrático e senil... Sim, sim, eu sei, como dizia Durkheim, que "a religião e a sua imagem reflete todos os aspectos da sociedade, mesmo os mais vulgares e os mais repugnantes"...

Enfim:  Que o Ministério da Saúde (e os governos) fiquem em silêncio e até legitimem o envenenamento das novas gerações com todas essas superstições e com toda essa baboseira animista, fetichista, totemista, xamanista, mística, descabida e esotérica, é um verdadeiro mistério...

Sim, pensar tudo isso é terapêutico.., mas sem esquecer da Sonata número 6, de Paganini: (desse gênio do violino que passou toda a vida perseguido pelos beócios da fé e acusado de ter um pacto com o diabo...)


 



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