sábado, 14 de janeiro de 2023

E o amor não venceu o ódio... Foi o ódio que mudou de lado... (O dia em que o morro descer e não for carnaval...)


"É o medo que guarda a vinha, e não o vinhateiro..."

(Mario Gonçalves Viana, p. 30)





Nestes dias pós invasão da Praça dos Três Poderes, aqui pelos botecos da cidade que foi palco daquela porra-louquice, não se fala em outra coisa. Os ditos bolsonaristas mais ilustrados não escondem uma certa vergonha (quando não, um certo orgulho. Um deles chegou até a lembrar que o próprio Cristo, além de expulsar os protobanqueiros do templo, virou mesas, rasgou papiros contábeis, blasfemou, quebrou gaiolas, soltou pombos e destruiu cadeiras...), e os ditos petistas, nem disfarçam a fúria e o ódio que sentem contra os mil e tantos "prisioneiros" (489 donas de casa) e seus respectivos líderes que estão amontoados lá na Papuda...   

Eles que viviam cacarejando sobre a importância de substituir o ódio pelo amor, (perceberam que se tratava de uma trapaça íntima) e estão agora, visivelmente perturbados por uma ânsia de vingança e por um instinto de destruição, e vociferam:  

- Que fiquem mofando na cadeia e que morram por lá! 

- Que levem umas boas cacetadas! 

- Que seus bens sejam expropriados! 

- E que não haja, em hipótese alguma, anistia para esses bandidos!

Uma profissional da noite, de uns 60 anos, em pé, no balcão, ouvindo espantada aquele ódio manifesto, deu uma longa gargalhada e  lembrou a todos do General Figueiredo que, aí pelos corredores da República, com um chicote em punho, bradava: Eu prendo e arrebento!!... (A OAB - dizia essa mesma senhora - também está envergonhada com a quantidade de advogados que correram para a porta das prisões para "vender" seus serviços aos presos...)

Da caixa de som se ouvia: O dia em que o morro descer e não for carnaval...

Os garçons fingem não ouvir nada.

E os clientes, um deles, gorduchinho, com a tatuagem de uma mulher (a mãe?) no punho, que parecia estar com medo e que fazia apologia da delação, repetia: nós pensamos como Heine, vamos perdoá-los, mas só depois de vê-los enforcados...

Nos olhos e nos gestos, o medo do medo de ter medo... 

Ter medo? Tudo bem, - reflete o Mendigo K - mas fazer apologia da delação! Isso é abominável! Um horror que sempre se condenou até lá entre os Nazis e entre os Fascis!!! Não lembram no que deu a delação lá no Horto das Oliveiras? E não viram no que deram as recentes, lá na Lava Jato? E a Consciência Política? E a luta de classes? E a luta Contra as prisões? Contra a ânsia pelo Poder e pelos Cargos? E o humanismo revolucionário? E a saúde mental, tanto da burguesia,  como das massas, que não está na agenda de nenhum governo? E a solidariedade com os presos e com os fodidos? E o delírio do amor? Teria sido brusca e facilmente substituído pelo delírio do ódio? O ódio teria vencido o amor? Ah! Balelas beatas de pequenos burgueses... A propósito: o que existe de mais burguês do que um sentimento???

O aroma da cachaça... Uma mocinha vestida de vermelho, enquanto ouvia seus companheiros esbravejando enxugava as lágrimas. Um bebum que prestava atenção a tudo, ouviu do gerente do boteco: A reação deles é genuinamente religiosa, mas temos que respeitá-la, pois chacun de nous a une blessure secrète dans laquelle il se réfugie...


 

 

 


2 comentários:

  1. Boa, Bazzo! Crônica e música! No dia em o morro descer e não for Carnaval, o coro vai comer na avenida... o bicho vai pegar...

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  2. https://www.youtube.com/watch?v=OKgdJFe-8VY

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