Preparando-se para passar o Natal e o Fim-de-ano longe da república, o mendigo K. abordou-me no estacionamento do Ministério dos transportes visivelmente furioso. Enquanto ia abrindo um mapa da América Latina que levava nas mãos foi blasfemando. Burrice! Caipirismo! Mentalidade atrasada! Atração por solavancos! Inacreditável que não tenhamos uma ferrovia e trens que nos levem daqui para a América Latina e para o resto do continente. Brasília/Canadá, por exemplo. Cinco ou seis noites tomando vinho nos vagões, subindo e descendo montanhas de gelo, florestas, pântanos, desertos, abismos de pedras... Atravessando os andes com suas lhamas e seus condores. Um remanescente dos Incas no alto de uma rocha... Os desertos mexicanos, uma águia no topo de um peyot... a fronteira gringa...
Todo mundo critica a Russia, falam mal de Lênin e até o confundem com Rasputin. Pura caipiragem! Minha ex sogra era russa. Ia uma vez por ano de São Petsburgo até Vladivostok pela Transiberiana. Vinte dias e vinte noites. Quase dez mil quilômetros! Uma das vezes resolveu ir até a China e trouxe de lá para sua filha de dezoito anos uma pomadinha erótica. Morreu com os lábios roxos e desfigurados imitando o ruído das rodas do trem. Amava os trens. Desenhava com nanquim as paisagens da Sibéria. Uma vez chegou a subir aos Montes Urais. Contava que perdeu um chapéu nas águas do Rio Naroda. E que passou horas lá, sobre uma montanha de gelo, lendo as obras de Nabokov, mas que sua verdadeira paixão era por Dostoievski. Por aquele louco e epiléptico autor de Memórias da casa dos mortos. Gostava de recitar pequenas frases que havia lido naquele tempo, tipo esta, sobre os insultos: "Que morras nas mãos de um turco!". "A dialética do insulto era muito apreciada. Ao bom insultador não faltavam aplausos, como aos autores." "Havia no presídio um polaco desertor, muito repugnante, mas que tocava violino, possuindo um que era mesmo seu e que representava toda sua fortuna..."
Minha sogra adorava os russos, principalmente por eles terem cortado aquele imenso território com ferrovias. Uma ferrovia - dizia - acalma. Quem já sentiu o cheiro dos trens nunca os esquecerá! Os trens são terapêuticos. Uma nação que não tem trens esta condenada ao subdesenvolvimento, à estupidez dos caminhões e à calamidade mental...
Todo mundo critica a Russia, falam mal de Lênin e até o confundem com Rasputin. Pura caipiragem! Minha ex sogra era russa. Ia uma vez por ano de São Petsburgo até Vladivostok pela Transiberiana. Vinte dias e vinte noites. Quase dez mil quilômetros! Uma das vezes resolveu ir até a China e trouxe de lá para sua filha de dezoito anos uma pomadinha erótica. Morreu com os lábios roxos e desfigurados imitando o ruído das rodas do trem. Amava os trens. Desenhava com nanquim as paisagens da Sibéria. Uma vez chegou a subir aos Montes Urais. Contava que perdeu um chapéu nas águas do Rio Naroda. E que passou horas lá, sobre uma montanha de gelo, lendo as obras de Nabokov, mas que sua verdadeira paixão era por Dostoievski. Por aquele louco e epiléptico autor de Memórias da casa dos mortos. Gostava de recitar pequenas frases que havia lido naquele tempo, tipo esta, sobre os insultos: "Que morras nas mãos de um turco!". "A dialética do insulto era muito apreciada. Ao bom insultador não faltavam aplausos, como aos autores." "Havia no presídio um polaco desertor, muito repugnante, mas que tocava violino, possuindo um que era mesmo seu e que representava toda sua fortuna..."
Minha sogra adorava os russos, principalmente por eles terem cortado aquele imenso território com ferrovias. Uma ferrovia - dizia - acalma. Quem já sentiu o cheiro dos trens nunca os esquecerá! Os trens são terapêuticos. Uma nação que não tem trens esta condenada ao subdesenvolvimento, à estupidez dos caminhões e à calamidade mental...
Bem lembrado...que vergonha esse país sem ferrovias
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