sábado, 16 de janeiro de 2016

Ladrões ou cleptômanos? (I)

"Há muitos anos calada, a “inteligência” brasileira voltou-se para um formalismo delirante, novidadeiro e pernóstico, e “esqueceu”o que a fazia calar". 

"Se diz que qualquer personalidade mundial, com dois dias de Brasil, já não seria mais levada a sério"
(Roberto Gomes)

No capítulo VI, página 195 do livro ATOS IMPULSIVOS de W. Stekel, publicado pela Editora Mestre JOU, São Paulo, (1968) está um tema de uma beleza e de uma importância fundamental para quem se interessa pelos mistérios neuróticos do ser e, principalmente, pelo descaramento desses dias de roubalheira generalizada, não apenas nas grandes empresas, mas no dia-a-dia em geral e até mesmo no carroceiro da esquina que vende aos otários que passam pequenos pedaços de carne inapropriada enfiados em estiletes de madeira. 
O titulo desse capitulo é: A raiz sexual da cleptomania. Transcrevo aqui alguns fragmentos do referido texto, apenas sobre as diferenças básicas entre o ladrão e o cleptômano, para que qualquer curioso e leigo no assunto também possa tentar compreender o que está acontecendo na política atual. Aliás, não é bizarro e suspeito que os antropólogos & os doutores da saúde mental ainda não tenham promovido nenhum estudo rigoroso que "esclareça" e que "explique" a corrupção generalizada que enfurece e despedaça o país? 

Escreve Stekel:
"O roubo não torna o ladrão feliz. Só lhe interessa o que foi roubado. A felicidade que o roubo lhe proporciona está em relação direta com o valor das peças que roubou; mas o cleptômano rouba pelo prazer de roubar. Busca a embriaguez do proibido (...).
Já vimos como o instinto de roubar é poderoso na criança e endossamos o ponto de vista de que, em todo adulto, persiste um resíduo desse instinto. (...)
O ladrão opera com frieza e reflexão. Calcula as possibilidades e vantagens e é capaz de amadurecer seu plano durante meses antes de levá-lo a cabo. O verdadeiro ladrão não se deixa levar por qualquer paixão. Para agir, necessita serenidade e sangue frio. Já, o cleptomaníaco ou cleptômano atua durante um estado de embriaguez afetiva, semelhante ao sonho; parece-se com o sonâmbulo. Está desassossegado, invadido por sentimentos de angústia e sente que qualquer coisa vai acontecer - exatamente como Hesse o descreve -; precisa de uma explosão (Gross), tem que se libertar de uma dolorosa tensão afetiva, realizando um ato. Atua sob o império de um impulso dominante, momentâneo ou permanente. O furto do cleptômano é um ato impulsivo. No cleptômano o intelecto é dominado, ao passo que, no ladrão comum, está a serviço do instinto. Também os cleptômanos podem calcular as possibilidades antes de realizar o ato e, em certas circunstâncias, cometem-no com muita habilidade, mas o ato se realiza num estado de sonho que exclui a reflexão. O indivíduo parece estar agindo sob o efeito do álcool. A reflexão é possível mas está muito atenuada. A embriaguez afetiva atua como qualquer outra intoxicação. O intelecto fica afastado ou  reduzido à sua menor expressão. Somente a afetividade predomina. O sujeito não leva em conta as consequências, as desvantagens, os perigos e os inconvenientes. Desaparece a sociedade, com as suas prescrições, suas leis e seus riscos, firmando-se apenas o desejo como expressão de um impulso todo-poderoso. O Cleptômano comporta-se como criança. (...) 
O enigma da cleptomania tem dado muito que fazer aos médicos (este texto foi escrito em alemão em 1922). Em muitos casos, era-lhes difícil determinar se estavam diante de um roubo vulgar ou de um caso de cleptomania, isto é, frente a um delito ou a uma enfermidade..." (deve ser preso ou internado?)

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