sábado, 23 de janeiro de 2016

Momento a-histórico...

Em função dos últimos acontecimentos nacionais e da ruína econômica que está sendo anunciada aos "quatro cantos" do mundo, aqui em Brasília o assunto CORRUPÇÃO infestou todos os diálogos, até mesmo os mais amorosos. Não se fala em outra coisa. Se vou ao barbeiro - por exemplo -, depois das primeiras navalhadas ele cochicha em meu ouvido as denuncias de hoje. O açougueiro da esquina enquanto desossa uma vaca traz os derradeiros pormenores da roubalheira; os porteiros dos ministérios e dos apartamentos funcionais sabem até os centavos de euros contidos nas maletas; os caixas dos bancos driblam seus gerentes e distribuem clandestinamente aos clientes o número das contas secretas na Suíça e anunciam que vai haver um dilúvio e uma quebradeira geral; o coveiro, olhando para o cadáver, diz até sentir-se feliz por aquele pobre diabo ter escapado do caos que virá; os indigentes dos semáforos desconfiam e olham atravessado para qualquer pessoa que lhes dê algo além de duas moedas e até as putas ali do setor de oficinas norte, acreditem, interrompem seu trabalho bucal para resmungar ao cliente a lista completa e atualizada dos envolvidos... 
Ontem, ou antes de ontem, passando por lá, casualmente, depois das 23:00, encontrei o mendigo K próximo às escadarias de um pequeno puteiro, desses pulguentos e modestos dissimulados e com alvará de pensão. Levava meio visível no bolso de um velho casaco marrom e em courvin o asqueroso livreto do Cardeal Mazarin, que inclusive contém um prefácio do charlatão Umberto Eco. Sabedor disto que lhes relato, retrucava com muita agressividade a uma das senhoras da noite, senhora que com seu cabelo pintado de lilás, suas botas, seu vestido meio cigano, o batom que quase lhe entrava pelas narinas e um guarda-chuva a tiracolo lembrava, pelo menos naquela hora e naquela precária claridade, uma das mais tenebrosas bruxas de Salém. Para mim - dizia ele - a única coisa que me incomoda nessa bandalheira toda e nessa corja de bandidos corruptos, é o fato deles nunca terem me enviado, pelo menos, uma garrafa de vinho...

3 comentários:

  1. Se alguém achava que tinha um resto de bom caratismo, essa foi pra acabar com qualquer esperança!

    ResponderExcluir
  2. Se alguém achava que tinha um resto de bom caratismo, essa foi pra acabar com qualquer esperança!

    ResponderExcluir
  3. Umberto Eco...isso mesmo! Eu sempre achei o Eco uma farsa, um pseudo intelectual mesmo. Muito bom teu blog, Bazzo, é sempre bom lê-lo! Com minha gatonet funfando de boa, vou estar sempre ligado.
    ROGÉRIO (outro)

    ResponderExcluir