terça-feira, 22 de maio de 2012

O réu e a consciência das palavras...


Quem assistiu a sessão da CPMI do Cachoeira nesta tarde teve mais uma vez a chance de entender porque somos um povo e um país desgraçado... Uma pátria condenada a viver por muitos e muitos séculos ainda aprisionada nessa asquerosa teia jurídico-bacharelesca... Nesse lodaçal de palavrórios, de astúcias advocatícias, de cumplicidades entre iguais e entre desiguais, nessa pocilga de olhares maliciosos, de boquitas vorazes e imensas, de mensagens subliminares, de intercâmbio de falsidades, de desesperos estéreis e inúteis...
Eu, pessoalmente, não consegui olhar uma única vez para o acusado com outro sentimento que não o da mais pura e legítima simpatia.  Ele pelo menos, com sua recusa de responder as indagações dos inquisidores, talvez estivesse querendo nos lembrar  - como insinuava Elias Canetti em seu texto A língua absolvida - que  a linguagem foi esvaziada, prostituida, esgotada das suas melhores substâncias e que através das palavras já não é possível expressar mais porra nenhuma... 
Agora, imagem que me provocava asco e os mais detestáveis sentimentos durante toda a sessão era a do advogado do réu, ao lado, sussurrando-lhe artimanhas e astúcias para burlar os confusos e duvidosos protocolos civilizatórios. Ver ali um homem que ainda é chamado de Ministro da Justiça orientando o contraventor de como engabelar a Justiça, o Congresso Nacional e a sociedade como um todo e ainda por cima sendo melosamente elogiado pela turba parlamentar, me pareceu algo inadmissível e fora de propósito. E  digo isto não por moralismo e muito menos por patriotismo, mas por puro amor-próprio...
- Ah, mas é esse o papel de um advogado!!!  O acusado não quer falar? Está respaldado pelo Art. 5, LXIII da Constituição Federal!!! - resmunga o populacho.
É verdade, mas então extinga-se o Direito e atualize-se a Constituição!!!

8 comentários:

  1. Parabéns, Ézio! Você resumiu de um jeito simples "tudo o que me rodeia"... Quem disparou e articula a perseguição não pode aparecer, mas tem poder, então começa o festival de barganha: - Se a Empresa mantê-la em isolamento, concedo terrenos; se o psicólogo mantiver ela calma, eu dou um apartamento; se o porteiro me ligar quando ela sair, eu pago hora extra; se o rapaz namorar com ela, eu lhe dou uma carteira de clientes; se o candidato "queimá-la" no meio político, eu patrocino a sua campanha; se o laboratório forjar o resultado do exame, eu isento os impostos atrasados; se os comerciantes matricularem suas esposas no mesmo curso que ela, eu perdôo os impostos não arrecadados; se a senhora gravar as conversas dela com os familiares, eu te dou um tratamento dentário de graça; se a Dra. fizer o tratamento de graça, eu mando reformar o consultório; se a firma reformar o consultório, eu lhe dou um terreno para construir; se o Dr. Advogado não for defendê-la, eu te indico para um escritório famoso; se você a torturar eu lhe dou uma caminhonete e uma loja; se você perseguir ela no trabalho, eu lhe arrumo uma promoção e instalo um ar condicionado na sua casa; se você grampear ela no taxi, eu aumento a sua frota; se fizer um sermão direcionado, eu isento os seus impostos... Essa "rede de barganha" cresceu tanto nesses últimos dezesseis anos, que eu olho para as pessoas ao meu redor e tento imaginar o que elas devem estar ganhando, e a cada dia eu tenho mais nojo da raça humana... Infelizmente eu faço parte desse meio, e continuo a afirmar que prefiro a companhia dos bichos de quatro patas, ou os que têm penas...

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  2. Adoro este seu poder de indignação que a maioria dos brasileiros já perdeu! Leio você todos os dias, é minha refeição principal! Abraços

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  3. Ezio, as "nossas" leis e "nossa" constituição são elaboradas exatamente para ir de acordo com o interesse de "nossos admiráveis" políticos...

    Sem comentário quanto ao advogado do réu...

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  4. O Ex-Ministro da Justiça, ao que tudo indica, está levando R$ 15.000.000,00 (quinze milhões de reais) pra defender o Cachoeira. Torna-se compreensível o porquê de se aceitar esse trabalho formalmente legal e materialmente "sujo"?

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  5. Pois é, em alguns tópicos eu comentei sobre o "golpe" que eu levei de um juiz, quando me transferiram para o o Rio de Janeiro, em 2009, e que me deixou sem teto até hoje... No ato da assinatura do contrato de compra/venda do imóvel, eu paguei 10% do valor do imóvel como sinal, só que o sujeito desistiu de vender o imóvel, não me devolveu o sinal, e ainda me mandou procurar a justiça... Pois é, hoje o TJ RJ me pediu pela terceira vez minha declaração de imposto de renda, e o tal juiz ainda está me processando, na justiça federal, por danos morais... Sinceramente, eu já não sei qual o sentimento que eu tenho por tudo isso, talvez uma profunda tristeza de morar nessa merda...

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  6. Muita criatividade.....

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  7. A HUMANIDADE É UM LIXO


    Há pouco eu assisti um filme que narrava dois presidiários conversando sobre o que eles iriam fazer quando estivessem em liberdade. Após vinte anos de clausura com comportamento exemplar os dois tiveram suas penas reduzidas e seriam soltos em poucos meses.

    O mais jovem que deveria estar em torno de cinqüenta projetou um belo futuro com o objetivo de recomeçar uma vida com dignidade. Já o seu companheiro, uns dez anos mais velho, não tinha o mesmo otimismo, e não estava nenhum um pouco entusiasmado com a idéia de uma nova vida em liberdade. Além de carregar o peso do preconceito de serem ex-presidiários, o que eles poderiam fazer depois de tantos anos vivendo sem dignidade?

    Pois é, acho que eu me sinto como os personagens do filme, e com três agravantes: 1) fui presa e torturada sem absolutamente nenhum motivo concreto, apenas por ter discordado ideologicamente de um chefe de Estado e sua gangue; 2) Não destruíram apenas a mim, mas ao que restava da minha família; e 3) Encarcerada sem direito à sentença, justiça, julgamento, ou seja, sem data para liberdade...

    Às vezes me questiono, se um dia me deixarem livre, o que vou fazer? Impossibilitaram-me de trabalhar, estudar, socializar, e faliram-me financeiramente. Após quase dezessete anos sendo enganada, tripudiada, explorada por todos, como dar credibilidade em alguém? A única coisa que me restou foi uma enorme tristeza da raça humana, e talvez agora eu consiga entender porque a humanidade está caminhando para o seu próprio esgotamento...

    Guardo muita tristeza pelas mortes e pelos homicídios dos meus entes queridos, mas hoje eu tenho certeza de que eles estão melhor que eu, porque estão a salvo de ter que enfrentar essa selvageria humana. Talvez tudo sempre fosse assim, e eu tivesse uma visão fantasiosa da vida, e só sob perseguição é que eu consegui enxergar o que é o ser humano, após ter sido “vendida” e “pisoteada” por todos - Após perceber o prazer de alguns de chutarem o que eles mesmos chamaram de “cachorro-morto” - Após presenciar meus próprios “parentes” recebendo benefícios para me isolar...

    E isso ainda não terminou, porque na semana passada, em uma consulta médica, o Dr. Paulo, disse nas entre linhas que se eu fosse procurar a justiça por causa da morte da criança e da ligadura das trompas, que jamais eu iria ganhar, porque a primeira instância é formada por juízes jovens, mas nas outras instâncias os juízes são todos deles...

    E para completar, na mesma semana dessa consulta, um jovem petroleiro e uma senhora contratada, sentam-me atrás de mim, e rindo, chamam-me de cão sarnento... Até o dia em que eu vim parar nessa gerência, eu nunca tinha visto a cara dessas pessoas... Eu sei até o que essa senhora “ganhou” para me queimar dentro da Empresa, mas e o rapaz? Quem é esse tal de A.A.? E porque tanto asco de alguém que ele nem conhece? Seria parente de algum militar, político, empresário? Ou seria da maçonaria ou qualquer outra comunidade que os FDP´s freqüentam? Sei lá, não quero, e nem me interesso mais em saber... Apenas me entristeço mais a cada dia...

    Antes eu me sentia como um lixo, hoje eu me sinto como um objeto raro – incorruptível - perdido na lixeira da humanidade... E sem ter para onde ir...

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