Nos dias em que não tenho
absolutamente nada para fazer costumo baixar as mangas, abotoar a gola da
camisa, endireitar as pontas do bigode e entrar num banco qualquer para simular
um empréstimo. Os cabelos brancos ajudam e muito nesse tipo de aventura. Os funcionários e principalmente os gerentes já sabem que normalmente se trata de um velhinho arruinado que já está com um pé na cova e
que quer dinheiro emprestado para pagar dívidas e morrer sem dever nada a
ninguém... Mesmo que o chefe esteja ocupado sempre dá um jeito de dar-me
prioridade, chama logo a secretária que vem toda prestativa e com a calça
enfiada entre os grandes lábios para oferecer-me um bombom de hortelã e o clássico
copo de água.
- Então o Dr. precisa um
empréstimo de 200 mil reais?!?! Hunn... Compra de imóvel, lancha, automóvel??? e já
vai teclando o computador, olhando-me as unhas e os dentes de soslaio para
saber se não está ali perdendo seu precioso tempo ou mesmo correndo o risco de
colocar o dinheiro do patrão numa fria...
- Duzentos mil.... duzentos
mil... Nossas condições e nossos juros são os melhores, o senhor sabe?,... hã...hã...hã...
Essa época é boa dr... houve uma boa redução nas taxas... A dona Dilma tá
botando pra quebrar! 200 mil!!! 200 mil!!! Vamos ver a simulação... Pronto. O
dr... terá uma prestação de três mil reais mensais descontada já no seu contra
cheque, durante vinte anos...
Três mil mensais durante vinte anos?
Está bom mesmo! - Recito olhando-o singelamente nos olhos. Puxo uma caneta e vou rabiscando
e falando ao mesmo tempo: Deixa-me ver... Vinte anos! Vinte anos são... 240 meses... cada mês 3
mil... então significa que pelos 200 mil vou pagar ao banco 720 mil?
- É isso mesmo doutor! Em nenhum
outro banco o senhor encontrará algo melhor...
Involuntariamente pronunciei em voz
alta: vá foder outro meu amigo!!! Quê porra de redução de juros é essa??? E no
traseiro, não vai nada??? Tive a impressão que ele não entendeu minhas três
indelicadezas e voltou a fazer cálculos e mais cálculos em seu computador como
se estivesse apenas aguardando minha decisão de penhorar ou não as tripas
naquele covil...
Promessas de um lado e de outro... até
que me retiro com seu cartão e telefone na mão, pronto para explodir numa gargalhada, mas ruminando sobre a origem
da usura, do cinismo, da canalhice e do agiotismo generalizado e principalmente
na diferença que há entre assaltar a mão armada e assaltar assim, engravatado e
sorridente, respaldado pelo Estado, pela Justiça e até mesmo por suas próprias
vítimas...
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