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EM TEMPO:
Já em retirada, o Mendigo K, aproximando-se de seus veementes companheiros, recitou este breve texto:
"Desde então, viajo sem parar, o trem tornou-se a minha casa, onde todos me toleram enquanto perambulo pelos vagões. Os carros, enormes como salas, estão cheios de lixo e de palha, e nos dias cinzentos, descorados, as correntes de ar perfuram-nos de ponta a ponta (...) Minha roupa está rasgada, em frangalhos. Deram-me um uniforme usado de ferroviário. Tenho o rosto atado com um lenço sujo. Sento-me na palha e cochilo, e quando sinto fome vou ao corredor e canto em frente aos compartimentos da segunda classe. As pessoas atiram pequenas moedas dentro do meu boné de cobrador, um boné preto de ferroviário com a viseira arrancada..." (Texto de Bruno Schulz, in: Sanatório sob o signo da clepsidra, p. 190)
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