
E depois de fazer a devida propaganda de seu produto, acionava um aparelho de som, movido a pilhas, que ia amarrado na parte de baixo daquela geringonça. A música de hoje, Cheri-cheri lady - dizia ele, quase romanticamente -, ia dedicada à sua patroa, que vendia outros petiscos, lá no outro lado da rua... Um casal de mendigos, recém chegado das palafitas inundadas de Manaus e que descansava sob um esplendido flamboyan, se pôs a dançar e a cantar: Cheri Cheri lady... Cheri Cheri Lady... O sino da igreja em frente badalava, alguém queimava um baseado numa varanda próxima e a tarde parecia a continuidade de um fantástico sonho... Alguns moradores sonolentos e em greve já há 3 meses, apareciam às janelas e lhe acenavam com simpatia. Afinal, estávamos num domingo de julho, mais frio do que o normal, com o mundo meio louco, meio reacionário, em descarada autofagia, com a resistência Palestina colocando em prática contra os invasores as mesmas táticas das guerrilhas do Vietnã e aí pelos palácios e ministérios, os vigias terceirizados, entediados, perfumados, enfeitados, examinando os magros contracheques, discutindo a crise fiscal, o calcanhar de Aquiles e os delírios imperialistas, olhavam compulsivamente pelos janelões de vidro fumê, em direção à Catedral, para saber as horas e para ver se, de repente, a madre Tereza de Calcutá ou Godot não estariam chegando...
O mundo está cada vez mais uma bosta
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