quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

A condição humana e o preço das cerejas...




"O riso é a aritmética elementar; 

o humorismo é a álgebra; 

a ironia é o cálculo infinitesimal..." P.




O sol, meio dissimulado, promete outro dia como aqueles do Saara... 

Nos Estados Unidos, a reunião entre o Trump e o Netanyahu (um pastor luterano e um rabino), com o pretexto da reconstrução da Faixa de Gaza, decidiram que é melhor para os palestinos que sobraram, cairem fora de lá por, pelo menos, uns quinze anos (tempo da reconstrução) e depois, voltarem. Que tal? Todo mundo está emocionado com essa demonstração de humanismo judaico/cristão... e com esse novo estilo de limpeza étnica...

Aqui na cidade, com o "novo" Presidente do Senado e com o "novo" Presidente da Câmara, já empossados, os 'servidores' públicos, misteriosamente, parecem mais felizes, esperançosos e mais agitados... Sim, é importante chegar bem cedo nos palácios se se quer garantir um bom lugar para puxar o saco e colocar-se de quatro às novas chefias... se se quer garantir a manutenção das tetas já conquistadas ou se se pretende novas mamatas. O Mendigo K, que ia em direção a um dos palácios, parou-me para exibir um texto de Gilles Lapouge, de uns cinquenta anos atrás: "O Brasil continua a fazer troça de seus rascunhos. Mal um esboço é iniciado, ele joga na cesta de lixo para tentar outro. Lá, as florestas não pararam de andar, ainda estão em formação. Deitam tão poucas raízes quanto os homens. O Brasil é povoado de nômades: contém os luxuosos e os maltrapilhos, os arrogantes e os modestos, mas todos são nômades. As plantações de café são vadias. Experimentam sem trégua novos territórios. Esse país é uma mudança perpétua..." Fez a leitura desse breve parágrafo e partiu.

A noticia de que os VALES REFEIÇÕES dos magistrados lá do Paraná, de Minas Gerais e até de Belém do Pará e etc, passam dos 2.500 mil reais mensais, excitou a magros e a gordos... Tudo bem, tudo bem... É necessário pensar no estômago, nas tripas e nos esfíncteres  dos magistrados! Mas como é que fica o Ministério da Saúde, que tem uns 300 funcionários, país a fora, só para combater a obesidade e evitar as bariátricas?

Falando em comida, acabo de registrar um diálogo fantástico ali na fila do mercado. Não, não é um daqueles grandes mercados franceses que têm alvará para roubar aqui nos trópicos. Trata-se de um desses mercadinhos de esquina que compram lá 'nos franceses' e revendem ali, pelo dobro do preço, para as donas de casa mais apressadas e abobalhadas.

Um homem de uns 70 anos que está na fila do caixa é abordado por uma senhora, também de uns 70 que, com aquele idioma sulista, lhe pergunta:

- Viu o preço das cerejas?

 Não!

- Está nas alturas! O Sr não gosta de cerejas?

 Gosto, mas não como.

- Por quê?

Porque sei que no século passado, lá no Pitié-Salpêtrière, operaram uma mulher que não 'conseguia ir aos pés', e lhe retiraram 247 sementes de cerejas do intestino.

- Credo! Mas não se deve engolir as sementes... Estão roubando demais! Tudo aqui está muito caro! As cerejas, os pêssegos, o Kiwí e até as bananas...

Sim, só há ladrões no mundo, minha senhora! Mesmo aqui dentro deste mercado, olhe bem para essa gente... Se você baixar a ficha corrida de cada um, ninguém pega menos do que cinco anos de cadeia... A sociedade é um rosário e uma corrente sem fim de ladrões. Uns, mais sutis, outros, mais descarados... Mas é a vida! É necessário que uns roubem dos outros se se quer sobreviver. Eu mesmo - exibindo seu cartão de crédito - só tenho este cartão porque soube e sei roubar. Se não fosse um ladrão, o Sindicato dos Ladrões, que são os bancos, nem me aceitariam como membro... Se não roubasse, como é que iria comprar estas batatas? (E conjugou em voz alta o verbo roubar): Eu roubo, Tu roubas, Ele rouba, Nós roubamos, Vós roubais, Eles roubam...

- É, mas a gente vai se virando... Um dia compro abacate, outro dia compro mamão, outro dia compro uns biscoitos, outro dia faço jejum. Sorte que na minha casa ninguém come frutas. Dizem que descascá-las é muito incômodo... É triste! Muito triste! Trabalhamos a vida inteira como escravas, e agora...! Cada dia sou obrigada a fazer mais e mais economia...

Ele se aproxima e, como quem quer colocar um fim àquela apologia da miséria, lhe diz, com ironia: É, faça economia, minha senhora! Passe a vida inteira comendo abacate, mamão e banana. As cerejas estão muito caras, não é verdade? Economize! Economize, deposite mensalmente seus trocados lá na CEF e, se for necessário, vá roendo as unhas... para que amanhã, numa bela madrugada, seus filhos, com essas tais economias, possam alugar um puteiro só para eles...

- Credo! Mas é isso mesmo! Mas é bom não vir ao mercado com tanta frequência se não se quer ter um infarto!

Sim, minha senhora, inclusive, porque a diária de uma UTI está bem mais cara do que o quilo das cerejas....






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