"Como bien dice Taylor, la victoria del verdugo consiste en lograr que su vitima se desprecie a si misma a fuerza de experimentar el desprecio ajeno..."
Adele Cortina,
(IN: Aporofobia, el rechazo al pobre, p. 58)
Mesmo criticando as medidas policialescas e megalomaníacas do Trump, a cidade inteira parece sentir-se mais segura e feliz com a recente instalação de uma centena de câmeras de vigilância e monitoramento pela cidade. Expulsaram a ralé que havia transformado a rodoviária numa espécie agitada e estupenda de Mercado Persa ou de Feira de Bénares (ver imagens) e instalaram ali e ao redor, diversas dessas lentes de vigilância. Aporofobia? Onde estão os antropólogos e os psicólogos, que não abrem o bico? Lembram do panoptismo das penitenciárias e dos hospitais psiquiátricos? Que, segundo o careca Foucauld, resumia-se num desonesto instrumento de controle e de vigilância contínua, como forma de vigiar, punir e adestrar... Se liga! Você está sendo fichado!
Dizem, até com um certo orgulho, que de 2023 para cá, já investiram uns 70 milhões nessas câmeras persecutórias, e não apenas aqui no centro da cidade, por onde circula a gente do clero, das forças armadas, os políticos, os trapaceiros do mercado financeiro e da mídia, a pequena burguesia, os novos ricos e etc... Mas inclusive em vários vilarejos ao redor... Tudo sob controle! Tudo dominado... Sim, é a filosofia da cadeia, o famoso Big Brother do George Orwel, patrulhando! Patrulhando... Mistura de voyeurismo e de exibicionismo com deslizes sádicos paranóides...
Mijou fora do penico? Está preso! Está com tornozeleira na canela? Coçou o saco ou a vulva? Veio fugido de outras bandas? Mendigando? Sem documentos? Vadiando? Caído por crise de hipotensão? Vivendo em mancebia? traficando remédios? Queimando fumo? E essas esmeraldas de crack? E esse amuleto de coral vermelho? E esse celular? E essa barriga? Está grávida de novo? Quem é o pai dessas 8 crianças? E esse canivete? Rebolando depois das dez? Cana! Tudo bem, mas a ideia é proteger quem, de quem, afinal? E, além disso, enfiar aonde todos esses clandestinos, sem documentos, sem passado e sem porvir (gerações e mais gerações de gente escravizada e expulsa do mundo), já que as penitenciárias, as cadeias e os hospícios estão lotados? E depois de soltos, para onde poderiam ir? É evidente que as mesmas ou outras câmeras os fisgarão novamente, e novamente, e novamente, e outras vezes, até que um soldado em estado maníaco e por puro ressentimento que, inclusive, já foi como eles, lhe meta uma bala na femural e o deixe sangrando no meio fio, até o fim...
Ou, estou enganado, e esse circo paranóico é legítimo? E junto com a instalação de toda essa parafernália persecutória, existem também projetos (emendas parlamentares) para salvar ou remediar a existência dessa gente?
"Há um sinal infalível para identificar um gênio: todos os idiotas se lhe atravessam no caminho..."
Jonathan Swift
Os plantonistas da mídia política simulam estar em polvorosa com o resultado das eleições na Alemanha...
Ah!, a ascensão da Afd, da ultra direita, da Alice Weidel (seria a mesma Alice do país das maravilhas?), do neonazismo, da suástica, das sinfonias de Wagner; do III Reich; dos caras que acenderam os fornos crematórios... Se nos EEUU o slogan do Trump foi TUDO PELA AMÉRICA, na Alemanha do Merz está sendo Alles für Deutschland! Enfim: como o Bolsonaro, que disse 'cagar para a cadeia', os eleitores de lá cagaram para o Brecht, para o Heinrich Böll e para o incensado Fassbinder...
E foram de Friederich Nietzsche a Friederich Merz. Dois Fredericos. (!) O que diria Zaratustra? Os místicos das margens do Reno e o velho Fuhrer?
Ao lado de meu teclado, A Genealogia da moral, escrito pelo primeiro, em cujo prefácio se pode ler: "Assim como um homem distraído e absorto acorda sobressaltado, quando o despertador dá a hora, assim nós, depois dos acontecimentos, perguntamos entre admirados e surpresos: O que há? O que somos nós? E depois contamos as horas do nosso passado, da nossa vida, do nosso ser, e, ai de nós! Enganamo-nos na conta... E é que somos fatalmente estranhos a nós mesmos, não nos compreendemos, temos que confundir-nos com os outros, estamos eternamente condenados a esta lei: 'não há ninguém que não seja estranho a si mesmo; nem a respeito de nós mesmos procuramos o conhecimento..."
E aquela doceteria de esquina, na Berlin Ocidental, próxima ao muro, que, acompanhando um café das arábias, com a Quinta Sinfonia de Beethoven ao fundo, oferecia o melhor Strudel do Reich?
Notícias e mais notícias. E os plantonistas, dispersos pelo mundo, quase perdem o fôlego para não perderem os empregos. Sabem, pela experiência, que tudo não passa do mesmo e repetitivo teatro eleitoral dos povos e de uma Europa moribunda... mas são atores, 'focas' de um redator chefe que os patrulha pela câmera do celular... e, como o redator chefe, precisam viver, trabalhar, bancar a família, alimentar os periódicos que lhes pagam e seguir entretendo a turba de sedentários que, pelas manhãs, não sabe fazer outra coisa além de acompanhar as mentiras... e seguir o jogo obsessivo-compulsivo da direita/esquerda.
Ah! A Extrema Direita cresceu enormemente, mas... a Esquerda também... Não desistam! Percebem o Jogo? É necessário dar continuidade à pedagogia da alienação, não destruir as ficções e dar igualmente pasto ilusório aos dois bandos... Aos Ultra conservadores e aos Ultra libertários? Balelas.
Na página 53, Nietzsche nos lembra: "A letra com sangue entra, é um dos axiomas da velha pedagogia, e, por desgraça, a que mais durou..." E que ainda resiste...
Neste domingo cheio de sol, encontrei a velhinha armênia ali no mercado da esquina, como sempre, com seu lenço de seda italiana cobrindo a cabeça. Confessou-me estar abatida com a noticia de que desmascararam a farsa da Nossa Senhora que, desde de 2016, chorava lágrimas de sangue lá na cidade Trevignano Romano, aos redores de Roma. E diz que ela mesma, como armênia, já havia ido várias vezes em peregrinação visitar e fazer pedidos e doações àquela farsa.
A tal Nossa Senhora chorona, ficava na residência de uma tal Gisela Cardia e foi desmascarada por geneticistas da Universidade de Roma. A própria igreja católica que já vinha suspeitando da trapaça e especulando se aquele sangue que brotava dos olhos da estátua era tinta ou sangue de porco, agora descobriu que se tratava de sangue da própria farsante...
Com um pacote de legumes nas mãos, estava visivelmente abatida e desconsolada... Antes de nos despedirmos, cochichou-me: e, o pior, Bazzo, é que os geneticistas já fizeram descobertas parecidas com o Santo Sudário (que, ao contrário do que dizem, é um trapo do século XIV) e também com a suposta liquefação do sangue de San Genaro...
E exclamou: o que teria acontecido com essa espécie???? Para em seguida murmurar uma frase de Argensola, o poeta espanhol: Lástima grande que sea verdad tanta miséria!!!
Já estava quase atravessando a rua quando chamou-me para completar: Bazzo, você já leu UN PARADISO ABITATO DA DIAVOLI, de Benedetto Croce? Se você for a Nápoli (uma das cidades mais lindas do mundo!), a festa de San Genaro se comemora no dia 19 de setembro... e, no dia 16 de dezembro... a festa é em homenagem à erupção do Vesuvio...
"Diante do mapa mundi é que percebemos que a Terra não passa dum par de ovos fritos..."
Ramón Gómes de la Serna
Depois da delação do 'ajudante de ordens', que promete mandar o ex presidente para atrás das grades, as donas de casa, ali na entrada do mercado, agora matracam insistentemente sobre outros dois assuntos: a pneumonia dupla do Papa (uma infecção polimicrobiana, com vírus fungos e bactérias)e o preço absurdo dos ovos...
Ah! os ovos!
Quem diria que as galinhas, com seus histriônicos cacarejos, iriam, outra vez, protagonizar, um papel tão preponderante na cultura e na economia desse momento histórico? E digo 'outra vez', porque todo mundo sabe que, durante a recente pandemia, foram elas, com seus óvulos e ovos que evitaram que o morticínio fosse ainda maior.
Ah! Os ovos! Los huevos! Aqueles omeletes diários recheados com queijo e salpicados com orégano... Segundo os cardiologistas, não se deve comer mais de dois por semana, já, segundo as nutricionistas, três ou quatro por dia não faz mal a ninguém. Pelo contrário. O problema, é que tanto lá no norte da América como aqui no sul dos trópicos, para espanto das heróicas donas de casa, uma unidade está custando praticamente um euro. E se o ovo for caipira e galado, então, até um euro e meio... Nunca ficou tão evidente como agora, a exploração das sociedades sobre das galinhas. Com esse calor, de bico aberto, aquela espécie de parto diário, às vezes até mais de um por dia... e com o galo sempre ciscando e pronto para um novo assédio e para uma nova sedução e infidelidade... A obsessão genital dos galos! A crista e as asas feridas das galinhas... O preço! A plusvalia. Mas, como abster-se? Se isso abalaria tanto o mito da proteína como a ficção dos eflúvios afrodisíacos??? Ah, los huevos! As ereções... O colesterol. Os galos. Os galinheiros... O harém... Por quem os galos cantam? Uma viagem ao fundo dos galinheiros...
Ah! E culpam o Trump, ele, que estaria colocando o mundo de pernas para o ar...
E lembram do famoso ovo da serpente!? E aquele galo que, depois de velho, para espanto dos biólogos, botou um? E aquelas freiras lisboetas, em total sublimação, os apalpando, rezando e confeccionando milhares de Pastéis de Belém... As gemadas e os ovos do Dali, ele que quebrou as costelas de Gala, com uma bengalada...
Ah! Os ovos! Os nossos e os das galinhas...
O preço dos ovos!
Culpam o Trump e rezam para que, uma hora dessas, um grãozinho de areia desça por um de seus ureteres...
Não se fala em outra coisa, além do affair Golpe de Estado, do Bolsonaro e da delação daquele sujeito 4 estrelas... O país, numa merda de dar dó, numa mediocridade de fazer pena, numa depressão generalizada e essa turma, que mama dos cofres públicos, no mínimo, uns 30 mil dólares por mês, embrenhada nesse espetáculo ridículo de carcereiros. Uns vingativamente drenando a vida e o gozo dos outros. E mesmo quem recentemente curtiu longos dias atrás das grades... gritando Cadeia! Cadeia! Cadeia! Que bizarrice! De onde nos veio essa filosofia carcerária? Esse furor vergonhoso de subalternos? Essa patologia da intriga? Essa projeção das misérias pessoais sobre os outros? Esse lero lero em círculos? Caralho! No mínimo, uns 300 anos de intrigas entre malfeitores, entre larápios, entre ignorantes. E o rebanho de uns 200 milhões, vítima de uma sutil e ridícula cultura oral, se divide entre um ex sindicalista e um ex milico. Eis aí o que os trapaceiros da fé chamam de LIVRE ARBÍTRIO. Liberdade de expressão! Liberdade de escolha! Um ex sindicalista ou um ex milico, ambos educados na mesma escola e submetidos à transmissão da mesma cultura oral... Ora! ..... Uns órfãos maldizendo e drenando a outros órfãos... Como é possível? Isso é ridículo! E a pobreza, o desencanto e a própria infelicidade, como dizia Baudrillard, tentando funcionar como Cartão de Crédito...
Sim, as imagens do delator, sendo inquirido, são de arrepiar. É a mais legítima reedição do Malleus Maleficarum... Como diferenciar o inquiridor do inquirido? O Bem, do Mal? A prevaricação, da lógica?
E as torcidas (vítimas da mesma, iatrogênica e infame cultura oral), se organizam. Sim, o jogo vingativo é outro tipo de entretenimento. Nenhuma ideia e nenhum projeto revolucionário, só a reedição da mesma alienação e das mesmas ignomínias de sempre...
Observem: a melancolia, o desespero, a desilusão estampada nos olhos dos dois é a mesma... como se ambos soubessem que o blefe é mútuo e que a tal luz no fim do túnel é apenas o pavio trêmulo de uma dinamite... A quem, afinal, pesa mais a condenação? Ao carcereiro ou ao encarcerado?
Mas... depois de Cain, de Judas, da Meretriz da Babilônia (mencionada nos delírios apocalípticos de João) e de outros fantoches mitológicos, o que se poderia esperar?
Ah! A cadeia e o judiciário! A arte de encarcerar os já encarcerados... Último recurso de uma civilização esgotada... e preocupada apenas em subsidiar as tripas...
Enfim: não precisa nem ser muito ilustrado para perceber que diante das loucuras evidentes e do desespero do mundo, a lei, "as misérias do Processo Penal", a justiça, as cadeias e as penas, não passam de ressentimentos contra si mesmo, contra a espécie e contra a obrigação de existir... Psicopatias pessoas atribuídas a 'outros' e lançadas perversamente sobre o rebanho.... Que fracasso...
"... Porque la violencia, y ahí está el escándalo, puede constituir, como método, la consigna de un partido político"
Frantz Fanon
(IN: Los condenados de la tierra, p. 70)
Por qualquer estrada do país que você circule, está lá, diante de teus olhos, a caravana insana de caminhões, milhares de caminhões, soltando fumaça e ziguezagueando quase de forma suicida pelos buracos das pistas, com motoristas com os quais você não se atreveria a 'trocar uma idéia' ou sequer, a ir tomar um cafezinho num posto de gasolina, sem levar uma pistola engatilhada no bolso... E até os míopes e os definitivamente cegos conseguem perceber nas curvas e nas beiradas do caminho, as cruzes. Muitas cruzes. Aqueles dois pedaços de pau sobrepostos e pintados de branco, às vezes, até com as foto das vítimas, para associar aquele desastre infame às lendárias torturas do calvário. Que heresia e que despropósito! Difícil saber qual é a verdadeira psicopatologia dos familiares, das polícias de trânsito, dos padres e dos coveiros... E tudo com a cumplicidade mercantil da mídia que não sobreviveria sem essa mortandade diária e canalha e que precisa dela para seguir anunciando o apocalipse e para turbinar o impulso suicida, o masoquismo e o sentimento trágico e autofágico dos condenados da terra...
Entrada de ferro? Ora! Nem pensar.
Quem é que teria culhões para enfrentar o lobby dos donos das frotas de caminhões, das fábricas de pneus, dos postos de gasolina, do piche asfáltico e das funerárias?
E, no meio da fumaceira dos escapamentos e das desgraceiras dessas caravanas infames, seguir falando em Ecologia e em Preservação do Meio Ambiente é uma canalhice de janotas! Por isso, podem ir cancelando a próxima bebedeira e pantomima internacional (a tal Agenda 2030), lá em Belém do Pará...
E no Congresso Nacional, aqueles que deveriam estar há décadas, supervisionando a construção de estradas de ferro (por todo o país e inclusive, até a Patagônia e os Andes peruanos), ainda estão se masturbando e perdendo tempo num lero-lero e num blá-blá-blá de dar pena, com o tal Golpe de Estado que nem sequer aconteceu. Ora! Trata-se de uma idiotice mais do que melancólica... de algo que poderia ter sido resolvido definitivamente uma semana depois, com apenas um relho ou com umas três ou quatro aulas sobre as balelas da República e a respeito da criminália dita 'legítima' do Estado)... e não merecer mais do que um pé de página nos compêndios de nossa pueril, falsificada e autista história. Inacreditável! Sim, a vida, como dizia Jamil Snege, é só felonias...
Ao invés de pousar em Curitiba, você pousa em São José dos Pinhais (sempre um nome de Santo)... e como a máfia dos taxistas é implacável, dali não há trens e nem ônibus para Curitiba. Só taxi ou UBER, que é apenas uma variação da mesma turma... Se o motorista te achar com cara de estrangeiro babaca te arrancará 20 dólares para o destino final. Que tal? Reclamar? Bobagem! É o samba do imigrante loiro e doido...
São José dos Pinhais... São José das Perobas... Das jabuticabeiras...
Volto mais cínico do que nostálgico pelas ruas outrora percorridas, cinquenta e cinco anos depois. Estão todas iguais e no mesmo lugar. As pedrinhas portuguesas e as putinhas daquela época... seriam as mendigas ou as madames de agora? Seriam as vendedoras de bilhetes, de pastilhas, de santinhos da Nossa Senhora das Graças? Ali está o prédio antigo da Farmácia Steffeld. Os balcões de madeira, as prateleiras, os potes onde se engendravam as pomadas e os placebos. Uma japonezinha centenária diz lembrar-se daqueles tempos, porque passava lá para encomendar os remédios para seu filho que falsificava receitas e que se enchia de barbitúricos. Morreu chapado e afogado na Ilha do Mel... As injeções que nunca curaram nada, a policia, a pensão da Coronel Dulcídio, a Confeitaria das Famílias que já se desfizeram... e aquele colégio onde se falsificavam ou se compravam notas e diplomas. A única memória que tenho daquele collegium foi do dia em que uma aluna, extremamente magra, com os dentes e as unhas manchadas de cigarro, subiu ao tablado do professor e fez um streptease. Os ossos de sua bacia, o pubis saliente e os pentelhos lisos, absolutamente lisos como o das tailândesas. Sim, foi um horror, mas talvez a aula mais fundamental de minha vida.
A existência. O horror e o lero-lero da existência. A cultura. O desespero da juventude traída. As manhas e taras da Idade Média que insistem em permanecer por todos os lados... E as pedrinhas portuguesas correndo sob meus pés. As repúblicas de estudantes, aquela espécie de orfanatos e de puteiros, uma mais melancólica do que a outra. O culto problemático às famílias, às religiões, ao trabalho, ao dinheiro e à gerontocracia... A miséria apitando a cada esquina e todas as apostas estavam no amanhã, sem que ninguém suspeitasse que praticamente todos os cofres do porvir estariam vazios... Foi um milagre ter zarpado daqui... ter me lançado para o outro lado de todas as mentiras do mundo. Volto agora, por apenas algumas horas, com uma clepsidra no bolso, o tempo suficiente para contabilizar alguns devaneios e algumas ruínas desse, digamos, hospício. Não aconteceu nada. Parece que não pode acontecer nada! Um ou outro dos antigos nômades, andarilhos e desertores, com suas desafinadas guitarras... aqui e ali, rogando por umas migalhas... E é só...
De madrugada, espiei a noite pela janela do oitavo andar. A brisa quase morna saindo da copa das árvores. A praça como um covil. Apenas alguns miseráveis e expulsos do mundo ainda trafegavam por entre os postes malignamente iluminados. São os mesmos que, durante o dia, buscam asilo e acolhimento na rodoviária. Lá, se arrastam e ocupam as toaletes entre os viajantes atrapalhados. O arrastar dos chinelos, as doenças quase terminais, aquelas bocas desfeitas mastigando sobras e aqueles olhares que praticaram e que sofreram tantos crimes. Depois, os painéis vão se apagando, a policia fica mais intolerante e vão sendo expulsos outra vez do paraíso e do mundo. Então, vão se enfiando entre paredes e ruínas, se enrolam na entrada dos bueiros, até que o resto da noite passe... e antes que um polícia psicopata ou um taxista borderline lhes destrocem os ossos...
Na camiseta em pedaços de um desses homens, a frase: E se vos ofendo, soprai minhas cinzas...
Ali pelos lados da pastelaria Nakashima, uma senhora mendiga, transbordando afeto, como se me reconhecesse de algum lugar e ainda daqueles tempos, segurou-me pelo braço e recitou, de memória, este estupendo trecho da obra do Jamil Snege:
Ó noites de fausto e esplendor.
Ó ventos. Ó vórtices.
Escovas de pelo de rato, penteai-me.
Tiaras de unhas de gato, cingi-me.
Que uma túnica de asas de mariposa pouse sobre minhas espáduas como um beijo de veludo negro.
Azuis da Prússia, lilases da Pérsia, tingi-me.
Os pavões da Babilônia não me excederão nem as luzentes panteras dos jardins da Abissínia.
Quero-me bela esta noite, igual à rosa de Sarom, a mais formosa entre as filhas.
O grão-khan a meus pés, bailarei entre volutas de mirra e naftalina.
E comerei sanduíches, e beberei coca-cola, e fumarei maconha.
Oito doses de gim perfumarão meu hálito, oito doses de rum e nem me lembrarei da gastrite crônica.
Meus peitos, alvos como pombas, não murcharão feito morcegos - mas terão o viço dos filhos gêmeos da gazela.
E aí se fartará a mão de um príncipe, nas fendas entre as penhas.
Pois que só um príncipe, acostumado aos jogos do amor e da guerra, saberá como cingir e docemente assaltar minha cidadela.
Se voltarei a casa de ônibus, num táxi ou no galope de um corcel ligeiro, isso pouco importa.
Só quero que seja tarde, só quero que seja dia.
Toparei com o açougueiro, darei adeuses aos meninos, e à porta me seguirá a inveja com suas violáceas olheiras.
Sou eu, a velha, a viúva, a costureira?
Sou eu que tinjo de opróbrio
nossa honrada manhã operária?
Lamento, vizinhas, a vida são só felonias. Eu sou uma rainha...
É quase patético o cinismo e a cara de pau da chamada Comunidade Internacional quando, reage ao projeto imobiliário da Riviera do Oriente Médio, para Gaza, proposto por Trump...
Seria um sinal de imbecilidade acreditar que esse repúdio, tem alguma inquietude ou preocupação com o destino e com a dignidade dos palestinos que sobraram daquele massacre. Ora! A farsa está na cara! Por que se preocupariam agora se, durante o ano inteiro do massacre, colaboraram aberta ou veladamente com os Estados Unidos e com Israel naqueles bombardeios e naquelas explosões com dinamite, com espionagem, embargo de comida, de roupa e de medicamentos, com aviões, Inteligência Artificial e, principalmente, com propaganda? Ora, não sejamos cretinos!
Portanto, que a reconstrução da Faixa de Gaza, por uma questão de honradez e de combatividade, seja feita única e exclusivamente pelos próprios sobreviventes, mesmo que para isso se leve mais de mil anos. Deixar que quem a bombardeou e a destruiu a reconstrua, seria pactuar com mais um ato de barbárie, de despersonalização e de extermínio. Ou então, de preferência, que se deixe tudo lá, tudo exatamente como está. Aquelas montanhas de ruínas intocáveis e chamuscadas, sob as quais ainda apodrecem crianças, adolescentes da resistência, donas de casa, velhinhos com o Corão nas mãos e animais domésticos... Que fique tudo lá, às margens do Mediterrâneo, como uma faixa maldita; como uma lição de psicopatologia; como o retrato em 3D de outro de tantos holocaustos e para a memória e o martírio subjetivo e inevitável da espécie e principalmente dos vizinhos e dos agressores.
E também é bom que se aproveite esse horror para libertar-se do suposto, neurótico e religioso apego patriótico e "amor pela terra". Ora! O sedentarismo é iatrogênico! Que as tribos voltem a circular pelo planeta antes que um meteorito coloque tudo a perder... E que os idiotas se enfiem todas as rivieras, as glebas, os territórios e os latifúndios do mundo no rabo!
Ah! Esses doentes que fazem a história!
Em vista disso, que transformem a Faixa de Gaza (do rio ao mar) numa Riviera para assassinos e para putas internacionais; ou em outro Campo de Concentração; ou num cemitério ou num covil de ladrões, dará no mesmo. Nada apagará da memória do mundo aquelas imagens das mulheres palestinas correndo e gritando, no meio dos tanques e das chamas, com pedaços de suas crianças nos braços...
O sol, meio dissimulado, promete outro dia como aqueles do Saara...
Nos Estados Unidos, a reunião entre o Trump e o Netanyahu (um pastor luterano e um rabino), com o pretexto da reconstrução da Faixa de Gaza, decidiram que é melhor para os palestinos que sobraram, cairem fora de lá por, pelo menos, uns quinze anos (tempo da reconstrução) e depois, voltarem. Que tal? Todo mundo está emocionado com essa demonstração de humanismo judaico/cristão... e com esse novo estilo de limpeza étnica...
Aqui na cidade, com o "novo" Presidente do Senado e com o "novo" Presidente da Câmara, já empossados, os 'servidores' públicos, misteriosamente, parecem mais felizes, esperançosos e mais agitados... Sim, é importante chegar bem cedo nos palácios se se quer garantir um bom lugar para puxar o saco e colocar-se de quatro às novas chefias... se se quer garantir a manutenção das tetas já conquistadas ou se se pretende novas mamatas. O Mendigo K, que ia em direção a um dos palácios, parou-me para exibir um texto de Gilles Lapouge, de uns cinquenta anos atrás: "O Brasil continua a fazer troça de seus rascunhos. Mal um esboço é iniciado, ele joga na cesta de lixo para tentar outro. Lá, as florestas não pararam de andar, ainda estão em formação. Deitam tão poucas raízes quanto os homens. O Brasil é povoado de nômades: contém os luxuosos e os maltrapilhos, os arrogantes e os modestos, mas todos são nômades. As plantações de café são vadias. Experimentam sem trégua novos territórios. Esse país é uma mudança perpétua..." Fez a leitura desse breve parágrafo e partiu.
A noticia de que os VALES REFEIÇÕES dos magistrados lá do Paraná, de Minas Gerais e até de Belém do Pará e etc, passam dos 2.500 mil reais mensais, excitou a magros e a gordos... Tudo bem, tudo bem... É necessário pensar no estômago, nas tripas e nos esfíncteres dos magistrados! Mas como é que fica o Ministério da Saúde, que tem uns 300 funcionários, país a fora, só para combater a obesidade e evitar as bariátricas?
Falando em comida, acabo de registrar um diálogo fantástico ali na fila do mercado. Não, não é um daqueles grandes mercados franceses que têm alvará para roubar aqui nos trópicos. Trata-se de um desses mercadinhos de esquina que compram lá 'nos franceses' e revendem ali, pelo dobro do preço, para as donas de casa mais apressadas e abobalhadas.
Um homem de uns 70 anos que está na fila do caixa é abordado por uma senhora, também de uns 70 que, com aquele idioma sulista, lhe pergunta:
- Viu o preço das cerejas?
Não!
- Está nas alturas! O Sr não gosta de cerejas?
Gosto, mas não como.
- Por quê?
Porque sei que no século passado, lá no Pitié-Salpêtrière, operaram uma mulher que não 'conseguia ir aos pés', e lhe retiraram 247 sementes de cerejas do intestino.
- Credo! Mas não se deve engolir as sementes... Estão roubando demais! Tudo aqui está muito caro! As cerejas, os pêssegos, o Kiwí e até as bananas...
Sim, só há ladrões no mundo, minha senhora! Mesmo aqui dentro deste mercado, olhe bem para essa gente... Se você baixar a ficha corrida de cada um, ninguém pega menos do que cinco anos de cadeia... A sociedade é um rosário e uma corrente sem fim de ladrões. Uns, mais sutis, outros, mais descarados... Mas é a vida! É necessário que uns roubem dos outros se se quer sobreviver. Eu mesmo - exibindo seu cartão de crédito - só tenho este cartão porque soube e sei roubar. Se não fosse um ladrão, o Sindicato dos Ladrões, que são os bancos, nem me aceitariam como membro... Se não roubasse, como é que iria comprar estas batatas? (E conjugou em voz alta o verbo roubar): Eu roubo, Tu roubas, Ele rouba, Nós roubamos, Vós roubais, Eles roubam...
- É, mas a gente vai se virando... Um dia compro abacate, outro dia compro mamão, outro dia compro uns biscoitos, outro dia faço jejum. Sorte que na minha casa ninguém come frutas. Dizem que descascá-las é muito incômodo... É triste! Muito triste! Trabalhamos a vida inteira como escravas, e agora...! Cada dia sou obrigada a fazer mais e mais economia...
Ele se aproxima e, como quem quer colocar um fim àquela apologia da miséria, lhe diz, com ironia: É, faça economia, minha senhora! Passe a vida inteira comendo abacate, mamão e banana. As cerejas estão muito caras, não é verdade? Economize! Economize, deposite mensalmente seus trocados lá na CEF e, se for necessário, vá roendo as unhas... para que amanhã, numa bela madrugada, seus filhos, com essas tais economias, possam alugar um puteiro só para eles...
- Credo! Mas é isso mesmo! Mas é bom não vir ao mercado com tanta frequência se não se quer ter um infarto!
Sim, minha senhora, inclusive, porque a diária de uma UTI está bem mais cara do que o quilo das cerejas....
E assim, apesar dos grunhidos que lhe chegam de todos os lados, Trump vai pisando no pescoço e enrabando a todo mundo. A Colombia, a Venezuela, o Canada, o México, a Groenlândia e mesmo os petimetres europeus e o papado, com água benta e com teatro ou mesmo no seco, baixarão los pantalones ao império luterano... E agora é tarde para ficar esperneando, citando a Marx, a Bakunin, aquela beldade pornô e até mesmo a primeira frase de Tocqueville lá no II volume sobre a Democracia na América: "Je pense u'il n'y a pas das le monde civilisé, de pays oú l'on s'occupe moins de philosophie qu'aux Etats-Unis..."
Durante décadas, vinte ou trinta famílias no interior de cada um desses países periféricos, se ocuparam (por debaixo dos panos, das máscaras humanistas, da fraseologia religiosa e do culto à democracia), em negociar a honra, a dignidade, a soberania e as respectivas riquezas dessas nações, trocando toneladas de alimentos e de minérios por capinhas de celulares, chips e por ingressos para a Disney... E agora? Ora.., agora... tudo está dominado.
Cinquenta soldados do império, com dois drones, apesar dos poetas e dos trovadores, elegem e deselegem quem bem entendem aí pela América Latina... Ou não?
E não adianta agora, aquela legião de asnos que ficaram um ano inteiro assistindo em silêncio e miseravelmente ao massacre levado a cabo contra os palestinos em Gaza, ficarem tendo pruridos e achando esotericamente que o Trump é O mensageiro luterano do Mal ou culpando uma direita internacional imaginária e uma suposta Extrema Direita Templária... por essa desvirilização generalizada e por essa brusca consciência de colonizados...
"Juntos, nós construímos o exército econômico mais bem sucedido e a maior parceria de segurança que o mundo já viu, um relacionamento que foi A INVEJA do mundo..."
Justin Trudeau
(Discurso dirigido aos americanos, em função dos 25% do Trump)
O mais curioso nos discursos e nas falas desses proto-imperialistas é a referência que fazem, com frequência, à inveja. Tanto o Trump como o Trudeau, com aquela prepotência e orgulho típico dos maníacos, chamam atenção para o fato paranóide 'do mundo invejá-los'.
Somos isto e somos aquilo.., temos dinheiro.., armas.., somos a maior de todas as nações e o mundo inteiro nos inveja! blá, blá, blá...Acreditem, está lá no discurso dos dois.
Ninguém tem dúvidas de que isso torna esses governantes e essa gente ainda mais infantil, mais miserável e mais desprezível...
E que vai ficando cada dia mais evidente o que o "CRIADOR" quis resolver quando decretou aqueles 40 dias e aquelas 40 noites do dilúvio.
"Deus viu que havia feito uma grande cagada, que a terra estava cheia de babacas, de fanáticos delirantes e de Cus Sujos e decidiu 'cortar o mal pela raíz', puni-los com uma chuva copiosa e torrencial, afogar a todos. Choveu sem parar durante 40 dias e 40 noites e o mundo ficou inundado." Gênesis 6:13–9:29
Enfim, ninguém mais duvida: Noé, com meia dúzia de manés, com sua arca, sua jararaca e seus bichos (além de ser o primeiro zoófilo de que se tem noticias), foi o grande traidor e o maior de todos os reacionários... Ele que sabotou e impediu a primeira e única 'limpeza étnica' que, realmente, teria tido algum sentido...
"... O estado conjugal considera-se santo, porque tem mártires tão numerosos..."
Fiigende Blaïter
1. Inflação: autoridades baianas informam que o preço da passagem para o Elevador Lacerda (lá na cidade de Gregório de Matos, da Cidade baixa para a Cidade alta), passará de R$ 0,25, para 1,00 real. E que isso abalará a economia das famílias...
2. A teatralidade sexual, num mundo de punheteiros: tanto lá entre os lusitanos, como aqui entre os tupiniquins, continua causando frenesi a declaração da Claudia Raia de que tem em casa uns 15 vibradores e que até os recomendou à sua filha de 12 anos...
3. O fim das ilusões: quem acompanhou a histeria e a festança que o país inteiro (adolescentes, crianças, velhos e até velhas), fizeram à chegada do Neymar (jogador de futebol), de volta para o Brasil, se tinha alguma ilusão de emancipação, de maturidade intelectual e emocional do rebanho, a perdeu absolutamente... Que vergonha, que fiasco! Que pobreza mental! Que miséria e que solidão! Quando é que recobraremos a sanidade?
4. Mancebia entre palácios e sacristias: Um dos candidatos à presidência da Câmara, antes mesmo da votação de amanhã, já se considerando vitorioso, convidou um padre (de seu estado, evidentemente), para fazer uma pajelança no Congresso Nacional. Sim, o Estado é laico, mas à nossa maneira... (se nem a mídia é laica, - movida basicamente por ex coroinhas e por noviças, à serviço do clero - imaginem a política...)
5. Acidente aéreo em Washington & misoginia - Internacionalmente e além de Trump, se começa a cochichar que quem pilotava o helicóptero era uma mulher 'trans'... (e kamikaze).
6. Asteróide 2024 YRA:dizem, os entendidos, que um asteróide, quase do tamanho do Piauí, está circulando próximo da terra... E que tem chance de, de uma hora para outra, cair aí nos fundos de nossos puteiros ou de nossos quintais... mas só lá por 2032... Sim, é uma esperança... mas até lá...