quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Da pomba do dilúvio e das reflexões de Mencken...






Nesta quarta-feira, com sol entre nuvens, uma pomba com um cisco de Buriti no bico, (como aquela que anunciou o fim do dilúvio), pousou em minha varanda e ficou me olhando com aqueles dois olhinhos vermelhos de traíra e de infidelidade. Quando percebeu que retirei a espingarda de trás da porta, voou em disparada. Mesmo assim, disparei três vezes em sua direção...

E por falar em dilúvio, logo em seguida ouvi os cacarejos de um religioso (não sei de que facção) que fazia sua pregação na portaria de uma casa vizinha. Ouvi uns trechos daquela baboseira e, instantaneamente, resgatei uns fragmentos da obra de Mencken, sobre a origem, a "formação" e a patologia espiritual dessa gente:

"Qualquer matuto que saiba ler, se inflamado pelo Espírito Santo, é declarado apto a sair pregando. Mas eles não são mandados antes para um treinamento numa universidade? Sim, mas que universidade! Aquela lá no fundo de um vale, com seu único edifício rodeado de pastagens, e com um corpo docente formado por pedagogos semi-idiotas e pregadores gagás. Tais homens, numa universidade destas, ensinam oratória, história antiga, aritmética e a exegese do Velho Testamento. O aspirante sai da estrebaria e volta à cidade em um ano ou dois. Sua bagagem de conhecimentos é a mesma de um chofer de ônibus ou de um ator de circo. Mas ele aprendeu os clichês da profissão, comprou um terno preto para os domingos, escapou do batente enfrentado por seus ancestrais e agora jorra luz e aprendizado para os trouxas como se fosse um chafariz... (...) não há, na realidade, nada sobre opiniões religiosas que as autorize a mais respeito que quaisquer outras opiniões. Ao contrário, elas tendem a ser ostensivamente cretinas. Se duvida, peça a qualquer devoto de suas relações para pôr por escrito aquilo em que ele realmente acredita, e veja o que sairá: "Eu, José da Silva, sob juramento, acredito que, ao morrer, me tornarei um vertebrado sem substância, desprovido de peso, altura ou massa, mas conservando todos os poderes intelectuais e sensações corpóreas de um mamífero comum; e que, pelo crime e pecado de ter beijado minha cunhada às escondidas, com má intenção, serei cozido em ácido sulfúrico durante um bilhão de anos". Outro exemplo: "Eu, Maria da Silva, carregando o medo do inferno, afirmo e declaro solenemente que foi uma atitude certa, justa, legal e decente por parte de Deus, ao ver algumas criancinhas do santuário rindo da careca de Eliseu, mandar vir uma ursa da floresta e instruí-la, incitá-la e comandá-la para estraçalhar 42 delas". Ou: "Eu, d. Fulano de Tal, bispo da paróquia de ..., declaro pela minha honra como homem e como religioso acreditar que Jonas engoliu a baleia", ou vice-versa, se for o caso.."






Um comentário: